“Isso faz com que qualquer pessoa possa ter uma conta no exterior seja para viajar ou acessar produtos de investimentos internacionais”, afirma Luciana Ikedo, assessora de investimentos e sócia no escritório RV4 Investimentos.
Na prática, ao abrir esse tipo de conta, o consumidor tem acesso a uma conta global que passa a valer em diferentes países. Para usá-la, é preciso transferir uma quantia em dinheiro que será convertida em dólar. Algumas instituições oferecem a possibilidade de transformar o valor em euros e até em outras moedas menos tradicionais.
Além da conta corrente para transferir e receber remessas, as empresas oferecem cartão de débito para compras e saques no exterior – sem custos e anuidades – que costumam ser aceitos em mais de 150 países.
Algumas plataformas também permitem o investimento em produtos de investimentos no exterior, como ETFs (fundos que acompanham algum índice de referência) e ações negociadas na bolsa dos Estados Unidos.
Para entender melhor o funcionamento da modalidade no mercado, o Investnews comparou as taxas e os serviços oferecidos pela Global Account do Inter, BS2, Avenue, Wise, Nomad e C6 aos brasileiros. Veja mais abaixo.
Taxa mais barata, será que existe?
Taxa fixa
Saber qual o banco oferece os menores custos nas operações de câmbio não é tão simples. Isso porque existem diversas taxas envolvidas.
O tributo obrigatório – ou seja, aquilo que todo cliente precisa pagar independente da instituição escolhida – é o Imposto sobre operações financeiras (IOF). É cobrada uma taxa de 1,10% na transferência do dinheiro ou em compras. Se o recurso for direcionado para investimentos ou se o cliente tiver remessas para receber do exterior, o tributo cai para 0,38%.
Luciana Ikedo lembra que a alíquota de imposto é descontada assim que há a conversão dos valores.
Conta internacional x cartão de crédito
A conta no exterior vem caindo no gosto dos viajantes internacionais em comparação a outras modalidades de pagamento como o cartão de crédito convencional.
“Para quem viaja com frequência, a melhor opção é abrir uma conta em moeda estrangeira e usar o cartão vinculado a este conta para realizar compras no exterior. Isso porque, quando pensamos no cartão de crédito, temos uma taxa de IOF mais elevada que é de 5,38%.”, diz Marlon Glaciano, especialista em finanças e planejador financeiro.
Além disso, na hora da conversão dos valores, é levado em conta o dólar turismo, enquanto as contas internacionais acompanham o dólar comercial, que é mais barato.
Simulação da Global Account Inter mostra que para obter US$ 1.000 na conta internacional é necessário desembolsar R$ 5.339,30. Para gastar a mesma quantia em dólar no cartão de crédito, o valor salta para R$ 5.885,03 – diferença de R$ 545.
Outro benefício é que algumas contas internacionais são protegidas pela Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC), similar ao nosso FGC, e que ressarce os clientes em caso de quebra da instituição financeira, mas é necessário identificar se a instituição escolhida é de fato um banco.
Spread ou taxa de serviço
Se a taxa de IOF é sempre a mesma, outros custos podem variar entre as instituições, como é o caso do spread ou taxa de serviço (que é o valor que remunera as empresas que oferecem as contas internacionais).
Entre as instituições analisadas, Avenue e a Wise informam que não cobram spread. Entretanto, o consumidor precisa ficar de olho. A Wise, por exemplo, cobra uma taxa de conversão, que é variável de acordo com a moeda de destino e a quantia de dinheiro convertido. Se a conversão for de real para dólar, a taxa é de 1%.
Já a Global Account do Inter tem taxa de 0,99% por operação, enquanto os maiores spreads (de 2%) são cobrados pelo C6 e pelo BS2 Go.
A especialista Luciana Ikedo, alerta que “não há almoço grátis”. Sempre que possível o ideal é comparar o VET (valor efetivo total) cobrado por essas instituições. “Ele mostra quanto efetivamente vai custar cada dólar considerando todas as taxas inclusas”, explica. A taxa combina o câmbio, o IOF e a taxa de serviço cobrada pela empresa.
Entretanto, a Wise e Nomad são as únicas que disponibilizam o VET em tempo real em seus sites. Para saber o valor efetivo total cobrado pelas demais instituições, o consumidor precisa efetivamente abrir uma conta internacional, o que dificulta o processo de comparação.
Confira abaixo os valores obtidos pela reportagem:
Instituição | VET (valor efetivo total) para cada US$ 1* |
C6 | Não informado |
BS2 | Não informado |
Inter | R$ 4,98 |
Wise | R$ 4,99 |
Nomad | R$ 5,03 |
Avenue | R$ 4,97 |
*Valor se refere à cotação do dia 09 de junho de 2023 | |
**O VET da Wise foi simulado por meio do site da instituição | |
***O VET de Inter, Avenue e Nomad foram simulados por meio dos aplicativos das empresas |
Abertura de conta e manutenção
Outras taxas que podem variar entre as instituições são: abertura de conta e manutenção. Dentre as empresas analisadas, nenhuma cobra taxa de manutenção. Já a abertura de conta tem custo de US$ 10 no C6, mas dependendo do relacionamento com a instituição, a taxa é isenta. No caso do cartão de débito, não há cobrança de anuidade, algumas cobram valor de emissão.
Investindo no exterior
As plataformas de Avenue, Nomad, C6 e Inter oferecem a possibilidade de comprar ETFs e ações na bolsa dos Estados Unidos, por exemplo.
Para quem está planejando uma viagem e vai abrir uma conta global, Luciana Ikedo indica buscar algum de investimento de baixo risco no exterior. “Se vai viajar daqui a um ano, o investidor pode buscar um título de renda fixa americano (bonds), por exemplo, de curto prazo que case com a data da viagem. É uma possibilidade de remunerar seu capital nesse tempo”, diz.
Mas a especialista alerta que, apesar de ser considerada a moeda mais segura do mundo, o dólar pode sofrer fortes variações. “Não é indicado alocar o dinheiro da reserva de emergência ou com data certa para usar, como pagar as chaves de um apartamento, na modalidade”, explica.
Análise dos sites
Os sites Wise e da Nomad oferecem a possibilidade de simular o VET de uma remessa sem a necessidade de abertura de conta. O C6 oferece a ferramenta de simulação, mas não informa o valor efetivo total.
Já o Inter e o BS2 trazem uma tabela fixa que compara os custos da conta em dólar à compra do papel moeda; cartão de crédito e pré-pago, mas não disponibilizam calculadora. A Avenue também não oferece ferramentas de cálculos.
Em contrapartida, todas informam custos de abertura e manutenção de contas, spread, IOF e saques, mas que nem sempre são encontrados com facilidade.
Análise de cadastro dos aplicativos
Nomad
Na plataforma da Nomad, o cliente consegue fazer um cadastro inicial a partir do fornecimento de dados como nome e CPF. Nesta primeira etapa, já é possível simular o valor que deseja converter e os custos envolvidos. Caso for depositar ou transferir efetivamente algum dinheiro, é necessário concluir o cadastro.
BS2
No aplicativo do BS2, o usuário precisa enviar documentos para o cadastro e são solicitadas informações detalhadas para abertura de conta, como nome e CPF do cônjuge. A análise do cadastro é feita em um dia útil (para o Investnews foi solicitado o reenvio do documento para abertura de conta).
Inter
O consumidor que acessar o aplicativo do Inter Global e selecionar o Brasil como país de origem é levado à página do Super App Inter. Isso porque, para abrir uma conta em dólar, é necessário ser cliente do Inter.
C6
Para ter acesso a conta internacional, o usuário precisa ser cliente da instituição financeira no Brasil.
Avenue
Já o aplicativo da Avenue apresentou erros em todas as tentativas de início de cadastro.