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Economia

Por que o petróleo subiu tanto e como isso beneficia Petrobras e PetroRio?

Especialistas enxergam futuro promissor para o setor com a demanda aquecida pela commodity, oferta restrita e dólar elevado.

5 fatos para hoje: presidente da Petrobras; Conselho da Vale; petróleo da Rússia

Na semana passada, os contratos futuros de petróleo atingiram os maiores níveis dos últimos 11 meses. Na sexta-feira (8), o barril tipo Brent, negociado em Londres, fechou cotado a US$ 56,25, se aproximando de patamares pré-pandemia, quando o barril era vendido acima de US$ 65. Por que os preços voltaram a subir e como isso impacta o investidor?

De carona nesta valorização, as petrolíferas Petrobras (PETR4) e PetroRio (PRIO3) também acumularam fortes ganhos na semana última. Os papéis destas empresas valorizaram 9,81% e 6,07%, respectivamente, até o fechamento de sexta-feira (8).

Brent x WTI: qual a diferença?

Para entender a dinâmica de preços deste mercado, primeiro é preciso compreender porque o petróleo Brent aparece em todo lugar quando se fala em companhias petrolíferas no Brasil. Porque ele e não o irmão esquecido, o petróleo tipo WTI?

Segundo Felipe Paletta, analista da Inversa, a diferença básica entre estas duas cotações universais é que o WTI é cotado nos Estados Unidos e serve como parâmetro para colocar um preço no petróleo extraído na região do Golfo do México. Ou seja, tudo o que é extraído lá leva a cotação do WTI.

Já o petróleo Brent é cotado na Inglaterra e considera não apenas a extração do Golfo do México, mas também de importantes players como países do Oriente Médio, entre eles a Arábia Saudita. Os países árabes são muito dependentes do petróleo, por isso sempre pressionam a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) para garantir que o preço da commodity esteja acima do valor de produção.

A Opep+ é como se fosse aquele “clube de amigos” fechado que determina os preços do petróleo no mundo. Desta forma, os países árabes não poderiam ficar de fora. Por este motivo, o petróleo Brent é considerado a cotação globalmente oficial quando tentamos precificar todos os mercados.

Oferta e demanda

Por que a Rússia e Arábia Saudita estão sempre envolvidas em disputas sobre aumentar a produção de petróleo no mundo ou fazer novos cortes? Essa foi uma das principais pautas discutidas pela Opep+ nos últimos meses. E aqui entra o conceito de ‘oferta e demanda’.

Provavelmente você já ouviu que “quando há menor oferta de um produto, maior é o preço a ser pago por este no mercado”. Levando isso para as petrolíferas, quanto menor é a produção de petróleo no mundo, maior é o preço a ser pago pelo barril da commodity. Por consequência, maior é o lucro para estas companhias.

Isso ocorre se a demanda também for elevada. Leonardo Milane, sócio e economista da VLG Investimentos, explica que existem dois cenários possíveis relacionando as duas variáveis de oferta e demanda de petróleo.

O primeiro é de oferta alta, demanda baixa e preços caindo. Durante a pandemia, muitas pessoas deixaram de sair de casa e de utilizar veículos e o consumo de combustíveis caiu drasticamente, reduzindo a demanda por petróleo.

Com os países ainda extraindo a commodity em patamares altos e sem ninguém para comprar, os preços do petróleo internacional foram para o abismo, chegando a ser negociados no patamar mínimo de US$ 20 para o barril Brent, entre os meses de março e abril.

Foi um cenário em que oferta e demanda conflitaram, agravado pela briga pelos níveis de produção entre a Rússia, Estados Unidos e Emirados Árabes. Enquanto a Rússia queria produzir mais, os árabes queriam extrair menos para manter o controle nos preços.

Paletta, da Inversa, reforça que essa briga entre as nações por mais ou menos produção é antiga. Países como a Rússia, com menor dependência do petróleo, sempre pressionam por um aumento da produção para equilibrar as margem de custos das petrolíferas – no caso da Rússia, a maior parte é de companhias estatais – desta forma o preço do petróleo não afeta outros setores da economia real.

“Na contramão, a Arábia Saudita, que é muito dependente do petróleo sempre quer ver o preço nas alturas e pressiona para que a produção seja baixa, porque quanto menor é a produção, maior é o preço pago pelo barril”, explica o analista.

Aliás, foi nesta época que teve lugar o encontro da Opep+ para reduzir a produção global da commodity em 2020 para 9,07 milhões de barris por dia (bpd). A justificativa era que os combustíveis para transporte foram pressionados pela pandemia, reduzindo a demanda por gasolina e combustível de aviação, já que as viagens aéreas e as distâncias percorridas anteciparam um declínio significativo em comparação a 2019, além da limitação do uso de combustível industrial.

Ainda em dezembro de 2020, com a retomada econômica e a reabertura gradual das nações, a Opep+ concordou em aumentar a produção de petróleo em 500 mil barris por dia a partir de janeiro de 2021, como parte de um aumento gradual de 2 milhões de barris por dia neste ano, mas alguns membros do grupo questionaram a necessidade de um novo aumento devido à rápida disseminação do coronavírus.

Na época, o barril Brent já havia se recuperado consideravelmente, negociado no patamar médio de US$ 51,80 no mês de dezembro.

Por que o petróleo disparou agora?

Lembra dos dois cenários possíveis para oferta e demanda citados no começo da reportagem? O segundo cenário é o que estamos vivendo atualmente: oferta baixa, demanda alta e preços elevados.

Milane, da VGL Investimentos, explica que com a retomada da economia, a demanda por combustível também voltou. Uma espécie de reequilíbrio nos preços do petróleo que saíram de um fundo do poço de US$ 20 o barril para um patamar de US$ 50, beneficiando a commodity no curto prazo.

De olho neste crescimento econômico, a Rússia sinalizou o desejo de aumentar a sua produção de petróleo. O vice premiê do país, Alexandrer Novak, justificou que os programas de vacinação estavam avançando, o que aceleraria a recuperação econômica e, em consequência, a demanda pela commodity.

Foi neste momento que a Arábia Saudita entrou em conflito com a Rússia ao alertar a Opep+ contra a liberação de mais barris no mercado e propor um corte voluntário no país de 1 milhão de barris/dia em fevereiro e março. “Segundo os sauditas, é necessário que a produção de petróleo continue restrita a fim de administrar o nível de demanda, afetada pela pandemia do coronavírus. Sua postura foi de oposição à Rússia, que sinalizou desejo de aumento na produção”, apontou a Levante Investimentos em relatório.

De olho nas vacinas, o preço do barril do petróleo já havia superado os US$ 50. Com o desentendimento entre Rússia e Arábia Saudita sobre cortes de produção, a commodity disparou, chegando ao patamar de US$ 53,60 o barril na terça-feira (5).

Ainda neste embate, os Estados Unidos anunciaram que os níveis do estoque de petróleo reduziram mais que esperado, caindo para 8,01 milhões de barris na semana encerrada em 1º de janeiro. “Esta queda nos estoques sinalizou duas coisas: a oferta de petróleo pode diminuir no mundo – como comprovou o acordo que Arábia Saudita conseguiu na Opep+ – e que a demanda em nível global está aumentando com a recuperação das economias”, explica Paletta.

Com oferta baixa e demanda alta, o analista enxerga um cenário muito favorável para a valorização dos contratos do petróleo. Foi este motivo que levou o Brent a ser negociado acima de US$ 54 o barril no começo de 2021.

No desfecho desta história, a Opep+ aprovou um novo corte de produção, enquanto a Arábia Saudita reduziu de forma voluntária sua produção nacional em 1 milhão de barris por dia nos meses de fevereiro e março. Tudo isso para compensar um aumento de produção em países como Rússia e o Casaquistão e manter sob controle o nível de produção de petróleo no mundo.

Petrobras e PetroRio

No Brasil, a notícia da alta dos preços do petróleo internacional e a possibilidade de oferta e demanda equilibradas nos próximos meses foi muito bem recebida pelas petrolíferas. Petrobras (PETR4) e Petrorio (PRIO3) viram suas ações saltar. As ações da Petrobras são negociadas atualmente acima de R$ 30, patamar que aconteceu apenas antes da pandemia.

Rafael Bevilacqua, estrategista-chefe da Levante Investimentos, explica que as companhias petrolíferas se beneficiam do aumento nos preços do petróleo internacional porque elas também precisam reajustar os preços no Brasil, acompanhando essa alta, o que encarece o valor da commodity nacionalmente. “A mão de obra e custos de extração das petrolíferas é em reais e não em dólar, o câmbio elevado também favorece”, aponta.

Para exemplificar, Bevilacqua cita que antes da crise do coronavírus, o petróleo Brent era negociado no patamar de US$ 65 o barril, mas na época o dólar era equivalente a R$ 4. Então fazendo uma conversão, para a Petrobras cada barril era vendido a R$ 260.

Logo veio a pandemia e o barril foi para o patamar de US$ 20, mas com a recuperação econômica, o petróleo Brent fechou cotado a US$ 56,25 na sexta-feira (8).

“É importante considerar que o dólar também aumentou neste período e foi para o patamar de R$ 5,40”, lembra Bevilacqua. Em consequência, o novo preço de um barril de petróleo Brent seria R$ 303,75. “Mantendo o mesmo custo de produção, as petrolíferas conseguem lucrar mais e isso se traduz em uma geração de caixa absurda para as companhias”, aponta.

Tempos de recuperação

Apesar da pandemia, as petrolíferas conseguiram se recuperar das perdas ainda em 2020. Segundo dados da Economatica Brasil, as ações da PetroRio (PRIO3) fecharam o ano com alta acumulada 112,31%, enquanto os papéis da Petrobras (PETR4) saíram da lama, mas acumularam leve queda de 6,09%.

Desde o seu fundo do poço em 2020 até o dia 7 de janeiro deste ano, as ações da PetroRio (PRIO3) saltaram 615,27%. Durante a crise, a companhia já chegou a ser negociada a R$ 10,35, atualmente o papel é cotado acima de R$ 70.

Enquanto os papéis da Petrobras (PETR4) valorizaram 174,58% desde o fundo do poço em 2020. As ações da petrolífera passaram a ser negociadas de R$ 11,29 para acima de R$ 30 em 2021.

Isso quando falamos em real brasileiro, mas fazendo uma conversão do valor das ações das companhias em dólares Murilo Breder, analista da Easynvest, explica que a Petrobras ainda está bastante descontada em relação a concorrente e tem espaço para valorizar. Veja no gráfico:

Breder aponta que além da clara correlação entre o preço do petróleo e a cotação das ações do setor, o gráfico também evidencia a forte disparada de preços de PetroRio enquanto Petrobras, apesar de também ter subido nos últimos dois meses, ficou relativamente para trás no setor. “Este gráfico é importante porque nos diz como o investidor estrangeiro enxerga o preço das ações”, diz.

No dia 2 de janeiro de 2020, a ação da PETR4 custava US$ 7,64. “Mesmo subindo 66% desde o dia 28 de outubro, o preço do papel em dólares hoje é US$ 5,81. Ainda falta 32% para chegar no patamar inicial de US$ 7,64”, explica Breder.

Para o analista, se o fluxo de estrangeiros na bolsa continuar em alta neste ano, maior serão as chances da Petrobras andar.

O que esperar?

Para quem investe em Petrobras, que recentemente mudou sua política de dividendos, uma boa geração de caixa favorece. Por outro lado, a companhia também tem um custo de extração relativamente baixo, o que melhora ainda mais o retorno aos acionistas.

No caso da PetroRio, apontada por muitos como a nova queridinha da bolsa, os dividendos ainda não fazem parte da estratégia da companhia. Mas analistas de mercado enxergam que os investidores podem se beneficiar pelo rápido crescimento da petrolífera, que já saltou quase 8.000% nos últimos cinco anos, tendo como norte de sua estratégia a redução drástica de custos na extração de petróleo.

Em 2020, a PetroRio alterou seu modelo de negócios: começou a adquirir campos de petróleo próximos e, na sequência, criou um sistema chamado “tieback” – um processo para compartilhar a mesma infraestrutura na extração de petróleo de dois campos vizinhos. Tudo isso graças ao FPSO, um navio que recebe e armazena óleo. Nascia assim um novo formato de produção que reduzia ainda mais os custos de extração.

Mesmo fazendo parte do mesmo setor, Petrobras e PetroRio têm estratégias opostas. Enquanto Petrobras está focada na distribuição de dividendos e desinvestimentos, PetroRio aposta no crescimento acelerado da produção. Em um cenário, com o petróleo internacional em tendência de alta para os próximos meses, os especialistas aconselham ficar de olho nestas diferenças.

Em uma reportagem anterior, o InvestNews fez um levantamento comparando as estratégias de ambas petrolíferas. Veja:

PetroRio (PRIO3) Petrobras (PETR3; PETR4)
Estratégia Está apostando no investimento e crescimento acelerado com o uso do tieback Não tem como comprar novos campos. Está em um fluxo de desinvestimento
Dividendos Não paga dividendos no momento. Reinveste todo seu lucro em aquisições, gerar caixa e pagar dívidas Tem uma boa política de dividendos, mesmo quando não tem lucro contábil
Expansão Está em fase de rápido crescimento, comprando novos campos de petróleo Apresentou um plano para reduzir sua produção de petróleo e gás nos próximos cinco anos.

*Fonte: Casas de análise

No curto prazo, os especialistas consultados pela reportagem enxergam um cenário muito positivo para ambas as ações, PETR4 e PRIO3, por causa da valorização do petróleo internacional que deve manter sua tendência de alta.

Favorece este contexto também a confirmação de Joe Biden na presidência dos Estados Unidos. “2021 será um bom ano para as commodities, por causa de maiores estímulos fiscais, excesso de dólar pelo mundo e países retomando seu crescimento”, afirma Milane.

Embora Biden defenda diminuir a dependência da matriz energética de combustíveis fósseis nos EUA e no mundo, Paletta da Inversa acredita que um novo movimento gradual de transformação energética pode ocorrer nas petrolíferas, imitando a China. “É possível que o petróleo deixe de ser utilizado como poluente e passe a ser uma fonte importante de energia”, explica. O analista defende que um novo ciclo das commodities está começando. A diferença é que os ventos são mais favoráveis por causa do dólar elevado.

Por se tratar de commodities – um setor bastante volátil – os especialistas apontam que olhar para o longo prazo pode ser uma tarefa arriscada, porque tudo vai depender de como o mundo vai reagir no pós-pandemia. Bevilacqua está bastante otimista. “O custo médio do petróleo em todos os países é de US$ 35 o barril. Pior do que estávamos não vamos ficar”, sinaliza.

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