Ao ver o dólar rompendo a barreira de R$ 5,60, você deve estar se perguntando: qual é o limite dessa alta? Ou ainda: não está na hora de o Banco Central intervir para conter essa escalada?
O que especialistas dizem, no entanto, é: apenas duas coisas poderiam mudar a dinâmica do câmbio neste momento: 1) O governo anunciar um corte de gastos convincente; ou 2) O BC sinalizar um ciclo de alta nos juros.
Explica-se. O que faz o dólar subir 12% em três meses é a sensação de que as contas públicas estão saindo do controle. Os gastos federais aumentaram cerca de 8% no primeiro ano de governo e devem subir nessa mesma proporção no segundo. As chances de esse mesmo governo respeitar o arcabouço, que é o conjunto de regras fiscais, nos próximos 2 anos, ficam bem reduzidas.
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Diante dessa visão de casa desorganizada, os agentes econômicos – investidores e empresários – perdem a confiança na capacidade de o país equilibrar suas contas. E muita gente vai embora. Em junho, já saíram da bolsa mais de R$ 6,5 bilhões de capital externo, segundo dados da B3. Isso sem falar na opção de algumas empresas em manter seus recursos no exterior em vez de trazer ao país.
Outro mercado que indica essa má vontade com o real é o de dólar futuro: o volume de posições compradas em dólar, ou seja, apostando na valorização da moeda americana, atingiu US$ 81,9 bilhões. Máxima histórica.
E não adianta o Banco Central tentar vender dólares para conter esse movimento.
Primeiro, porque não cabe a ele determinar qual seria o nível adequado do dólar, mas sim ao mercado, que é quem, afinal, assume o risco de colocar seu dinheiro no real. O BC age para corrigir distorções eventuais, de fato. Mas entende-se que intervir no mercado neste momento seria enxugar gelo.
Até aqui, o governo não deu sinais confiáveis de que está disposto a parar de gastar. E aí, sobra a segunda hipótese para amansar o câmbio: o BC subir os juros. Essa seria uma forma do país remunerar o agente financeiro com um prêmio adicional por toda essa incerteza que está colocada. E aí, quem sabe, o investidor topasse ficar no país.
O mercado financeiro já trabalha com essa possibilidade. O contrato de juro futuro com vencimento em janeiro de 2026 já contempla um aumento de 1 ponto percentual da Selic. Essa é uma forma do investidor se proteger – ou projetar – de um cenário em que o BC realmente suba os juros.
Mas aí a economia como um todo pagaria a conta. A Selic a 10,5% já contrai a atividade econômica. Acima disso, tenderia a asfixiá-la. Isso nos deixa com uma única saída plausível: a do governo anunciar cortes de gastos. “Plausível”, porém, não significa “possível”.
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