O controle férreo da China sobre o yuan onshore está levando a um efeito colateral inesperado. Em um possível obstáculo para os exportadores, o yuan subiu para o nível mais forte desde outubro de 2022 em relação a uma cesta de taxas de câmbio de parceiros comerciais, de acordo com um rastreador da Bloomberg do índice CFETS.
O desempenho superior ocorreu quando o Banco Popular da China (PBOC) buscava manter um piso para o yuan onshore em 7,3 por dólar desde dezembro. Ainda assim, o yuan rompeu esse nível na sexta-feira (3), enfraquecendo para até 7,3174.
Embora a defesa ativa do yuan pela China possa suportar seus ativos, ela torna os produtos chineses mais caros em um momento em que o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, ameaça impor mais tarifas. Tentar manter artificialmente a estabilidade do mercado também pode levar a saltos de volatilidade e corroer a eficácia das políticas monetárias de flexibilização.
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“Uma das formas pelas quais a flexibilização monetária funciona é por meio de uma taxa de câmbio mais fraca”, disse Alvin T. Tan, chefe de estratégia cambial do Royal Bank of Canada, em Cingapura. “Portanto, se a taxa de câmbio está subindo, isso significa uma flexibilização menos eficaz da política monetária, o que complica os esforços da China para melhorar sua perspectiva econômica.”
O controle constante do PBOC ajudou a reduzir a volatilidade histórica de duas semanas do yuan onshore para cerca de 0,6% esta semana, o menor nível desde julho. No entanto, isso pode mascarar problemas futuros. “Haverá um pico de volatilidade assim que o nível for quebrado”, disse Mingze Wu, operador de câmbio na StoneX Financial.
O yuan permanece sob pressão devido às incertezas sobre o caminho das taxas de juros do Federal Reserve, a política tarifária de Trump e os riscos persistentes da economia chinesa, acrescentou Wu.
Uma queda no rendimento de referência da China também levou a um grande desconto em relação aos Estados Unidos, contribuindo para a pressão sobre o yuan.
‘Fixing’
O Banco Popular da China recorreu ao chamado “fixing” — que limita as negociações onhsore a uma faixa de 2% para cima ou para baixo — em 7,1878 por dólar na sexta-feira, mais forte do que o previsto por uma pesquisa da Bloomberg. Bancos estatais também têm vendido dólares ocasionalmente para evitar a desvalorização do yuan.
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A determinação das autoridades em manter a linha vermelha da moeda logo enfrentará testes, depois que Trump retornar ao cargo de presidente e trabalhar em sua promessa de aumentar as tarifas sobre produtos chineses para 60%.
A percepção do mercado até agora é menos do que otimista. As ações chinesas registraram o pior início de ano em quase uma década, enquanto os títulos do governo tiveram alta.
O PBOC pode afrouxar seu controle sobre o fixing se o dólar continuar subindo ou se houver mais clareza sobre os planos de política comercial de Trump, de acordo com Tan. “Acredito que a fraqueza econômica resultante deveria levar o PBOC a permitir mais depreciação do câmbio”, disse ele.