A alta de 1% do PIB na comparação com o quarto trimestre de 2021 foi o terceiro período seguido de alta. O resultado foi impulsionado, especialmente, pelo setor de serviços. Apesar do avanço, o indicador veio abaixo das expectativas da maior parte do mercado, que aguardava um incremento de 1,2%.
Agora, especialistas acreditam que os próximos trimestres devem ser de crescimento econômico menor, especialmente por causa da pressão da inflação e, por consequência, da necessidade de continuar elevando a taxa básica de juros, a Selic, (atualmente em 12,75% ao ano) para conter os preços.
Para o banco Goldman Saches, embora parte do ímpeto de crescimento do primeiro trimestre transite para o próximo trimestre, a expectativa é de “ventos contrários intensos”, com condições financeiras domésticas muito apertadas.
Nesse sentido, a Ativa Investimentos aponta para o pico de crescimento trimestral do Brasil nesse primeiro trimestre do ano, já que projeta desaceleração do PIB ao longo dos próximos períodos. Confira abaixo a opinião das casas de análises:
BofA
Em relatório, Davi Beker, analista do Bank of America (BofA), avaliou que a atividade econômica iniciou 2022 em ritmo “forte”, mas ele espera uma desaceleração “à medida que o ciclo de alta dos juros começar a prejudicar a demanda doméstica, principalmente no segundo semestre”. A casa projeta que a Selic termine o ano em 13,25%.
Beker também apontou que a desaceleração global é um risco negativo para o crescimento do próximo semestre, já que o consumo privado e os serviços também foram beneficiados por estímulos fiscais e isenções fiscais, como o atual programa de assistência social Auxílio Brasil e saques do FGTS.
“A inflação ainda é uma preocupação para a demanda doméstica, com o último resultado do IPCA-15 surpreendendo para cima. No geral, mesmo com o aumento de 1,0% no primeiro trimestre do ano, abaixo das expectativas, nossas projeções permanecem em 1,5% para este ano”, escreveu a equipe do BofA.
Necton
Em comentário enviado ao mercado, André Perfeito, economista-chefe da Necton, apontou que de maneira geral os números reiteram melhora na margem, mas também evidenciam os desafios do atual momento.
Um dos fatores que chamou a atenção negativamente, apontou Perfeito, foi o setor externo que teve um resultado “bom” devido à alta das exportações, mas, em compensação, as importações caíram 4,6%, “sugerindo uma atividade doméstica mais fraca mesmo com um real que se apreciou no período”, disse.
Goldman Sachs
Alberto Ramos, do Goldman Sachs, sinalizou que a resiliência do crescimento do primeiro trimestre esteve relacionado, em grande parte, ao estímulo renovado da política fiscal; ao mercado de trabalho mais forte do que o esperado e e ao impacto mais brando da variante ômicron.
O analista apontou ainda que a economia e as famílias se beneficiaram de uma quantidade “razoável” de estímulos orçamentais nos últimos meses, como, por exemplo, subsídios a diesel e gás de cozinha, o início de um sistema mais robusto e amplo programa de transferência de renda, cortes de impostos, cortes de tarifas de importação, saques do FGTS e reajustes salariais de dois dígitos para servidores públicos de governos subnacionais.
“E não descartamos outras medidas para mitigar o impacto da inflação de dois dígitos e estimular o consumo das famílias antes da eleição decisiva de outubro”, disse Ramos ao afirmar que a economia teve um “desempenho satisfatório” durante o primeiro trimestre de 2022, apesar do significativo aperto das condições financeiras e maior aceleração da inflação.
Para Ramos, embora parte do ímpeto de crescimento resiliente do primeiro trimestre transite para o segundo trimestre, a expectativa para o período é de ventos “contrários intensos, com condições financeiras domésticas muito apertadas, inflação de dois dígitos, nível recorde de endividamento das famílias, com ruídos e incertezas gerados por uma eleição polarizadora. “Além disso, a economia no primeiro trimestre de 2023 provavelmente sofrerá o impacto defasado de condições monetárias e financeiras de 2022”, apontou.
Ativa Investimentos
Já Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, apontou que o PIB do primeiro trimestre veio brevemente acima do esperado pela casa, que aguardava avanço de 0,9% ante o quarto trimestre de 2021. “É inegável o processo de recuperação brasileiro, visto que estamos falando de uma aceleração na margem do crescimento frente aos 0,7% exibidos no último trimestre do ano passado”.
Em contrapartida, Sanchez apontou a “decepção” com o desempenho do consumo das famílias e as contrações de agro e da Formação Bruta de Capital Fixo, do lado da demanda. “Do lado da oferta a surpresa fica por conta de serviços, cujo desempenho não foi tão expressivo também”, apontou.
O analista reafirmou ainda a perspectiva da Ativa de 0,8% de crescimento da economia para o ano e apontou para o pico de crescimento trimestral do Brasil nesse primeiro trimestre do ano, já que a casa projeta desaceleração da taxa ao longo dos próximos períodos.
Quantzed
Marcelo Oliveira, CFA e fundador da Quantzed, empresa de tecnologia e educação financeira para investidores, explica que o setor de serviços apresentou um número positivo influenciado pela reabertura do comércio, com o avanço da vacinação contra a covid-19. “Enquanto isso, o setor de agro aparece de forma negativa com recuo de quase 1% em momento em que tivemos problemas de safra, enchentes, exportações suspensas”.
O especialista acrescentou que embora o PIB tenha apresentado um resultado positivo no primeiro trimestre, não é garantia de que teremos dias tranquilos pela frente. “Vemos um segundo semestre muito desafiador para a economia”, disse.
Para Oliveira, a divulgação não vai impactar na bolsa. “O PIB é olhar retrovisor. Não impacta o mercado, pois já é algo precificado. A bolsa tem reagido mais ao macro mundial”.
RB Investimentos
Para Gustavo Cruz, economista e estrategista da RB Investimentos, o PIB do primeiro trimestre confirma uma onda positiva nas atividades da economia e que o bom cenário pode levar a uma onda de revisões do PIB para cima entre as casas de investimentos. A RB Investimentos manteve o cenário de crescimento de 1,5% para o ano, mas com tendências mais positivas.
“A gente tem perspectivas boas para os próximos meses, os dados mostram uma atividade estimulada pelo seu grande motor que é a parte de serviços, que refletem uma população mais confiante ao longo dos três primeiros meses do ano, voltando a consumir serviços e produtos mesmo com a ômicron. Imagino que seja uma tendência para o ano e acho que o setor de serviços vai ser o grande motor das atividades em 2022”.
Embora sinalize existir uma preocupação se a elevação dos juros pode frear a recuperação do país, ele acredita que o impacto não será negativo. “Imagino que possa até desacelerar, mas não acho que vai criar uma recessão, a gente ainda deve ter uma atividade avançando em um ritmo interessante, com o mercado de trabalho melhorando”.