Economia
A inflação vai dar trégua em 2022? Veja o que pensam 4 casas de análise
Apesar do forte avanço do IPCA no ano de 2021, o mês de dezembro apontou tendência de desaceleração. O que esperar daqui em diante?
Nesta semana, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou a inflação oficial do país, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), em 2021. O dado só evidenciou o que já era sentido no bolso do brasileiro: o aumento nos preços acelerou. Mas como fica 2022? O InvestNews reuniu as previsões de casas de análise sobre os desafios à frente para a inflação.
O indicador fechou o ano com avanço acumulado de 10,06%, a maior taxa anual desde 2015, quando ficou em 10,67%. Além disso, extrapolou a meta de 3,75% definida pelo Conselho Monetário Nacional para 2021, e estourou o teto fixado em 5,25%.
O resultado foi influenciado principalmente pelo grupo de transportes, puxado pelo aumento nos preços dos combustíveis. Segundo o IBGE, a categoria apresentou a maior variação (21,03%) e o maior impacto (4,19%) no acumulado de 2021.
Apesar da forte alta no último ano, o IPCA mostrou uma tendência de desaceleração no final do período. Em dezembro de 2021, a inflação foi de 0,73%, 0,22% abaixo da taxa de 0,95% registrada em novembro. Por outro lado, o indicador superou a fatia de 0,64% aguardada pelo mercado. Mas o que esperar daqui em diante? Confira a expectativa de 4 casas de análises para a inflação ao longo de 2022:
Inter Research
Em relatório, Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter, informou que, apesar do elevado patamar acumulado da inflação em 2021, a tendência de desaceleração já começa a ficar mais evidente. “Além dos choques de oferta começarem a se dissipar, o impacto da política monetária também passa a fazer efeito, reduzindo a demanda e contribuindo para conter o risco de inércia inflacionária”, explicou.
Rafaela também mencionou o que o ajuste monetário já feito até o momento (alta da taxa Selic) é bastante significativo e reiterou que Banco Central se mostra disposto a manter o ritmo do ajuste, mais 1,50 ponto percentual na primeira reunião do ano que acontece em fevereiro.
“Considerando a expectativa de inflação à frente em 12 meses, teremos juros reais de cerca de 6% a partir de fevereiro, território já bastante contracionista e que seria suficiente nesse momento para trazer a inflação para meta, o que deixa espaço para apenas um ajuste pontual em março, considerando a evolução do cenário de atividade mais fraca”, afirmou a economista ao manter expectativa de 4,8% para o IPCA em 2022.
BTG Pactual
A equipe de macro research do BTG Pactual digital disse em relatório que, embora para os próximos meses espere uma desaceleração do IPCA impulsionada por uma menor pressão em alimentos no domicílio, uma perda de ímpeto da atividade econômica e possível fim da bandeira de escassez hídrica antes da data prevista (abril de 22), “a retomada do preço do barril do petróleo pode levar a novos reajustes altistas nos combustíveis”.
Outro fator que merece atenção nos próximos meses, segundo os analistas, são os possíveis impactos das fortes chuvas no preço das commodities agrícolas, com destaque para soja e milho. “Além disso, a depreciação do real, decorrente da deterioração do cenário fiscal e de um ambiente global menos favorável para emergentes, deve permanecer como fator de risco para a inflação no curto prazo”, sinalizou a equipe.
Levante Investimentos
Para a equipe da Levante Investimentos, como a economia brasileira está desaquecendo, os principais vetores da inflação deverão ser principalmente externos: a taxa de câmbio e os preços das commodities. De acordo com os analistas, os preços da energia e dos combustíveis deverão seguir sendo determinantes na evolução dos índices de inflação.
“Comecemos pelos preços da energia, mais especificamente a eletricidade. A grande quantidade de chuvas provocada pelo fenômeno meteorológico La Niña permitiu a recuperação parcial dos reservatórios das usinas hidrelétricas. O ano de 2021 caracterizou-se pela pior seca em mais de 90 anos, que literalmente secou os reservatórios, principalmente os da região Sudeste. Com isso, as empresas do setor tiveram de acionar as usinas termelétricas, que produzem energia mais poluente e cara”, reiterou.
XP Investimentos
Também em relatório, Tatiana Nogueira, economista da XP, afirmou que os fatores estruturais que pressionam a inflação para ficar em patamares elevados “continuam presentes”, uma vez que a economia brasileira conta com um expressivo peso inercial.
A economista da casa explicou que a difusão, medida que reflete o ‘espalhamento’ da inflação entre todos os bens e serviços da economia continua alta – encerrou o ano em 75%.
Além disso, Tatiana informou que a projeção da XP é que em 2022 a inflação medida pelo IPCA acumule alta de 5,2%, e que convirja para a meta em 2023, encerrando o ano em 3,25%.
Esse processo desinflacionário, apontou a especialista, deve ocorrer por uma série de fatores, como a redução significa da inflação das commodities; o maior ofetio do substancial ajuste na taxa Selic (a economista estima defasagem média de 9 meses entre a elevação dos juros e o efeito completo sobre a inflação); fim do efeito da depreciação cambial sobre a inflação e perda de força da atividade econômica.
“Dentre os riscos que devemos levar em consideração adiante, ressaltamos o cenário político, olhando para a ameaça ainda presente de desarranjo do arcabouço fiscal, que pode levar a deterioração das expectativas. Lembrando que estamos em ano eleitoral, marcado por maior volatilidade e incertezas”, ponderou a especialista.