Apesar do crescimento contínuo e robusto dos gastos dos americanos, as percepções dos consumidores dos EUA sobre suas finanças parecem ter se deteriorado ao longo de 2022 e 2023. Segundo análise do Bank Of America (BofA), as famílias têm convivido com a alta da inflação, o que impacta nos custos de empréstimos e consequentemente, em menores depósitos na poupança ou contas correntes.

O Federal Reserve (Fed) elevou a sua taxa básica de juros de quase zero em março de 2022 para 5,25% – 5,50% atualmente, para combater a inflação mais forte desde a década de 1980.

A taxa de juros sobre o empréstimo imobiliário mais popular dos Estados Unidos atingiu em em meados de agosto o nível mais alto desde dezembro de 2000, ajudando a levar os pedidos de hipotecas ao menor patamar em 28 anos, segundo a Mortgage Bankers Association. A taxa média de contrato da hipoteca de taxa fixa de 30 anos subiu 15 pontos-base, para 7,31%, na semana encerrada em 18 de agosto.

Os dados da maior economia do mundo refletem o sentimento de parte dos americanos, segundo uma pesquisa do Centro de Política Bipartidária (BPC). Pelo menos um terço dos entrevistados relataram estar “piorando” financeiramente, em comparação com 25% que relataram estar em melhor situação. No entanto, a maioria das pessoas relataram estar economizando menos nos últimos 12 meses.

Vista baixa de pessoas caminhando em frente ao Capitólio dos EUA. Homem em cáqui no primeiro plano.
Capitólio dos Estados Unidos, Washington
24/5/2023 REUTERS/Jonathan Ernst

E uma das principais razões pelas quais as pessoas encontram as suas finanças sob pressão é o impacto que a inflação em alta vem causando. A queda no poder de compra e a percepção de que uma determinada quantia de dólares já não compra mais o que se comprava antes parece estar pesando sobre os americanos.

As taxas de juros também afetaram os custos de financiamento de algumas famílias, levando aos analistas do BofA a verem que faz sentido a queda de depósitos entre contas correntes e poupanças dos americanos. Ainda assim, o destaque é que as famílias estão em melhor situação do que a vista na pandemia. Em julho de 2023, em todas as faixas de renda, a mediana da conta corrente e poupança foi 54% superior à média de 2019.

Mas por qual motivo então as pessoas não sentem que estão em uma situação financeira melhor? Uma resposta é que os níveis de poupanças e depósitos diminuíram desde o seu pico no primeiro semestre de 2021. E apesar de os grupos de rendimentos baixos e médios registrarem um maior aumento percentual nos seus recebimentos em relação ao período pré-pandemia, houve um maior declínio nos saldos das contas bancárias desde então, de acordo com os dados de depósitos do BofA. Apesar dos maiores ganhos, aumentaram-se os gastos devido a alta nos preços.

Segundo analistas, o que as pessoas consideram ser o montante adequado nestes “saldos” também depende, a médio prazo, de quanto elas gastam.

“À medida que as pessoas ganham e gastam mais, é provável que queiram ter saldos de poupança mais elevados, tanto para cobrir “dias chuvosos”, contingências, como apoiar os seus padrões de vida”.

trecho de relatório do Bofa

Ainda assim, o banco americano estima que entre depósitos e rendimentos dos americanos referente ao segundo trimestre de 2023, há pelo menos 9,8 pontos percentuais acima da média de 2019 e cerca de 11,5 pontos percentuais superior à média de 2010 até 2019.

Ainda de acordo com dados do Bank of America, em todas as faixas de renda, o gasto total com cartão de crédito vem sendo crescente – o que é mais um alerta sobre o peso da inflação no consumo dos americanos.

A conclusão dos analistas é que cada vez mais o mercado de trabalho e os rendimentos dos investimentos serão importantes, apesar de que gradualmente, o impulso dos americanos por maiores despesas tende a desacelerar, em parte determinado pela forma de como os depósitos evoluem em relação à renda, à inflação e em como os consumidores se sentem em relação ao perspectivas econômicas do país.