O sistema de consórcios no Brasil registrou um avanço de 9,3% nas vendas de novas cotas no primeiro quadrimestre deste ano comparado ao do ano passado. De acordo com a ABAC (Associação Brasileira das Administradoras de Consórcios), no acumulado de janeiro a abril foram 1,29 milhão de contratos comercializados, contra 1,18 milhão do mesmo período de 2022.
O consórcio é uma modalidade de compra baseada em grupos, na qual pessoas físicas ou jurídicas se unem com o objetivo de formar fundos para a aquisição de móveis, imóveis ou serviços. A atividade é autorizada e fiscalizada pelo Banco Central.
Do total de adesões, os destaques nas comercializações foram os percentuais de crescimento nos consórcios de imóveis, com alta de 18,4%, e nos de veículos pesados, com aumento de 16,3% no período.
O total das novas vendas foi de:
- 504,39 mil de veículos leves;
- 427,37 mil de motocicletas;
- 214,72 mil de imóveis;
- 89,74 mil de veículos pesados, 35,10 mil de eletroeletrônicos;
- e 16,25 mil de serviços.
E o volume de negócios resultantes das vendas alcançou R$ 89,82 bilhões, 20,5% maior que os R$ 74,53 bilhões anteriores. O tíquete médio de abril ficou em R$ 72,40 mil, 9,7% acima dos R$ 66,01 mil do mês de abril do no ano passado.
Em abril, o volume de consorciados ativos atingiu 9,44 milhões, 10,4% superior aos 8,55 milhões do mesmo mês do ano passado.
O aumento pela procura por novas cotas foi sentida pelo consultor de consórcios Márcio Magalhães, da Porto Seguro, que viu suas vendas crescerem 20% no primeiro quadrimestre deste ano, especialmente o consórcio para aquisição de veículos.
“Como a Selic [taxa básica de juros] está muito alta, o consórcio também é uma alternativa de investimento porque ele também sobe e acompanha o mercado. Com isso, o patrimônio [do cliente] é corrigido. Enquanto ele está pagando o consórcio, ele tem um incremento do patrimônio, diferentemente do financiamento, onde os juros são capitalizados mensalmente, com os juros sobre os juros, e no fim você paga três vezes o valor do bem final.”
consultor de consórcios Márcio Magalhães, da Porto Seguro
Segundo dados divulgados pelo IBGE, a participação do consórcio na economia brasileira aumentou quase 150% em 20 anos.
“O sistema de consórcios segue em ritmo forte de crescimento. Entre as razões que explicam essa constante evolução está o maior conhecimento da educação financeira pelo consumidor. Consciente, ele planeja e busca evitar imediatismos nas compras, ajustando os compromissos assumidos ao orçamento mensal”, disse Paulo Roberto Rossi, presidente executivo da
ABAC.
Por que as pessoas estão buscando mais consórcios?
Andressa Bergamo, sócia-fundadora da AVG Capital e pós graduada em Mercado Financeiro e Capitais, explica que com a taxa de juros a 13,75% ao ano, as pessoas que buscam adquirir bens por meio de financiamentos encontram bancos praticando juros ao redor de 15% ao ano. Por outro lado, a taxa de administração dos planos de consórcio é estável, pois não está atrelada à taxa Selic.
“A grande procura pode ser explicada por fatores como a busca por alternativas mais acessíveis e flexíveis, a dificuldade de obtenção de crédito em função da crise econômica e da pandemia, e a possibilidade de planejamento a longo prazo. Comparada com o financiamento, o consórcio traz ainda mais vantagens financeiras, visto que o consórcio não tem juros, não precisa de entrada e o custo final pode ser até dez vezes menor que o do financiamento”
Andressa Bergamo, sócia-fundadora da AVG Capital
Segundo Lamounier, o mercado de consórcios tem demonstrado ser resiliente nos últimos anos mesmo com todas as crises e pandemia. “Os brasileiros estão buscando soluções mais inteligentes do que simplesmente financiar o carro ou seu imóvel, e o consórcio se mostra como a forma de planejar as conquistas dos brasileiros reais, sem se preocupar com uma dívida de juros e mais juros que se torna praticamente impagável com o tempo”, afirma.
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Taxa de juros alta é a vilã do financiamento?
Segundo Breno Giacomini, assessor na iHUB Investimentos, a taxa de juros alta interfere diretamente na atratividade de um consórcio, porque um dos seus principais substitutos é o financiamento ou empréstimos que tem como balizador a taxa básica de juros (SELIC).
“Os juros permanecendo em alto patamar, torna o financiamento mais caro favorecendo o consórcio, enquanto os juros mais baixos tendem a tornar o financiamento mais atrativo, uma vez que com o financiamento já se adquire o bem de imediato, já o consórcio tem que aguardar o sorteio ou ter recursos para dar o lance e ser contemplado. Os juros não são a única variável que torna o consórcio mais atrativo ou não. A inflação também é fator importante nesta conta.”
Breno Giacomini, assessor na iHUB Investimentos
Fernando Lamounier, diretor da Multimarcas, ressalta que o aumento expressivo da taxa de juros no país torna qualquer operação financeira como empréstimos ou financiamento muito mais cara.
“O consórcio, uma vez que não tem juros mas sim uma taxa de administração, passa ileso desses movimentos macroeconômicos que a população não tem controle e consegue implementar uma cultura de planejamento no brasileiro para a aquisição do seu bem”, argumenta.
Qual o custo de um consórcio?
O custo do consórcio é o valor do bem ou do serviço, a taxa de administração que é cobrada por todo período do consórcio, e a atualização do valor do bem que acontece anualmente pelo indicador referente ao bem ou serviço contratado.
Por exemplo, uma cota de consórcio de imóvel tem seu valor atualizado pelo INCC (Índice Nacional da Construção Civil), já uma cota de veículo tem seu valor atualizado pela tabela FIPE (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), e os consórcios de serviços são atualizados pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).
Não incide juros e nem taxa de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) sob as prestações do consórcio.
“O ponto de atenção nos consórcios é sobre as atualizações anuais, pois se percorrido por um período de inflação alta, os “custos totais” podem superar o valor de um financiamento. Por outro lado, momentos de inflação mais baixas e juros mais altos, fazem do consórcio no aspecto custo, uma ótima ferramenta. Pode-se dizer que os custos do consórcio são conhecidos metade na contratação e metade ao longo do tempo mediante a atualização anual do valor do bem, e como consequência do valor das parcelas.”
Breno Giacomini
Quais as vantagens e desvantagens da modalidade?
Entre as vantagens em adquirir uma cota de um consórcio estão o custo muito mais baixo, a construção de patrimônio ao longo do tempo e o incentivo ao planejamento de longo prazo, evitando compras por impulso que podem atrapalhar a situação financeira.
“Por outro lado, é importante considerar que no consórcio não existe garantia de data de contemplação. Assim, os clientes que tem pressa para adquirir o bem tem que pensar exatamente nas estratégias para não cair em operações erradas”, disse o diretor da Multimarcas.
Andressa Bergamo também destaca que a única desvantagem do consórcio é para aqueles que desejam obter o bem imediatamente.
“O consórcio só é liberado após a contemplação das cartas, ou seja, por meio de sorteio ou lance antecipado. Já no financiamento, o crédito é concebido no mesmo momento da contratação, colocando o bem como garantia. Para aqueles que desejam comprar um bem mas não tem uma data limite, o consórcio é a melhor opção.”
Andressa Bergamo
O consórcio é utilizado como um tipo de investimento?
Para Fernando Lamounier, muitos brasileiros compram consórcio apenas para construir patrimônio para que no momento correto eles tenham acesso a um crédito que consiga realizar seu sonho.
“Uma vez que a carta é atualizada periodicamente, ele não perde poder de compra e pode até mesmo planejar de forma mais assertiva quando quer ser contemplado através de um estudo de grupo. O poder da economia comportamental aqui é importantíssimo e as pessoas tendem a usar o consórcio para colocar uma etiqueta no dinheiro: ‘crédito para a casa própria’, ‘crédito para o corro novo’, ‘crédito para viagem’, etc. Porque sabem que se não tem o boleto todos os meses para pagar, elas nunca vão conseguir construir patrimônio.”
Fernando Lamounier, diretor da multimarcas
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