A batalha do Federal Reserve para controlar a inflação provavelmente causará mais danos aos EUA e à economia mundial do que se estima atualmente, de acordo com dois estudos que serão apresentados em uma renomada conferência econômica.
O presidente do Fed, Jerome Powell, e seus colegas provavelmente terão que aumentar significativamente o desemprego para atingir sua meta de inflação de 2%, de acordo com um dos estudos preparados para a conferência do Brookings Institution de 8 a 9 de setembro. Um segundo estudo alerta para os perigos para as nações em desenvolvimento diante do aperto monetário nos EUA e do fortalecimento do dólar.
Embora uma aterrissagem suave da economia americana ainda seja possível, ela só seria atingida com muita sorte, disseram o professor da Universidade Johns Hopkins Laurence Ball e os economistas do Fundo Monetário Internacional Daniel Leigh e Prachi Mishra em um dos estudos.
“As previsões dos formuladores de política monetária do Fed — de inflação voltando à meta enquanto o desemprego mal passa de 4% — são razoáveis apenas sob suposições bastante otimistas”, disseram eles.
Problemas para países em desenvolvimento
No outro estudo, o ex-economista-chefe do FMI Maurice Obstfeld e Haonan Zhou, da Universidade de Princeton, alertam para problemas à frente para muitas economias em desenvolvimento à medida que o dólar sobe em resposta às taxas mais altas nos EUA.
Essas economias são particularmente vulneráveis devido ao aumento da dívida público e de empresas durante a pandemia, grande parte em dólares, disseram.
“Os sinais de perigo já estão piscando”, escreveram. “Uma fase contracionista do ciclo financeiro global está em andamento.”
Outros riscos surgem se o Fed não conseguir controlar a inflação, disse a dupla. Isso afetaria a economia global no longo prazo e poderia corroer o papel do dólar como principal moeda de reserva mundial, disseram Obstfeld e Zhou.
Ball e seus colegas atribuíram parte da disparada da inflação ao plano de estímulo econômico de US$ 1,9 trilhão do presidente Joe Biden, que eles disseram ter contribuído para um aperto no mercado de trabalho. Outros fatores incluem choques na cadeia de suprimentos e aumento dos preços da energia.
Espera-se que Powell e seus colegas aumentem ainda mais as taxas de juros no final deste mês, à medida que buscam conter a inflação elevada sem levar a economia a uma recessão.
Inflação projetada
As últimas estimativas da autoridade monetária projetavam inflação de 2,2% até o final de 2024, ante 6,3% em julho, e desemprego a 4,1%, contra 3,7% agora. Os dirigentes atualizarão essas previsões em sua reunião de 20 a 21 de setembro.
“Reduzir a inflação provavelmente exigirá maior desemprego do que o Fed antecipa”, disseram Ball e seus colegas.
O Brookings Papers on Economic Activity é uma conferência semestral dos principais acadêmicos em Washington, para a qual vários ganhadores do Prêmio Nobel contribuíram desde seu início em 1970.
Veja também
- Presidente do Fed diz que Trump não afeta juros no curto prazo, nem a duração de seu mandato
- Sem surpresas, Fed corta juros em 0,25 p.p. e destaca e crescimento econômico sólido
- Promessas de Trump devem levar Fed a fazer cortes de juros mais brandos
- Inflação nos EUA sobe mais do que o esperado em setembro
- Ex-CEO da Pimco alerta o Fed após payroll surpreendente: ‘A inflação não está morta’