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Economia

PIX Saque e PIX Troco têm baixa adesão no comércio

Em todo o país, estão cadastrados apenas 15 mil pontos conveniados ao Banco Central. Comerciante recebe pequena tarifa nas transações realizadas.

Casa lotérica da Zona Norte de SP conveniada com o Banco Central para transações do PIX Saque e Troco. Imagem: Tatiana Santiago/InvestNews

Lançados em novembro do ano passado pelo sistema de pagamento instantâneo do Banco Central, o PIX Saque e o PIX Troco ainda têm baixa adesão e contam com apenas 15 mil pontos de atendimento credenciados em todo o país. Comerciantes ouvidos pelo InvestNews informaram que questões de segurança e pouco interesse de usuários estão entre os motivos para o sistema ainda não ter caído no gosto do brasileiro.

O PIX Saque, que permite ao cliente sacar dinheiro em espécie nos estabelecimentos comerciais, teve 285.701 transações realizadas entre os meses de dezembro de 2021 a março de 2022, movimentando o equivalente a R$ 40,6 milhões.

Já o PIX Troco, que também possibilita o saque em forma de troco após a realização de uma compra ou prestação de serviço, funciona de forma ainda mais restrita, com 5.055 transações realizadas até março deste ano, último período de divulgação do BC. O valor das transações foi de pouco mais de R$ 583 mil no período.

Para termos um efeito de comparação, quando o PIX foi criado, em novembro de 2020, apenas no primeiro mês foram realizadas 34,9 milhões de transações. Nos quatro primeiros meses, o número de transferências realizadas via PIX totalizou mais de 344 milhões.

Para Edgard de Castro, vice-presidente de Relações Institucionais da AFRAC (Associação Brasileira de Tecnologia para o Comércio e Serviços), o PIX Saque e o PIX Troco, o baixo número de pontos conveniados no país já era previsto.

“Embora tímido, o número de estabelecimentos cadastrados é o esperado. O aumento será motivado por um melhor uso de sistemas, com menos atrito para os consumidores e também de soluções bancárias mais baratas e atraentes. Os varejistas precisam entender que para serem mais competitivos terão que mudar algumas atitudes, por exemplo, ver outras instituições que tenham taxas menores no recebimento do PIX, atualizar sistemas visando melhor tecnologia de negócios, ofertas de meios de pagamento e não apenas serem motivados por necessidades fiscais”, afirmou.

Ele destaca que a abertura de conta em bancos digitais é uma ótima alternativa para pagar menos taxas e aumentar a competitividade.

Como funciona?

O PIX Saque e o PIX Troco funcionam através de um QRCode, que o usuário vai ler da sua conta para a de quem está disponibilizando o serviço. Assim, o estabelecimento entrega, em dinheiro, o valor correspondente no momento da transação.

Entre os pontos cadastrados que aderiram ao novo modelo de pagamento instantâneo estão estabelecimentos comerciais, correspondentes bancários e caixas eletrônicos.

Insegurança

Carla Ribeiro, dona de padaria em SP, diz que não aderiu ao PIX Saque e Troco com medo de assaltos. Imagem: Tatiana Santiago

Um dos motivos para a baixa adesão, segundo os comerciantes ouvidos pela InvestNews, é o medo da violência e insegurança.

A dona de uma padaria na Zona Norte de São Paulo, a empresária Carla Ribeiro, de 33 anos, conta que seu comércio foi assaltado duas vezes e acredita que a adesão ao PIX Saque e Troco possa ser mais um chamariz para a criminalidade.

“Isso é muito perigoso para o comércio, a gente acaba tendo uma movimentação maior de dinheiro. O risco que a gente corre não vale a pena”, afirmou a comerciante.

Já Edgar de Castro ressalta que a adesão a esse tipo de modalidade do PIX é benéfico para os comerciantes que vão ficar com menos dinheiro em caixa e diminuir os custos operacionais do transporte para bancos.

“Sem dúvida, a adesão do PIX pelos pequenos e médios varejistas irá refletir no maior uso dessas transações [Saque e Troco], uma vez que o manuseio de dinheiro em espécie para o varejista é sempre um problema devido à falta de segurança, necessidade de coleta e depósito, necessidade de troco e custos operacionais. Além disso, passa a ser mais uma forma de receita para o varejo, pois essas transações geram um pequeno ganho ao invés do custo tradicional da logística de coleta de valores”, afirmou.

Também na Zona Norte da capital paulista, uma casa lotérica que é cadastrada pelo Banco Central para realizar esses tipos de operações, teve pouca movimentação deste tipo de transação, apesar da grande movimentação de dinheiro que circula pelo local.

De acordo com uma funcionária do correspondente bancário, que preferiu não se identificar, desde que a lotérica aderiu a essas novas modalidades de pagamento, a procura foi muito baixa.

“Até hoje só vi troco do PIX, não vi pedirem nenhum saque aqui. Não sei se por falta de conhecimento de que é um ponto cadastrado ou falta de interesse mesmo. Só sei que ainda não engatou”, conta ela.

O pintor de carros José Carlos Soares, 54, morador do Parque Edu Chaves, diz que prefere usar os meios mais antigos, que ele considera como “tradicionais” para sacar dinheiro.

“É interessante, mas ainda prefiro sacar no caixa eletrônico ou no banco”, afirmou ele que se diz avesso às modernidades.

José Carlos Soares diz que prefere sacar dinheiro no banco, apesar de frequentar lotérica cadastrada para o PIX Saque e PIX Troco. Imagem: Tatiana Santiago/InvestNews

Benefícios para o comércio

Atração de clientes

Os estabelecimentos comerciais viram pontos de conveniência, onde as pessoas podem sacar dinheiro. Esse fluxo pode trazer para dentro dos pontos de venda novos potenciais clientes que passam a consumir o seu produto ou serviço principal depois de conhecê-lo por uma necessidade primeira de um saque, por exemplo.

Fidelização

Essa mesma função de conveniência não apenas atrai, como também fideliza os potenciais clientes ao oferecer um benefício 2 em 1 e, portanto, com isso, se diferenciar da sua concorrência local.

Recebimentos

O comércio recebe uma pequena tarifa nas operações, que pode variar de R$ 0,25 a R$ 0,95 por transação. Individualmente pode não parecer atrativo, mas no volume o serviço pode representar uma nova fonte de renda ao estabelecimento.

Liberdade

Apesar dos limites de saque estipulados pelo Banco Central, de R$ 500 durante o dia e de R$ 100 à noite, entre 20h e 6h, o comerciante tem autonomia para fixar os limites das transações. Ou seja, a adesão às modalidades é totalmente customizável para não impactar, por exemplo, a disponibilidade de troco das lojas.

Logo do PIX

Como saber os locais cadastrados?

A Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs) e a Pay Ventures desenvolveram, em parceria, um mapa gratuito com a lista de postos de atendimento.

O Mapa PIX mostra os pontos conveniados aparece atualizado a cada duas horas com dados do Banco Central.

O sistema mostra a localização, o nome, o horário de funcionamento do estabelecimento e valor máximo disponível para ser retirado em dinheiro naquele local.

De acordo com o mapa, as regiões Sudeste e Sul do país tiveram o maior número de adesões ao meio de pagamento.

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