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Economia

Inflação e juros devem esfriar o PIB nos próximos meses, dizem especialistas

Crescimento de 1% da economia no 1º trimestre foi puxado pelo setor de serviços.

Supermercado no Rio de Janeiro 14/03/2020 REUTERS/Sergio Moraes

A alta de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre de 2022 aponta para uma melhora da atividade econômica do Brasil. Mas os próximos meses devem ser de desafios, com uma possível desaceleração desse crescimento, disseram especialistas após a divulgação dos dados do PIB pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira (2).

A alta de 1% do PIB na comparação com o quarto trimestre de 2021 foi o terceiro período seguido de alta. O resultado foi impulsionado, especialmente, pelo setor de serviços. Apesar do avanço, o indicador veio abaixo das expectativas da maior parte do mercado, que aguardava um incremento de 1,2%.

Agora, especialistas acreditam que os próximos trimestres devem ser de crescimento econômico menor, especialmente por causa da pressão da inflação e, por consequência, da necessidade de continuar elevando a taxa básica de juros, a Selic, (atualmente em 12,75% ao ano) para conter os preços.

Para o banco Goldman Saches, embora parte do ímpeto de crescimento do primeiro trimestre transite para o próximo trimestre, a expectativa é de “ventos contrários intensos”, com condições financeiras domésticas muito apertadas.

Nesse sentido, a Ativa Investimentos aponta para o pico de crescimento trimestral do Brasil nesse primeiro trimestre do ano, já que projeta desaceleração do PIB ao longo dos próximos períodos. Confira abaixo a opinião das casas de análises:

BofA

Em relatório, Davi Beker, analista do Bank of America (BofA), avaliou que a atividade econômica iniciou 2022 em ritmo “forte”, mas ele espera uma desaceleração “à medida que o ciclo de alta dos juros começar a prejudicar a demanda doméstica, principalmente no segundo semestre”. A casa projeta que a Selic termine o ano em 13,25%.

Beker também apontou que a desaceleração global é um risco negativo para o crescimento do próximo semestre, já que o consumo privado e os serviços também foram beneficiados por estímulos fiscais e isenções fiscais, como o atual programa de assistência social Auxílio Brasil e saques do FGTS.

“A inflação ainda é uma preocupação para a demanda doméstica, com o último resultado do IPCA-15 surpreendendo para cima. No geral, mesmo com o aumento de 1,0% no primeiro trimestre do ano, abaixo das expectativas, nossas projeções permanecem em 1,5% para este ano”, escreveu a equipe do BofA.

Necton

Em comentário enviado ao mercado, André Perfeito, economista-chefe da Necton, apontou que de maneira geral os números reiteram melhora na margem, mas também evidenciam os desafios do atual momento.

Um dos fatores que chamou a atenção negativamente, apontou Perfeito, foi o setor externo que teve um resultado “bom” devido à alta das exportações, mas, em compensação, as importações caíram 4,6%, “sugerindo uma atividade doméstica mais fraca mesmo com um real que se apreciou no período”, disse.

Goldman Sachs

Alberto Ramos, do Goldman Sachs, sinalizou que a resiliência do crescimento do primeiro trimestre esteve relacionado, em grande parte, ao estímulo renovado da política fiscal; ao mercado de trabalho mais forte do que o esperado e e ao impacto mais brando da variante ômicron.

O analista apontou ainda que a economia e as famílias se beneficiaram de uma quantidade “razoável” de estímulos orçamentais nos últimos meses, como, por exemplo, subsídios a diesel e gás de cozinha, o início de um sistema mais robusto e amplo programa de transferência de renda, cortes de impostos, cortes de tarifas de importação, saques do FGTS e reajustes salariais de dois dígitos para servidores públicos de governos subnacionais.

“E não descartamos outras medidas para mitigar o impacto da inflação de dois dígitos e estimular o consumo das famílias antes da eleição decisiva de outubro”, disse Ramos ao afirmar que a economia teve um “desempenho satisfatório” durante o primeiro trimestre de 2022, apesar do significativo aperto das condições financeiras e maior aceleração da inflação.

Para Ramos, embora parte do ímpeto de crescimento resiliente do primeiro trimestre transite para o segundo trimestre, a expectativa para o período é de ventos “contrários intensos, com condições financeiras domésticas muito apertadas, inflação de dois dígitos, nível recorde de endividamento das famílias, com ruídos e incertezas gerados por uma eleição polarizadora. “Além disso, a economia no primeiro trimestre de 2023 provavelmente sofrerá o impacto defasado de condições monetárias e financeiras de 2022”, apontou.

Ativa Investimentos

Já Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, apontou que o PIB do primeiro trimestre veio brevemente acima do esperado pela casa, que aguardava avanço de 0,9% ante o quarto trimestre de 2021. “É inegável o processo de recuperação brasileiro, visto que estamos falando de uma aceleração na margem do crescimento frente aos 0,7% exibidos no último trimestre do ano passado”.

Em contrapartida, Sanchez apontou a “decepção” com o desempenho do consumo das famílias e as contrações de agro e da Formação Bruta de Capital Fixo, do lado da demanda. “Do lado da oferta a surpresa fica por conta de serviços, cujo desempenho não foi tão expressivo também”, apontou.

O analista reafirmou ainda a perspectiva da Ativa de 0,8% de crescimento da economia para o ano e apontou para o pico de crescimento trimestral do Brasil nesse primeiro trimestre do ano, já que a casa projeta desaceleração da taxa ao longo dos próximos períodos.

Quantzed

Marcelo Oliveira, CFA e fundador da Quantzed, empresa de tecnologia e educação financeira para investidores, explica que o setor de serviços apresentou um número positivo influenciado pela reabertura do comércio, com o avanço da vacinação contra a covid-19. “Enquanto isso, o setor de agro aparece de forma negativa com recuo de quase 1% em momento em que tivemos problemas de safra, enchentes, exportações suspensas”.

O especialista acrescentou que embora o PIB tenha apresentado um resultado positivo no primeiro trimestre, não é garantia de que teremos dias tranquilos pela frente. “Vemos um segundo semestre muito desafiador para a economia”, disse.

Para Oliveira, a divulgação não vai impactar na bolsa. “O PIB é olhar retrovisor. Não impacta o mercado, pois já é algo precificado. A bolsa tem reagido mais ao macro mundial”.

RB Investimentos

Para Gustavo Cruz, economista e estrategista da RB Investimentos, o PIB do primeiro trimestre confirma uma onda positiva nas atividades da economia e que o bom cenário pode levar a uma onda de revisões do PIB para cima entre as casas de investimentos. A RB Investimentos manteve o cenário de crescimento de 1,5% para o ano, mas com tendências mais positivas.

“A gente tem perspectivas boas para os próximos meses, os dados mostram uma atividade estimulada pelo seu grande motor que é a parte de serviços, que refletem uma população mais confiante ao longo dos três primeiros meses do ano, voltando a consumir serviços e produtos mesmo com a ômicron. Imagino que seja uma tendência para o ano e acho que o setor de serviços vai ser o grande motor das atividades em 2022”.

Embora sinalize existir uma preocupação se a elevação dos juros pode frear a recuperação do país, ele acredita que o impacto não será negativo. “Imagino que possa até desacelerar, mas não acho que vai criar uma recessão, a gente ainda deve ter uma atividade avançando em um ritmo interessante, com o mercado de trabalho melhorando”.

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