Em sua primeira reunião do ano e do novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva, nesta quarta-feira (1), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) define o rumo da Selic, taxa básica de juros da economia brasileira. A expectativa majoritária do mercado é que ela se mantenha no patamar de 13,75% ao ano, com expectativa para o órgão adotar um tom mais duro em relação ao risco fiscal.
“O Banco Central deve se manter vigilante ao cenário da economia do país, mas não acreditamos que o comunicado deva apontar mudanças futuras”, defende Rafael Cardoso, economista-chefe da Daycoval Asset.
Para Eduardo Mekitarian, professor de economia da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), mesmo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) tendo apresentado queda de junho a dezembro de 2022, a taxa de juros deve ser mantida porque alguns setores (como alimentação, saúde, transporte, habitação, comunicação e despesas pessoais) mostraram certa resistência na elevação de preço.
Na mesma linha, Caio Canez de Castro, sócio da GT Capital, acredita na manutenção da Selic e aponta que “apesar de um arrefecimento nos níveis de inflação, o risco com os gastos públicos segue no radar, enquanto o governo não sinaliza nenhum esforço efetivo com o compromisso fiscal”.
Para a Suno, casa de análise de investimentos, também não haverá ajustes na taxa de juros neste momento.
“O Banco Central deverá acompanhar a cada reunião a evolução do estado da economia antes de tomar qualquer decisão. Ele só irá iniciar o processo de cortes na taxa de juros quando tiver certeza de que a inflação estará em trajetória estável e em direção à meta, as expectativas ancoradas e ausência de grandes choques que o façam mudar a rota no meio do caminho”.
Suno, casa de análise de investimentos.
De olho nos sinais do Copom
Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, menciona que a maior atenção ao comunicado do Copom fica por conta do interesse do mercado sobre as preocupações e novas premissas esperadas pelo BC.
Do mesmo modo, Adriana Dupita, economista da Bloomberg Economics, aponta que a dúvida é como e se o BC reagirá, no comunicado, a eventos recentes protagonizados pelo governo. “Nossa leitura é de que o esforço de Haddad para compensar o maior gasto da PEC de Transição é um sinal de responsabilidade fiscal e de alinhamento com a política monetária — e esperamos que isso reduza, ao menos em parte, o tom negativo do BC neste tema”, diz.
Quando deve haver corte na taxa de juros?
De acordo com o Boletim Focus, divulgado nesta segunda-feira (30) pelo BC, a Selic deve encerrar 2023 em 12,50%. Desse modo, o mercado começa a estudar quando deve começar os cortes dos juros.
Para a Suno, os próximos meses serão importantes para entender a dinâmica da inflação e dos juros. “Caso as perspectivas se mantenham, a nossa expectativa é de que a autoridade monetária realize os primeiros cortes na Selic em agosto deste ano“, aponta a casa de análise de investimentos em relatório.
Por outro lado, a Daycoval Asset tem outra expectativa. “Diferente do cenário projetado anteriormente de corte de juros já a partir de agosto, nossa projeção atualizada é de que o ciclo inicie somente em setembro e em ritmo mais moderado, com 0,25 pontos percentuais base e encerrar o ano em 12,5%”, diz o economista-chefe da instituição.
Castro, da GT Capital, menciona que manter a taxa de juros real em níveis altos por muito tempo pode trazer diversas consequências, por isso acredita que “o principal desafio será entender qual o nível de redução da Selic o BC poderá chegar, sem aliviar a estratégia contracionista dedicada a inflação e sem sinalizar ao governo que poderá manter a sua dívida alta, ou seja, acelerar nos gastos públicos durante 2023″.
Para Jorge, da Quantzed, o BC tem feito um “excelente trabalho” nas decisões de juros.
“De maneira geral, a atuação do Banco Central foi e tem sido contundente e tem agradado o mercado em relação ao trabalho de controle do processo inflacionário”.
Suno, casa de análise de investimentos.
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