A “inflação de férias” acumulou deflação de 10,63% nos últimos 12 meses, influenciada pela queda de 21,13% dos preços das passagens aéreas. É o que mostra levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV IBRE), divulgado nesta segunda-feira (17).
Segundo a FGV, se retirado apenas este item da cesta, a “inflação das férias” sobe para 3,77%. No mesmo período do ano passado, essa mesma cesta acumulava 37,44% de aumento em 12 meses, enquanto a inflação geral era de 10,30%.
O estudo, que foi feito a partir de 21 produtos e serviços do Índice de Preços ao Consumidor (IPC/FGV), indicou que os preços dos principais itens relacionados ao período de inverno tiveram uma queda de 4,40%, em média, nos últimos 12 meses. Dentro da cesta de inverno, seis itens compõem a “inflação de férias”.
Motivos
De acordo com a FGV, o período de julho é a época de férias escolares e, justamente, o grupo de serviços de entretenimento e turismo foi o principal ponto de descompressão na inflação de inverno.
As passagens aéreas, que tinham visto seu preço mais do que dobrar de 2021 para 2022 (acumulado de 143,72% no período), passaram a apresentar a maior deflação da cesta.
O pesquisador do FGV IBRE, o economista Matheus Peçanha, explicou, em comunicado, que, a exemplo da maioria dos setores na economia atualmente, os custos diretos (querosene de aviação, sobretudo, que depende de petróleo e dólar) estão em franca queda desde o final do ano passado e, mesmo o fator sazonal, que tende a pressionar os preços nessa época do ano, não tem sido o suficiente para contrabalancear o choque benéfico de custos.
Peçanha acrescenta que, no entanto, a inflação dos demais serviços desse segmento refletem a situação da inflação de serviços do pós-pandemia, com pressão de demanda trazida pela retomada, que ainda persiste, embora em ritmo menos acelerado que o do ano passado.
Outros fatores
Peçanha cita ainda que o custo de se manter aquecido nesse inverno também está desacelerando, seja com bebidas quentes, que tiveram ligeira deflação, ou banhos quentes, com o ritmo de aumento do gás encanado freando significativamente em relação ao ano passado.
Pelo lado dos produtos, o levantamento aponta que a cesta de itens têxteis teve um aumento médio de 7,30%, enquanto os medicamentos subiram em média 6,71%, ambos demonstrando desaceleração em relação ao ano passado.
Para Peçanha, os números dessa cesta de inverno são reflexo genuíno do processo desinflacionário que a economia brasileira vem experimentando.
“Os custos de diversas matérias-primas têm caído consistentemente mês após mês, desde o final do ano passado. Esse processo de repasse para o consumidor final até demorou para engrenar, mas acabou acontecendo especialmente a partir do segundo trimestre, e a tendência é que esse processo se aprofunde ao longo do ano”.
Matheus Peçanha, pesquisador do FGV IBRE
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