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Economia

‘Não há razão para ter tumulto’, diz Henrique Meirelles após vitória de Lula

Ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do BC, Henrique Meirelles não descarta integrar próximo governo, mas diz que não conversou sobre assunto com o presidente eleito.

O então candidato à Presidência Henrique Meirelles (MDB) participa de debate televisivo em São Paulo 09/09/2018 REUTERS/Nacho Doce

O ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do BC (Banco Central), Henrique Meirelles, disse neste domingo (30), em entrevista exclusiva ao InvestNews, que “não há razão para ter tumulto” após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2022.

Meirelles disse que os próximos passos de Lula vão definir os termômetros do mercado financeiro, mas tentou acalmar os investidores. Isso em meio a receios de que, com Lula, a elevação dos gastos públicos seria mais intensa, levando a uma pressão de alta do dólar e dos juros, por exemplo.

A declaração vem após a análise de diversas casas de que a vitória de Lula significa um cenário pior para o cenário macroeconômico e o mercado financeiro, com perspectiva de câmbio e Selic mais elevadas na comparação com um cenário de vitória do atual presidente, Jair Bolsonaro (PL).

“Agora vai depender muito dos anúncios do Lula nas próximas semanas, do plano econômico, responsabilidade fiscal, etc. Não há razão para ter tumulto”

Furo ‘excepcional’ do teto de gastos

Meirelles afirmou ainda que o novo governo deve criar uma “excepcionalidade” para furar o “teto de gastos” e manter o valor do Auxílio Brasil em R$ 600 e fazer os demais investimentos necessários para o país. No entanto, isso seria temporário, já que, a partir de 2024, os recursos devem ser viabilizados por reformas econômicas.

Segundo ele, num primeiro momento do novo governo, os recursos para o pagamento da diferença dos R$ 200 do Auxílio Brasil, estimado em R$ 53 bilhões, sairiam dos caixas públicos, com a criação de uma “excepcionalidade”, que nada mais é do que uma licença temporária do cumprimento das atuais regras fiscais.

“É possível sim, mas é condicionado a uma excepcionalidade constitucional em 2023, e depois definiria um projeto de reforma administrativa para os anos seguintes a partir de 2024, abrindo espaço pra isso”

Henrique Meirelles

A regra atual do teto de gastos limita o crescimento dos gastos públicos à inflação do ano anterior. A medida foi criada durante a gestão de Meirelles no ministério da Fazenda, durante o governo Temer.

Já a partir de 2024, o ex-ministro acredita que seja necessário focar em reformas econômicas para viabilizar o equilíbrio das contas públicas e investimentos em outras áreas, cortando as despesas desnecessárias do governo com a reforma administrativa, que deve ser aprovada através de um projeto de lei. Ele também defende a urgência da reforma tributária.

Indagado sobre a proposta do atual ministro da Economia, Paulo Guedes, de tributação de dividendos para diminuir os impostos pagos pelas empresas e pelos assalariados, Meirelles não quis mencionar se seria uma alternativa econômica utilizada pelo próximo governante.

Novo ministro?

Durante a campanha eleitoral, o nome de Meirelles chegou a ser citado como possível ministro da economia caso Lula fosse o vencedor, mas não houve confirmação oficial. Questionado se vai integrar o próximo governo, Meirelles não descartou a hipótese.

“Eu não sei. Nós não tivemos nenhuma conversa, eu não sei o que ele está pensando sobre esse assunto especificamente, como também em 2002 não tivemos [uma conversa] antes da eleição. E ele próprio disse que só ia pensar nisso e definir alguma coisa depois do segundo turno.”

A reportagem do Investnews perguntou se ele aceitaria ser ministro da Economia, caso receba o convite de Lula. “Eu não tomo decisão por hipótese”, declarou. Segundo ele, nas próximas semanas, o presidente eleito deve anunciar seu plano econômico e ministério.

Meirelles foi presidente do Banco Central de 2003 a 2010, durante o governo Lula, e ministro da Fazenda entre 2016 e 2018, no governo do ex-presidente Michel Temer (MDB). Apesar de enfrentar resistências entre petistas para assumir o cargo de ministro da Economia, ele é visto com bons olhos pelo mercado financeiro.

Na última semana, Lula disse que se vencesse o segundo turno da eleição presidencial neste domingo (30), escolheria um ministro da Economia com responsabilidade fiscal, mas também responsabilidade social.

“O meu ministro da Economia será o perfil de uma cara que tenha muita inteligência política, será uma pessoa que tenha muito compromisso social. É uma pessoa que tem que pensar na responsabilidade fiscal, mas tem que pensar também na responsabilidade social”, disse o petista na última quinta-feira (27). O petista descartou anunciar ministros antes do resultado das eleições.

Lula vence Bolsonaro

O candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi eleito presidente da República do Brasil neste domingo (30), em segundo turno contra Jair Bolsonaro (PL), que tentava a reeleição. Com 99,95% das urnas apuradas, o petista teve 50,90% dos votos válidos (60.313.340 votos), contra 49,1% do adversário (58.189.292 votos). Os números são do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Esse é o terceiro mandato de Lula como presidente do Brasil.

Em discurso em São Paulo após o anúncio da vitória, Lula agradeceu seus apoiadores. “Eu sou um cidadão que passou por uma ressurreição na política brasileira. Porque tentaram me enterrar vivo e eu estou aqui, para governar esse país, numa situação muito difícil”, disse ele.

Lula também voltou a citar promessas feitas durante a campanha, como “um salário justo reajustado sempre acima da inflação”, e disse ainda que deve “retomar o programa Minha Casa, Minha Vida, com prioridade para pessoas de baixa renda”. O presidente falou que “a roda da economia vai voltar a girar”, citando medidas como apoio a pequenos e médios produtores rurais.

Também no discurso, Lula disse que “vamos reconquistar a credibilidade para que investidores estrangeiros retomem a confiança no país” e deixem de enxergar o mercado brasileiro apenas como oportunidade de lucro para o curto prazo.

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