O Brasil vive uma tendência de ter cada vez mais mulheres e idosos, com os homens deixando de ser maioria ainda enquanto jovens. Esse cenário se reflete em desafios para a sociedade, em especial à economia, diante das consequências no mercado de trabalho e nos setores de saúde e educação.
Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na última sexta-feira (27) mostram que a idade mediana da população passou de 29 anos em 2010 para 35 anos em 2022, no maior salto de envelhecimento já registrado entre dois censos desde 1940. O país também é mais feminino, com as mulheres passando a ser maioria a partir dos 24 anos.
O presidente do IBGE, Marcio Pochmann, lembra que o propósito dos censos é exatamente sinalizar as alterações na dinâmica produtiva para que as políticas públicas possam se adaptar às mudanças demográficas. “Os censos permitem registrar trajetórias populacionais ao longo do tempo”, destaca.
Para Pochmann, enquanto os seis primeiros censos demográficos (1872, 1890, 1900, 1920, 1940 e 1950) expressaram características pertencentes da “longeva e primitiva” sociedade agrária; os dois últimos censos realizados (2010 e 2022) indicam a passagem da sociedade de serviços sob os impactos do ingresso do Brasil na Era Digital.
Embora o país tenha avançado em questões sociais, o que se reflete na expectativa de vida da população, o presidente do IBGE avalia que o debate sobre a Era Digital, que intensifica e estende a jornada de trabalho, precisa chegar ao Brasil “urgentemente”. “Do contrário, a desigualdade na repartição do tempo de trabalho tende a aumentar mais”, avalia.
Desafios do mercado de trabalho
Pochmann se refere à defesa da regulação do tempo de trabalho menor, como jornada de quatro dias por semana, que já tomam corpo em diversos países. No entanto, o assunto segue ao largo da agenda nacional, mas precisa entrar na pauta, tal qual outras opções, como a igualdade salarial.
Porém, a colunista do InvestNews, Liliane Rocha, ressalta que o gap salarial é uma conta difícil de ser fechada. Citando dados do próprio IBGE, a fundadora e CEO da Gestão Kairós observa que a diferença de remuneração entre homens e mulheres voltou a subir no Brasil, com elas recebendo quase 80% a menos do que eles, ainda que atuem no mesmo cargo.
“A igualdade ou paridade salarial ainda são pontos que se perdem ao longo da gestão de processos, e de forma sutil e inconsciente, a diferenciação segue persistente. No entanto, em algum momento estas informações se perdem no caminho e se tornam desconhecidas pela alta liderança”, escreve Liliane.
Ela lembra que isso ocorre apesar de o governo brasileiro ter criado a lei 14.611, que visa reduzir a desigualdade social. Ou seja, não basta apenas o Brasil avançar em termos regulatórios, as empresas também precisam colocar em prática as iniciativas que visam se adequar ao novo cenário sobre a atividade econômica doméstica.
Saúde e educação despontam
Afinal, a mortalidade masculina em jovens adultos é a maior em todos os grupos etários, seja por violência ou acidentes, o que resulta em uma população sobrevivente de mulheres. Essa mudança no perfil etário e de gênero da população brasileira exige realocação de recursos não apenas por parte do poder público, mas também das empresas privadas.
Diante das novas tendências, especialistas preveem o aumento da demanda por serviços de saúde, especialmente entre mulheres e idosos. E já tem investidor de olho nessas perspectivas. Um deles é o chileno, Cristián Hernández, sócio-fundador da Zentynel, um fundo de venture capital focado em biotecnologia na América Latina.
“A saúde é um universo em si. O ramo é enorme e as inovações na área podem ser aplicadas tanto em seres humanos quanto em animais e nas plantas”
Cristián Hernández, sócio-fundador da Zentyne
Além disso, mais investimentos em educação também são apontados como uma necessidade para elevar a produtividade.
Nesse cenário, de um lado, o governo avançou nos últimos anos com a agenda de reformas, como a trabalhista e a da Previdência. De outro, ainda é necessário direcionar mais esforços para faixas etárias mais altas, pensando na qualificação profissional através dos ensinos integral e técnico, visando reduzir o gap de produtividade e até reinserir os idosos no mercado de trabalho.
“Estamos falando de justiça social e de parâmetros de governança empresarial, que é composta por 4 pilares: transparência; equidade; prestação de contas (accountability) e a responsabilidade corporativa. Mas, certamente, estamos falando também de um mercado em crescimento e, claro, de retornos financeiros efetivos para as empresas”, conclui a colunista do InvestNews.
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