Além dos empregos perdidos, empresas fechadas e aumento do custo de vida das famílias, o Brasil também terá um impacto econômico da pandemia de mais de R$ 25 trilhões pelas vidas perdidas por covid-19. É o que aponta um estudo feito pelo economista Matheus Albergaria, professor da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap).
Na quarta-feira (23), o Brasil atingiu a marca de 507 mil pessoas que morreram por causa da doença causada pelo coronavírus. Albergaria comenta que, além do fato “extremamente lamentável de um ponto de vista social”, “as vidas perdidas também correspondem a um importante custo econômico para a sociedade, uma vez que passa a haver um número permanentemente menor de pessoas atuando como trabalhadores, investidores e consumidores na economia”.
Quanto vale uma vida?
O economista comenta que, “à primeira vista, parece muito difícil falar do valor monetário da vida em si, uma vez que algumas pessoas podem crer que a vida tem valor infinito”. “Seria difícil imaginar que qualquer pessoa estaria disposta a perder a vida em troca de uma determinada quantidade de dinheiro, por exemplo”, diz ele.
No entanto, existem cálculos que permitem atribuir um valor monetário à vida humana. Segundo Albergaria, estudos estimaram que a vida humana vale, em média, cerca de US$ 10 milhões.
A estimativa avalia “os riscos que as pessoas estão voluntariamente dispostas a se expor e o quanto elas deveriam receber para correr esses riscos. Assim, ao compararem os ganhos salariais de distintas ocupações profissionais, controlando para diferenças em termos de nível de instrução, experiência e outros possíveis determinantes dos salários, economistas chegaram a uma estimativa inicial do valor da vida”, explica Albergaria sobre o método.
Levando em conta o valor de US$ 10 milhões com valor monetário médio pela vida humana, o economista aponta que a marca de 500 mil mortes significa um impacto econômico da pandemia no Brasil de US$ 5 trilhões, ou mais de R$ 25 trilhões.
“Ou seja, olhando apenas para o número de óbitos registrados desde o início da pandemia no país – sem levar em conta as perdas econômicas decorrentes do fechamento de empresas, das perdas de postos de trabalho e do aumento do custo de vida das famílias – observamos a ocorrência de um custo econômico superior a R$ 25 trilhões ao longo de um período de um ano e meio, aproximadamente.”
Número pode ser maior
O professor cita limitações do cálculo, como não levar em conta “outros importantes custos de oportunidade das pessoas que perderam a vida no período recente”, além da possibilidade de subnotificação das mortes por covid.
“Uma possível solução seria a preparação de pesquisas adicionais que tentassem estimar o valor monetário das vidas perdidas a partir de dados mais precisos, tanto em termos de notificação do número de óbitos quanto da estrutura ocupacional dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros falecidos no período recente”, diz Albergaria.
“Outra possibilidade complementar seria a estimação conjunta das perdas econômicas ocorridas no país, tanto em termos de vidas quanto em termos de fechamento de empresas e postos de trabalho, por exemplo.”
O economista aponta que os cálculos “permitiriam uma melhor compreensão da magnitude das perdas econômicas associadas à pandemia”. “Cada vida perdida importa, e tem valor”, diz ele.
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