A economia brasileira encolheu 9,7% no segundo trimestre de 2020, segundo dados do IBGE divulgados nesta terça-feira (1). Esta foi a maior queda trimestral do PIB desde 1996. Embora os economistas ouvidos pelo InvestNews reconheçam que o resultado é a fotografia do pior momento da crise, a conclusão para os próximos anos é a mesma: década perdida para o Brasil.
Para Reginaldo Nogueira, economista e diretor-geral do Ibmec/SP, a década já é perdida para a economia e o Brasil. “Retomamos o crescimento em 2021, mas o PIB só se equipara ao que era em 2013 por volta de 2024”, afirma. Ele acredita que a recuperação lenta do país conquistada ao longo de 2017 e 2018 ficou para trás.
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Segundo Nogueira, a partir de 2021, o Brasil deve engatinhar na recuperação. Para isso ocorrer, ele aponta que serão necessárias mais reformas, privatizações e um rígido controle dos gastos públicos nos próximos anos. “O Brasil precisa enxergar 2020 como um gasto atípico, mas em hipótese alguma permitir que esta situação aumente os gastos em 2021“. Um exemplo disso é o pagamento do auxílio emergencial, medida importante nesse ano, mas que ele avalia não pode ser permanente. “O déficit de gastos não deve ser flexibilizado em 2021”.
Para Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, o país entrou em um ciclo econômico muito ruim nos últimos anos, com a recessão brasileira do governo Dilma e agora uma nova recessão causada pela pandemia. “Não houve aprendizado. Insistimos nos mesmos erros que há três anos“, defende.
Mesmo diante da perspectiva de que a economia deve trazer indicadores melhores até o final de 2020, o economista enxerga um cenário muito nebuloso para o crescimento do PIB nos próximos anos. “A estabilidade macroeconômica não está garantida, a parte fiscal ainda é muito ruim. A unica coisa que salva o Brasil é a parte monetária, com inflação e juros baixos“, defende.
Segundo Vale, a retomada está longe de acontecer e não é o governo Bolsonaro que vai liderar a recuperação econômica. “O governo não deu sinais concretos de que possa lidar com isso. Não é este governo que vai botar a economia no lugar”, afirma.
Fotografia do caos
A queda de 9,7% no segundo trimestre de 2020 foi a maior retração trimestral do PIB desde o início da série histórica do IBGE, em 1996. Até então, a mais intensa havia ocorrido no 4º trimestre de 2008, quando a economia encolheu 3,9%.
Para Nogueira, o resultado já era esperado pelo mercado, especialmente porque os impactos da pandemia foram sentidos com força nos meses de abril a junho. “O PIB do 2º trimestre é a fotografia do pior momento da pandemia”, afirma.
Em relação à média da queda trimestral dos países membros da OCDE, que foi de 9,8%, Nogueira não encontra muita disparidade com outros países. Para o economista, os indicadores do terceiro trimestre devem trazer uma leve recuperação.
Vale afirma que o resultado do segundo trimestre veio muito melhor que o esperado inicialmente. O mercado chegou a apostar em uma queda entre 15% e 20% no PIB.
“A quarentena foi mais fraca, não houve nenhum lockdown e o agronegócio e a mineração ajudaram bastante”, analisa. Para o economista da MB Associados, outro fator que auxiliou a recuperação foi o auxílio emergencial, que salvou o Brasil de entregar um resultado pior. Para 2020, ele espera uma queda do PIB de 4,8%.
Perspectiva para o 3° trimestre
A queda do PIB neste trimestre foi puxada pelos setores de indústria e serviços. Pelo lado da oferta, a indústria recuou 12,3%, com forte impacto na indústria de transformação (-17,5%) e construção (-5,7%). E os serviços encolheram 9,7% com foco em transporte (-19,3%) e comércio (-13%). O que salvou foi o agronegócio, que subiu 0,4% com a produção de soja e café.
Vale avalia que estes setores devem entregar resultados melhores no terceiro trimestre, especialmente porque o isolamento quase acabou. “Em comparação com 2019, o lado da oferta ainda sofre quedas, mas no terceiro trimestre a alta será forte”, diz. Para o economista, os setores com maior crescimento em 2020 serão o agronegócio, com expectativa de alta de 1,9% até o final do ano, e a extração mineral, que deve avançar 5,3% segundo projeções da MB Associados. Todos eles puxados pela demanda chinesa.
Ele também está otimista com o setor imobiliário e o de intermediação financeira, que devem trazer gratas surpresas. Para a indústria, serviços e consumo das famílias, ele enxerga uma recuperação menor.
Nogueira, do Ibmec, acredita que o agronegócio deve trazer bons resultados para os próximos trimestres, mas afirma que isso não será suficiente para garantir a recuperação econômica do Brasil. Para ele, a saída é a retomada dos serviços, que representa dois terços do PIB, e que vai depender de uma flexibilização econômica consciente.