Na Argentina, quase 40% da população vive abaixo da linha da pobreza e a inflação nos últimos 12 meses bateu 104% em março. Em Buenos Aires, Jorge Pedro Armoa, de 67 anos, tem três trabalhos diferentes para enfrentar a situação: metalúrgico, técnico de futebol e vendedor. “Os salários são muito baixos, as coisas são muito caras. Então às vezes não dá”, diz.
O principal vilão do bolso dos argentinos é o descontrole da inflação. Dados divulgados nesta sexta-feira (14) pelo Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec) da Argentina apontam que a inflação acumulou alta de 21,7% no primeiro trimestre de 2023, passando a taxa de 12 meses para 104,3%.
Martín González Rozada, economista e professor de econometria da Universidad Di Tella, aponta que, “em termos de aumento da renda dos trabalhadores, essa renda aumentou menos que a inflação da cesta básica total”.
Segundo dados do Indec, o preço dos alimentos e bebidas não alcoólicas mais que dobrou em um ano, com alta de 106% no acumulado de 12 meses até março. Gastos com equipamentos e manutenção em casa também pesam no bolso do consumidor, com alta de 105% no mesmo período.
Nesse cenário, cada ida ao supermercado é um desafio para o aposentado Juan Tártara. “As coisas vão aumentando semanalmente, numa proporção às vezes em alimentação de 10 ou 15%”, afirma.
Além da dificuldade de grande parte da população para manter suas necessidades básicas, os argentinos enfrentam ainda as barreiras para fazer alguma poupança. “No meu caso, por exemplo, capacidade de poupança zero“, diz a funcionária de comércio Claudia Hernansaez. “É terrível, a inflação que se vive hoje na Argentina é terrível. Nunca vi”, acrescentou.
Falta de dólares
Um dos principais problemas enfrentados pela Argentina é a falta de dólares no país, que tem sua dívida em moeda estrangeira em níveis cada vez mais preocupantes, enquanto as reservas internacionais seguem caindo.
No dia 24 de março, a agência internacional de classificação de risco Fitch Ratings rebaixou o rating da dívida soberana em moeda estrangeira da Argentina para “C”, de “CCC-“, dizendo que um calote da dívida é iminente.
A decisão foi consequência de um “decreto que obriga entidades do setor público nacional a realizar operações com as suas carteiras em títulos de dívida soberana, o que implicaria trocas unilaterais e conversão forçada de moeda que constituem eventos de incumprimento, segundo os critérios da Fitch”.
O governo argentino publicou decretos obrigando os órgãos públicos a trocar dívidas em dólares por outras em pesos.
Além da desconfiança do mercado financeiro dificultar a entrada de dólares na Argentina, o país, um dos maiores exportadores mundiais de grãos, também lida com uma das piores secas de sua história, que destruiu a safra de soja, milho e trigo, com perdas de dezenas de bilhões de dólares para sua economia.
(* com informações da Reuters)
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