Gabriel Galípolo vai presidir sua primeira decisão sobre juros como presidente do Banco Central nesta quarta-feira, com uma missão clara e bem conhecida: o Copom que ele agora comanda deve aumentar a taxa de juros em 1 ponto percentual pela segunda reunião consecutiva.
No entanto, os investidores vão continuar tensos, cativados pela forma como o economista de 42 anos irá consolidar a sua marca na política monetária da maior economia da América Latina. Muitos também estão preocupados com as dúvidas persistentes sobre a sua independência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“Todo mundo está querendo olhar com cuidado as frases”, disse Silvia Matos, professora de economia da Fundação Getulio Vargas. “O cenário de lá para cá piorou”, disse, em referência à última reunião do Copom.
Todos os analistas consultados em pesquisa Bloomberg veem a taxa Selic subindo para 13,25% na reunião de hoje, a ser divulgada após o fechamento dos mercados. Como o Copom já sinalizou outro aumento dos juros da mesma magnitude na próxima decisão, em março, o teste será a forma como o comitê indica as suas opiniões sobre a economia e até que ponto se move em sincronia com o governo Lula. Nesse contexto, o mercado vai averiguar, no comunicado, em busca de quaisquer alterações na linguagem sobre a política fiscal que está alimentando a demanda da economia e sobre as previsões de inflação que estão subindo ainda mais acima da meta de 3%.
O BC elevou os juros de 10,5% depois de suspender os cortes em maio de 2024, na contramão de pares regionais como México e Colômbia, que continuam abrandando a política monetária. A expectativa é de que o Federal Reserve, o banco central dos EUA, pause seu próprio ciclo de cortes na quarta-feira, horas antes da decisão do Brasil.
Embora a mudança do Brasil tenha sido bem recebida pelos investidores, os juros mais altos complicam as promessas do governo de melhorar os padrões de vida dos trabalhadores.
Tópicos sensíveis
Membros do governo argumentam que Galípolo liderava extraoficialmente o BC em dezembro, quando o Copom afirmou que continuaria a aumentar a Selic em janeiro e março para combater a inflação. A orientação também foi elaborada para afastar as preocupações dos investidores de que Galípolo estaria sujeito à pressão de Lula assim que assumisse o cargo.
Lula chamou Galípolo de “presente” para o Brasil em um vídeo nas redes sociais no mês passado que mostrava os dois apertando as mãos e o presidente do país prometendo independência “total” ao novo chefe do BC.
Isso marcou um forte contraste com os seus atritos públicos com o antecessor de Galípolo, Roberto Campos Neto, que tinha sido nomeado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
“Tenho total confiança do presidente”, disse Galípolo, que anteriormente foi secretário executivo do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a jornalistas em dezembro.
Galípolo e Lula não concordam em tudo, segundo autoridades com conhecimento de seu pensamento. Suas reuniões são um espaço para discutir temas delicados, ajudando Lula a compreender a importância da responsabilidade fiscal e a necessidade de aumentar os juros para controlar a inflação, disseram as pessoas, pedindo anonimato porque as negociações não são públicas.
É a rápida deterioração das perspectivas de inflação que provavelmente vai ganhar notoriedade na comunicação, dando motivos para o BC se tornar mais conservador, disse Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital.
“Esse gancho das expectativas inflacionárias é justamente algo que é muito caro para o mercado”, disse Argenta. “É muito caro para a teoria econômica, então, olhar para as expectativas inflacionárias traz esse compromisso com a ortodoxia.”
Investidores céticos
Com o governo estudando imposto de importação mais baixo para controlar a inflação de alimentos que prejudica a popularidade de Lula, os investidores lerão atentamente os comentários do BC sobre os gastos públicos. Embora o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, tenha descartado o uso de subsídios, a desconfiança dos investidores quanto ao compromisso de Lula com a responsabilidade fiscal ainda pesa sobre os ativos, incluindo o real, que despencou mais de 20% no ano passado.
Os investidores céticos também são rápidos em apontar que, além de contratar Galípolo, Lula nomeou a maioria dos atuais membros do comitê do BC. Esses laços poderiam dar ao líder esquerdista influência nas decisões de política monetária.
“A gente espera que os comunicados e falas deixem de enfatizar tanto e criticar a questão fiscal. Achamos que vai buscar justamente uma maior harmonização da política monetária com a política fiscal”, disse Lucas Farina, analista econômico da Genial Investimentos. “Não criticaria tão abertamente a política fiscal do governo.”
Até agora, os decisores políticos reiteraram que os seus próximos passos serão guiados pelo firme compromisso do comitê em controlar as pressões sobre os preços. Durante os últimos comentários públicos de Galípolo em dezembro, ele disse que a barra era “muito alta” para qualquer alteração na orientação do BC.
No início de janeiro, o diretor de Política Econômica Diogo Guillen reforçou a sua confiança em ter as ferramentas necessárias para reduzir a inflação conforme a política monetária avança em direção a níveis bastante restritivos.
“O BC tem que deixar claro que, enquanto houver esse descolamento das expectativas, choques cambiais e de alimentos, ele vai persistir”, disse Matos, da Fundação Getulio Vargas. “Se não tiver isso, se tentar mudar, seria péssimo.”