O plano do governo para baratear os combustíveis e controlar a inflação pode desencadear um aumento na produção de açúcar no Brasil, maior exportador mundial, em um mercado que já deve ter superávit.
A Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei que estabelece um teto entre 17% e 18% para o ICMS estadual sobre combustíveis, que responde por quase um terço dos preços finais. Caso passe no Senado, governadores e prefeitos provavelmente recorrerão ao Supremo Tribunal Federal, alegando que a lei interfere na autonomia dos estados.
Na segunda-feira, O presidente Jair Bolsonaro anunciou mais detalhes de seus esforços para reduzir os custos de energia. Seu governo vai eliminar todos os impostos federais sobre gasolina e etanol até o final do ano, e convidou os estados a fazerem o mesmo para o diesel e o gás natural, dizendo que o Tesouro compensaria a perda de receita.
Etanol menos competitivo
A redução do ICMS tornaria o etanol menos competitivo em relação à gasolina e provavelmente levaria a uma maior produção de açúcar.
As vendas de etanol das usinas caíram 24% na primeira quinzena de maio, segundo dados da Unica. Os preços do etanol hidratado, que pode abastecer carros flex, caíram 12% desde o início de maio em São Paulo. Isso foi logo após o aumento da pressão do governo sobre a Petrobras para segurar os preços da gasolina em ano de eleição.
A política atual é um golpe para as usinas, que investiram nos últimos anos na esperança de expansão, disse Michael McDougall, diretor administrativo da Paragon Global Markets. “A demanda por etanol ficará restrita se a Petrobras não aumentar os preços da gasolina, e será reduzida ainda mais se o ICMS for aprovado”, disse.
A “euforia” do mercado por um mix de produção mais favorável ao etanol ficou para trás, disse Bruno Lima, gerente de risco sênior da StoneX Financial. A última medida de Bolsonaro pode fazer os preços do etanol caírem mais 20%, acrescentou.
Dadas as perspectivas de deterioração, as usinas devem começar a desviar mais cana para produzir açúcar, disse Lima. A StoneX projeta que usinas na região Centro-Sul do país usarão em média 55,2% da cana para produzir etanol nesta safra, menos do que os 59,2% usados para combustível na primeira quinzena de maio.
Em Nova York, os futuros de açúcar bruto caíram 3% na terça-feira, a maior queda desde 22 de abril.
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