O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, pediu demissão do cargo, segundo informou a TV Globo nesta segunda-feira (29). A informação também foi divulgada pela agência de notícias Reuters citando fontes anônimas, mas não confirmada pelo governo oficialmente.
Araújo vem sendo pressionado desde a última semana por parlamentares para deixar o cargo, em meio a críticas à condução da política externa brasileira e seus desdobramentos diante da pandemia de covid-19.
Neste fim de semana, o ministro teve atrito com a senadora Kátia Abreu (PP-TO), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado. Nas redes sociais, ele tentou associar a pressão a um lobby em relação ao 5G.
Araújo faz parte da chamada “ala ideológica” do governo, e conta com apoio do presidente Jair Bolsonaro.
Também nesta segunda, o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, informou em nota oficial que deixará o cargo.
Críticas
Um dos principais críticos à postura de Araújo como ministro é o presidente da Câmara. A avaliação de Arthur Lira (PP-AL), que já foi dita reiteradas vezes e é repetida por outros parlamentares, é que Araújo criou obstáculos na relação com países-chave para o Brasil neste momento, como a China, a Índia e os Estados Unidos.
Defensor apaixonado de Donald Trump, o chanceler, assim como o presidente, não escondeu a torcida pelo republicano na eleição de novembro do ano passado. A vitória do democrata Joe Biden tirou a interlocução supostamente privilegiada que o Brasil tinha com Washington.
O governo brasileiro, por exemplo, tentou pedir aos EUA parte do excedente que o país tem de vacinas contra covid-19 – parte já cedida a Canadá e México -, mas a resposta foi um vago talvez.
Críticas à China, bate-boca com o embaixador do país no Brasil e ameaças de vetar equipamentos chineses no leilão de bandas 5G também dificultaram a relação com o país asiático, maior produtor de insumos farmacêuticos e suprimentos hospitalares do mundo.
Já no caso da Índia, há avaliações de que Araújo errou ao não apoiar uma proposta indiana de suspender as patentes de vacinas contra covid-19 durante a pandemia. O Brasil se associou aos EUA e a países desenvolvidos e a proposta foi derrubada.
Caiu na conta do Itamaraty o atraso na chegada de insumos para produção das vacinas pela Fundação Oswaldo Cruz e pelo Instituto Butantan, e também a decisão da Índia de atrasar a entrega de vacinas prontas, já contratadas pelo Brasil.
Araújo, no entanto, é defendido pelos filhos do presidente, especialmente pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), e pela ala bolsonarista mais radical, incluindo o assessor internacional do presidente, Filipe Martins.
Boa parte do grupo mais fiel ao presidente vê o chanceler como um exemplo da retórica contra o “comunismo internacional”, o “globalismo” e um defensor da extrema-direita.
(*com informações da Reuters)