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Economia

Eleições 2024: Qual é o recado do 2º turno para o seu bolso?

Vitória de Ricardo Nunes (MDB) fortalece planos de Tarcísio de Freitas em 2026

Homem se equilibrando em um gráfico com elementos que remetem a economia.
Arte: Daniela Arbex

As urnas deram, no segundo turno das eleições municipais de 2024, um recado: a direita se agigantou. E sua força será testada em 2026 quando será a vez de escolher o próximo presidente do Brasil.

A vitória de Ricardo Nunes (MDB) sobre Guilherme Boulos (PSOL) nas urnas deste domingo (27) é o emblema desta onda que já havia mostrado sinais de seu tamanho no 1º turno.

O “Centrão”, bloco de partidos que pendem mais para a direita do que para a esquerda, vai gerir mais da metade das prefeituras do país a partir de 2025.

Ricardo Nunes não só ganhou a chance de comandar São Paulo, a maior cidade da América Latina, por mais quatro anos. Sua vitória é o termômetro para a articulação que busca catapultar Tarcísio de Freitas (Republicanos) como o representante da direita na próxima disputa presidencial, já que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) encontra-se inelegível.

O governador de São Paulo foi o maior cabo eleitoral de Nunes — Bolsonaro pouco apareceu na campanha do prefeito reeleito. Tarcísio não se incomodou com as peripécias de Pablo Marçal (PRTB) no primeiro turno (que dividiu a direita nesta eleição) e soube construir uma narrativa de que o paulistano, sobretudo, das periferias sairia ganhando com a dobradinha “Nunes-Tarcísio”.

“Com a reeleição do Nunes, a direita tem mais apoio e dá força ao Tarcísio para 2026. Se o PT quiser continuar [no poder] terá de fazer uma correção de rota”, enfatiza Roberto Troster, economista do Instituto de Inteligência Econômica.

LEIA MAIS: Veja todos os prefeitos eleitos nas capitais do país

Tarcísio personifica o que a nova direita no país quer ser: mais pragmática e menos populista. E as implicações disso não são só políticas. Todos os olhos estão voltados para o que esse jeito de governar reflete na economia.

“Nunes e Tarcísio têm visão meritocrática e empreendedora. Eles defendem a privatização e a flexibilização trabalhista”, diz Pedro Fassoni Arruda, cientista político e docente da PUC-SP.

Ao longo de sua campanha, Nunes mostrou ser o candidato da “economia liberal”, que elimina impostos, “caça” a indústria da multa e atrai empresas. Tarcísio já cumpriu uma promessa de seu governo: privatizou a Sabesp, a companhia paulista de saneamento.

Na cidade de São Paulo, Nunes tem relação direta com representantes do setor imobiliário na Câmara Municipal. Estes são mais flexíveis em discussões ligadas ao Plano Diretor (mecanismo que estrutura o desenvolvimento da cidade) e à Lei de Zoneamento (que normatiza quais atividades podem ser realizadas em determinada região da cidade).

Tarcísio tem apoio declarado de setores do empresariado, da construção civil e da Fiesp (entidade que representa a indústria paulista), só para citar alguns. “Se por um lado a esquerda conta com o apoio dos sindicatos, a direita tem a chancela dessas entidades”, resume Arruda.

Saber o que pensam os governantes é fundamental para entender o que será priorizado nos investimentos públicos em suas gestões. A cidade de São Paulo, por exemplo, terá o maior orçamento de sua história em 2025: quase R$ 120 bilhões.

E problemas não faltam. A população de rua mapeada já beira 80 mil, crianças que estão nos anos iniciais da educação básica têm déficit na aprendizagem e a fila para consultas e exames só cresce.

Questões nacionais

Se a cidade de São Paulo tem o status de “país”, faltaram a Nunes e Boulos entradas nos debates que envolvem questões mais nacionais, como o patamar atual da Selic, a taxa básica de juros da economia brasileira, opinam os analistas.

“O tamanho da taxa de juros, ainda muito elevada, prejudica os negócios, o comércio e os investimentos de São Paulo e do país. Isso poderia ter sido debatido pelos candidatos”, diz Odilon Guedes Pinto Júnior, vice-presidente do Conselho Regional de Economia de São Paulo (Corecon-SP).

Para o representante do Corecon-SP, Guilherme Boulos perdeu a chance de salientar que o desemprego está em baixa, a inflação ainda se mantém na meta e o PIB (Produto Interno Bruto) cresce acima do previsto frutos do governo de seu maior aliado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Mas numa eleição municipal, os problemas mais imediatos da cidade se sobressaem, com um eleitorado mais pragmático e voto menos ideológico, lembra o cientista político Pedro Fassoni Arruda. “Se o Lula teve mais votos que Bolsonaro na capital paulista dois anos atrás, e Nunes ganhou agora, dá para entender que os eleitores do Lula votaram no Nunes”, diz o especialista.

A governabilidade e o futuro da gestão Lula, na análise do especialista da PUC-SP, dependem mais da correlação de forças no Congresso Nacional. “É mais decisiva, neste caso, a eleição para a presidência da Câmara dos Deputados”, diz.

Antes de pensar em 2026, o atual governo vai precisar do Congresso para aprovar medidas em 2025, que serão fundamentais na atração de investimentos. Há prazos para implantação de tributos (IBS e CBS); compromissos relacionados à sustentabilidade, como a lei do mercado de carbono; e a diminuição da carga tributária sobre salários.

“É um conjunto muito grande de medidas que vai depender de forte negociação entre o governo e o Congresso”, salienta Welber Barral, sócio da BMJ, consultoria de relações institucionais.

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