Milei prometeu não mudar seu programa econômico, mesmo com a derrota no domingo (7) para a oposição peronista de centro-esquerda em Buenos Aires. A oposição venceu com 47% dos votos. O partido de Milei, La Libertad Avanza, ficou com 34%.
O resultado decepcionou os investidores, que previam que uma derrota por mais de cinco pontos percentuais desencadearia uma onda de vendas nos ativos do país.
A votação na província de Buenos Aires, a maior do país e por décadas um bastião peronista, é vista como um indicador para as eleições legislativas nacionais de meio de mandato no próximo mês. Milei pretende reforçar o atual status de seu partido no Congresso para conter a inflação e diminuir os gastos do governo.
Em um discurso conciso, Milei insistiu que não se desviaria da busca por um superávit orçamentário ou das prioridades de políticas cambiais e monetárias do governo. Mas prometeu embarcar em uma “autocrítica profunda”.
“Hoje sofremos uma derrota clara”, disse Milei, da sede de campanha de seu partido nos arredores da capital da província, La Plata. “Tivemos um revés eleitoral e temos que aceitá-lo.”
Para Matias Montes, chefe de estratégia da EMFI Securities, o “resultado foi pior do que o consenso esperava”, em referência às expectativas dos investidores de que o partido de Milei pudesse ter um desempenho melhor. Montes, no entanto, acredita que a diferença de votos diminua nas eleições de outubro.
Reação dos investidores argentinos
A derrota de domingo aumenta as chances de um “cenário negativo, em que o mercado questiona a continuidade das reformas e aumenta a incerteza quanto o financiamento externo”, informaram o economista Fernando Sedano, do Morgan Stanley, e o estrategista Simon Waever, em relatório a investidores.
A província de Buenos Aires, que representa quase 40% do eleitorado nacional, tem sido historicamente um reduto do peronismo. Embora as chances de vitória fossem mínimas para Milei, os investidores queriam avaliar o sentimento público antes das eleições de meio de mandato no próximo mês.
Desvalorização do peso
Plataformas de criptomoedas apontaram para uma depreciação do peso, mesmo antes de os resultados serem anunciados.
A moeda argentina foi negociada acima de 1.400 pesos por dólar. Na sexta-feira (5), o dólar estava cotado em 1.355 pesos.
“Tudo vai depender da reação do governo. Dada a magnitude da derrota, somente uma reorganização ministerial conterá a derrocada nos preços dos títulos”, disse Ramiro Blazquez, estrategista na Stonex. “O partido de Milei têm a chance de recuperar o terreno em outubro. Mas vai precisar repensar a política econômica”, acrescentou Blazquez.
Nas últimas semanas, Milei tentava defender o peso, restringindo a liquidez do setor financeiro com taxas de juros altíssimas.
Como último recurso, as autoridades intervieram no câmbio, levantando preocupações sobre os ativos em dólar do governo.
Com o câmbio em turbulência e os riscos políticos crescentes, os títulos em dólar da Argentina já estavam atrás de todos os pares de mercados emergentes no último mês, apresentando perdas de 5,5% em comparação com um ganho médio de 2% para o restante da dívida de países em desenvolvimento, de acordo com índice da Bloomberg.
Milei enfraquecido
Milei enfrentou grandes ventos contrários nas últimas semanas, e chegou ao ponto mais fraco desde que assumiu o poder no final de 2023.
O escândalo de corrupção no governo o atingiu em cheio o resultado da eleição.
No mês passado, a mídia argentina publicou áudios, nos quais o chefe da agência nacional para pessoas com deficiência, que já foi demitido, descrevia supostos subornos em compras de produtos farmacêuticos em benefício da irmã de Milei, Karina Milei. Karina é uma figura influente, e atua como principal conselheira de Milei. O governo negou qualquer irregularidade.