Não é só no Brasil. Todas as principais moedas do mundo apanharam do dólar nesta sexta-feira:
- Real: -1,40%
- Peso mexicano: -1,12%
- Euro: -0,40%
- Peso colombiano: -0,38%
- Dólar australiano: -0,30%
Por aqui o dólar fechou a sessão com com alta de 1,3% a R$ 5,868, no maior nível desde maio de 2020.
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O que explica esse movimento é a proximidade da eleição americana, que acontece na terça-feira. E o crescimento das chances de Donald Trump ser o vencedor. E, mais que isso, de haver também uma vitória republicana no Senado – o que certamente ajudaria o ex-presidente, se eleito, a aprovar as medidas que vem defendendo. São elas:
- Corte de impostos – pode ser um estímulo para o consumo e consequentemente, a inflação; além disso, a medida pode levar a uma queda de arrecadação e maior pressão sobre o endividamento;
- Desregulamentação da economia – estratégia que vai ao encontro dos interesses de alguns setores econômicos, especialmente o de tecnologia, e que pode destravar negócios e contribuir para a aceleração econômica;
- Política tarifária mais agressiva – ao restringir importações, a concorrência em muitos setores tende a diminuir e, como consequência, os preços sobem;
- Restrições imigratórias – menos imigrantes pode significar menos mão de obra e, consequentemente, ter efeitos sobre salários em alguns segmentos da economia.
Tudo isso junto significaria um aumento grande do protecionismo nos Estados Unidos e, consequentemente, mais inflação, mais juros. E isso transbordaria para o mundo todo.
Com o crescente risco desse cenário se concretizar, segundo as pesquisas eleitorais, o investidor busca formas de proteção, explica Adauto Lima, economista-chefe da Western Asset. E comprar dólar faz sentido, porque uma economia americana mais forte, como quer Trump, tende a valorizar a moeda do país.
O mercado se protegeu para entrar no período eleitoral, porque entende que o cenário Trump pode trazer mudanças significativas de política
Adauto lima
O curioso é que esse efeito vai na contramão do que Trump deseja. “Trump está preocupado em proteger o comércio exterior, e esse dólar forte pode atrapalhar a própria estratégia do republicano”, observa Lima.
Não é só o dólar que reage a esse risco. Os juros futuros de longo prazo dispararam no mundo todo. No Brasil, os contratos negociados na B3, com vencimentos a partir de 2025 superaram a casa dos 13%, refletindo o receio de que, com uma vitória de Trump, o mundo volte a conviver com inflação e juros mais altos.
Mas é claro que esse efeito contágio afeta com mais força quem está mais vulnerável. E esse é, sem dúvida, o caso do Brasil. Aqui, os mercados vêm reagindo à falta de confiança na política fiscal. E isso explica um desempenho pior dos ativos locais em relação ao resto do mundo. “Nós já estávamos em um nível pior do que outros mercados emergentes, e acabamos sofrendo mais com esse ambiente externo negativo”, define.
Para tentar entender o quanto desse movimento do câmbio é efeito doméstico e o que vem de fora, Lima comparou o desempenho do real a alguns grupos de moeda. Se o real tivesse variado em linha com a média do grupo de divisas da América Latina, a cotação do dólar hoje estaria em R$ 5,53, observa. Se a moeda brasileira tivesse acompanhado o desempenho médio do grupo de moedas emergentes, o real estaria em R$ 5,23. Mas se tivesse evoluído de acordo com o grupo de moedas ligadas a países produtores de commodities, então o dólar valeira R$ 5,10.
O desempenho pior do real ficou mais evidente entre abril e maio, quando o governo alterou a meta fiscal para 2025 – de superávit primário de 0,5% do PIB para déficit zero – e também houve uma decisão sobre o corte de juros com placar dividido dentro do Copom, o que foi entendido como um risco de ingerência política no Banco Central. Na ocasião, o BC cortou a Selic em 0,25 ponto, mas quatro diretores indicador pelo governo Lula votaram em corte maior, de 0,5 ponto.
Existe um movimento global de aversão ao risco, o que está afetando dólar e juros. Mas uma boa parte desse nível alto do dólar é culpa nossa.
Adauto lima
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