SÃO PAULO (Reuters) – A mineração de bitcoin pode ajudar a destravar energia que está ociosa na matriz elétrica do Brasil, em meio a um cenário de sobreoferta de capacidade de geração que tem paralisado novos projetos de energias renováveis, apontou um estudo da startup Arthur Inc. em parceria com a Genial Investimentos.
O estudo calculou que a mineração de bitcoin poderia gerar uma receita de quase 300 milhões de reais em 2026 no Brasil ao monetizar energia ociosa proveniente de usinas de geração distribuída solar, instalações de menor porte que escoam eletricidade para rede em momento de maior demanda, mas que ficam ociosas nas horas de menor consumo.
Os cálculos são conservadores e foram feitos com base em projeções de crescimento no Brasil, até 2026, de minigeradores solares com capacidade a partir de 500 kW, o mínimo necessário para viabilizar a mineração de bitcoin.
“A mineração de bitcoin cumpre bem o papel de ser uma segunda fonte de demanda pela energia, tornando diversos projetos de geração economicamente viáveis”, afirmou Rudá Pellini, cofundador da Arthur Inc, “energy tech” do setor.
O Brasil vem sofrendo com uma sobreoferta no setor de energia, resultado de uma combinação de chuvas abundantes nos últimos anos — que elevaram o armazenamento de usinas hidrelétricas –, rápida expansão da instalação de novas usinas eólicas e solares, e baixo crescimento da demanda por parte dos consumidores.
O país fechou 2023 com cerca de 198 gigawatts (GW) de capacidade instalada em sua matriz elétrica, com um recorde de crescimento anual de 10,3 GW. Para este ano, a expectativa é de uma nova ampliação de cerca de 10,1 GW, segundo estimativas da agência reguladora Aneel.
A mineração de bitcoin é uma atividade altamente consumidora de energia, uma vez que, quanto mais energia um minerador utilizar, maior a probabilidade de ele ser remunerado.
“Isso significa que agora existe um incentivo para as geradoras de energia passarem a minerar bitcoin com sua energia ociosa, monetizando-a e diminuindo o desperdício energético”, destaca Sergio Romani, líder de energia da Genial Investimentos.
“Ou seja, em todos os momentos em que a rede elétrica não está próxima do seu pico de demanda, vale a pena para as geradoras minerar bitcoin em vez de desperdiçar essa energia”, acrescenta.
Segundo o estudo, a mineração de bitcoin ajuda a estabilizar as redes de energia elétrica ao agir como um consumidor flexível, o que significa que os mineradores podem desligar suas máquinas ou reduzir sua taxa de operação quando a demanda por eletricidade é alta e aumentar quando a demanda é baixa.
A maior operação de mineração de bitcoin em funcionamento no Brasil hoje é da Arthur Inc, uma das integrantes do estudo, com 1 MW em operação e 30 MW adicionais a serem contratados no primeiro semestre de 2024, disse a energy tech.
(Por Letícia Fucuchima)
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