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Economia

IPCA-15 abaixo do esperado eleva expectativa por corte de 0,5 p.p da Selic

Inflação em 12 meses atingiu menor nível em quase três anos e ficou abaixo do centro da meta do BC.

A divulgação da prévia do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15) de julho aumentou as expectativas de um corte da taxa Selic na próxima semana, com o mercado ampliando as projeções de uma queda de 0,5 ponto percentual. 

Segundo dados divulgados nesta terça-feira (25) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o IPCA-15 registrou deflação em julho pela primeira vez em dez meses diante do recuo nos preços da energia elétrica, com a inflação em 12 meses no menor nível em quase três anos e abaixo do centro da meta.

O indicador recuou 0,07% em julho, contra variação positiva de 0,04% em junho. O resultado do mês foi o mais baixo desde setembro de 2022 (-0,37%), e a queda foi mais intensa do que a expectativa em pesquisa da Reuters de uma variação negativa de 0,01%.

Considerado prévia da inflação oficial, medida pelo IPCA, o índice passou a acumular em 12 meses até julho alta de 3,19%, de 3,40% em junho, contra projeção de analistas de 3,26%. É a leitura mais fraca nessa base de comparação desde setembro de 2020 (+2,65%), e passa a ficar abaixo do centro da meta para a inflação deste ano, que é de 3,25%, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos, medida pelo IPCA.

Expectativas para o Copom

O mercado segue com as atenções voltadas para os próximos passos do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que se reúne na semana que vem para definir o rumo da taxa Selic.

Após a divulgação dos números do IPCA-15, os contratos de Copom mostraram que o mercado passou a enxergar uma probabilidade maior de corte de 0,5 p.p da taxa, com as estimativas passando de 43% na segunda-feira (24) para 47% agora. Já as expectativas por uma baixa de 0,25 p.p passaram de 47% para 45,5%. 

Vista do prédio do Banco Central em Brasília 20/03/2020 REUTERS/Adriano Machado

Para o economista André Perfeito, a divulgação do IPCA-15 de julho, junto com as expectativas divulgadas no Boletim Focus, “sacramentam o corte da Selic”. Ele segue prevendo um recuo de 0,5 p.p nos juros, que passariam dos atuais 13,75% ao ano para 13,25%. 

“O mercado foi surpreendido com a deflação do IPCA-15 de -0,07% (ante projeção de -0,03%) nem tanto pelo índice em si, mas na melhora qualitativa do indicador que viu seus núcleos retrocederem e em especial Serviços Subjacentes. Este era um dos temas que mais tiravam o sono do mercado, mas que por ora sai da mesa dos economistas na Faria Lima.”

André perfeito, economista

Andre Fernandes, especialista em mercado de capitais e sócio da A7 Capital, destaca que “na parte de serviços, que é para onde a atenção do mercado está voltada, dados continuaram a acelerar, mas vieram com uma aceleração abaixo do mês passado, e já se encontram abaixo da média histórica. Dados dos serviços subjacentes, que excluem os itens mais voláteis, já começam a inflexionar para baixo ao olharmos a média móvel dos últimos 3 meses, com uma variação anual de 5,7%”.

Na mesma linha, Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Rena também destacou que “a leitura de hoje chamou atenção para o bom desempenho da inflação de serviços”, e acrescentou: “o número de hoje volta com o otimismo de que a velocidade de arrefecimento está em linha com a projetada, embora com muita volatilidade entre as divulgações“.

“Para frente, vemos que a inflação deste ano pode encerrar abaixo do teto da meta”

Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Rena

Já o economista Maykon Douglas, da área de research na Highpar, avalia que, “como tem ocorrido nas últimas leituras, muito dessa desinflação mais evidente no IPCA permanece concentrada em itens mais voláteis. No entanto, as condições para a dita ‘inflexão parcimoniosa’ dos juros pelo Copom em agosto estão dadas”.

Mas, apesar de os números elevarem as expectativas pelo corte de 0,5 p.p da Selic, Beto Saadia, economista e diretor de investimentos da Nomos, pondera que esse movimento pode ser “desconfortável” para o BC.

“Esse Banco Central sempre atuou com mais rigor do que a expectativa de mercado. Subiu juros mais que a expectativa, manteve além da expectativa e provavelmente deseja reduzir num ritmo menor do que espera o mercado”, pontua. Segundo o economista, no caso de um corte de apenas 0,25 p.p, “uma das desculpas que pode vir carimbada no comunicado é a defasagem dos preços da gasolina e do diesel“.

“E serve como armadilha para o próprio BC. Um corte de juros mais forte acompanhado de um aumento subsequente no preço dos combustíveis pode deixar o trabalho do Banco Central mais ruidoso e provocar uma alta nos juros longos pelo mercado.”

Beto Saadia, economista e diretor de investimentos da Nomos

Frentista abastece carro em posto de gasolina em Brasília 07/03/2022 REUTERS/Adriano Machado

Detalhamento dos números

Os dados do IPCA-15 mostram que o principal impacto negativo para o resultado de julho decorreu do recuo de 3,45% nos preços da energia elétrica residencial após a incorporação do Bônus de Itaipu, creditado nas faturas de julho.

Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), 405,4 milhões de reais referentes ao Bônus de Itaipu beneficiaram 81 milhões de unidades consumidoras em julho, através de crédito nas faturas de energia elétrica.

Linha de transmissão de energia 20/03/2023 REUTERS/Wolfgang Rattay

Também ajudou no recuo de 0,94% do grupo Habitação em julho a deflação de 2,10% nos preços do botijão de gás, segundo o IBGE.

Também apresentou deflação o grupo Alimentação e bebidas, de 0,40%, graças à queda de 0,72% nos custos da alimentação em domicílio. Entre os alimentos com preços em queda, destacam-se feijão-carioca (-10,20%), óleo de soja (-6,14%), leite longa vida (-2,50%) e carnes (-2,42%).

Na outra ponta, os Transportes subiram 0,63% em julho, com aumento de 2,99% nos preços da gasolina. O gás veicular também subiu (0,06%), enquanto óleo diesel (-3,48%) e etanol (-0,70%) tiveram deflação. Com esses resultados, os combustíveis registraram alta de 2,28% no mês.

(* com informações da Reuters)

Este conteúdo é de cunho jornalístico e informativo e não deve ser considerado como oferta, recomendação ou orientação de compra ou venda de ativos.

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