Dos 13% que o dólar subiu neste ano, 9% foram nos últimos dois meses, período em que a moeda americana saiu de R$ 5,18 para os R$ 5,47 desta quarta-feira de Copom.
Basicamente ninguém espera algo diferente de uma decisão unânime do Comitê de Política Monetária a favor da manutenção da Selic em 10,5%. Mas a retomada dos ataques de Lula contra Roberto Campos Neto deixam dúvidas sérias sobre o futuro do BC – um Banco Central mais leniente com a inflação, como Lula deseja, seria trágico.
Mais sobre o contexto geral adiante. O ponto aqui é: até onde o dólar pode chegar? Para entender direito, temos de olhar para a história recente.
O pior momento do câmbio na história do real foi em outubro de 2002 – logo após a eleição de Lula para seu primeiro mandato. Em valores nominais, o dólar foi R$ 3,85. Mas valores nominais, que não levam em conta a inflação, não dizem nada.
Para ter uma medida, é preciso colocar ali a inflação do real no período e descontar a do dólar. Fazendo essa atualização, temos que o dólar chegou a exatamente R$ 8,00 de hoje naquele momento. Trata-se de um termômetro para entender o que pode acontecer com o dólar numa situação de desconfiança extrema.
Outro caso fora da curva, mais recente, foi o da pandemia. Em junho de 2020, o dólar bateu em R$ 6,39 de hoje (bem mais do que R$ 5,82 em valores da época dão a entender, para quem olha daqui de 2024).
O outro lado. No início do real, quando o câmbio era controlado com mão de ferro pelo BC, a moeda americana caiu a R$ 0,83 (fevereiro de 1995), menor valor nominal da história da nossa moeda (em dados para final de mês, que estamos usando aqui). Dá R$ 2,68 em dinheiro atual.
Curiosidade: essa não foi a menor cotação da história em termos reais, que levam em conta a inflação. Essa veio em agosto de 2011, quando o nominal estava em R$ 1,57. Como faz bem menos tempo, o valor real não muda tanto quanto aquele de 1995. Dá R$ 2,33 de hoje.
De volta para o futuro agora.
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Ladeira abaixo
A disparada maior do dólar começou em abril, quando a Fazenda mudou a meta de superávit fiscal que tinha para 2025 – de 0,5% do PIB para 0%. Um movimento que deixou claro o desgoverno em relação às contas públicas.
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Mais tarde, pesaria negativamente o reajuste do salário mínimo – ao qual várias outras despesas públicas do governo. E também o caso da Medida Provisória que restringiria o ressarcimento de créditos presumidos de PIS e Cofins – que tem forte impacto obre a vida de grandes empresas, e acabou devolvida pelo Congresso. O movimento deixou o governo sem plano B para ampliar a arrecadação, num cenário de gastos crescentes.
Nesse cenário
Como diria Professor Raimundo: “E o real, ó”.
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