A criação de novos empregos nos EUA está a todo vapor. O ministério do Trabalho deles divulgou a criação líquida de 256 mil vagas de emprego em dezembro (ou seja, a diferença entre as que abriram e fecharam é de 256 mil).
Trata-se do maior Payroll desde março de 2024. Fato é que o índice mais importante entre os que medem o nível de emprego por lá veio MUITO além da expectativa do mercado, que apontava para 155 mil.
O que isso importa para quem não vive nos EUA? Tudo. A discrepância mostra o seguinte: a economia americana está mais forte do que se imaginava. Economia forte cria pressão inflacionária. E expectativa de preços mais altos não é exatamente amiga de cortes nos juros; pois juros existem para combater inflação.
A resiliência dos índices de preços nos EUA já deixava poucas portas abertas para que o Fed seguisse os cortes nos juros de lá – que caíram de 5,50% em setembro até os atuais 4,50% após três tesouradas (uma de 0,50 pp mais duas de 0,25 pp). Há um mês, 70% do mercado apostava na manutenção da taxa na próxima reunião do Fomc, o “Copom” americano, que acontece no dia 29.
E agora o Payroll borbulhante jogou uma pá de cal nessa expectativa: 97% dos agentes financeiros acreditam numa pausa nos cortes.
A era dourada da renda fixa verde
A manutenção dos juros americanos num patamar ainda elevado empurra os juros da renda fixa gringa igualmente para cima. No segundo em que saiu o Payroll, a taxa do prefixado de 10 anos saltou 8 pontos base, de 4,70% para 4,78%. Bastante para um piscar de olhos.
Com os juros dos títulos americanos garantindo quase 5% a.a. até 2035, contra uma inflação projetada não muito acima de 2%, o que temos é um juro real, acima da inflação, de 3%. É bastante para dólar.
Aí fica (ainda) mais difícil para o Brasil competir. Grandes investidores tendem a sacar seus reais e trocar por dólares para aportar nos títulos do Tesouro americano. Isso aumenta a demanda por moeda americana por aqui. Resultado: o dólar sobe.
Não à toa, o dólar engatou hoje sua primeira alta após três dias de baixa e um de estabilidade: 1,00% cravado, a R$ 6,10.
Dólar mais alto = inflação por aqui, já que boa parte do que consumimos tem o preço determinado pela moeda americana (de partes de veículos ao trigo do pão e o lúpulo da cerveja).
A decolagem da moeda americana em 2024 (27%) já colaborou para que o IPCA fechasse o ano acima do teto da meta – 4,83% (contra um teto de 4,50%). Nisso, cresce a pressão para novos aumentos na Selic. Nosso juro real já está em 7,5% (Selic de 12,25% menos o IPCA de 4,83%), e o BC já cantou que deve chegar a perto de 10% (com a Selic a 14,25% no final do trimestre).
Claro: não é só o patamar dos juros dos EUA que fomenta o dólar e os juros. A desesperança fiscal é o fator que mais importa.
Mas uma coisa é fato: o impulso extra que o dólar ganhou do Payroll não ajuda em nada.