Powell ainda não está pronto para dizer que a inflação nos EUA está caindo de forma sustentável

O chair do Federal Reserve, Jerome Powell, disse nesta quarta-feira (10) que não estava pronto para concluir que a inflação está caindo de forma sustentável para 2%, embora tenha “alguma confiança nisso”.

Questionado se estava convencido de que a inflação estava regressando à meta central, de 2%, Powell disse ao Comitê de Serviços Financeiros da Câmara dos EUA: “Não estou pronto para dizer isso”, embora as leituras recentes representem mais progressos em direção ao objetivo.

O presidente do Fed evitou dar quaisquer sinais fortes sobre o momento dos cortes nas taxas de juro, embora tenha enfatizado que os decisores políticos enfrentam riscos por agirem demasiado rápido ou o lento.

Apesar desses riscos estarem mais equilibrados e embora os membros do Fed ainda estejam empenhados em reduzir a inflação, ainda há uma preocupação com o desemprego.

“O trabalho não está feito em relação à inflação, temos mais trabalho a fazer aí”, disse Powell, acrescentando que os decisores políticos também estão muito concentrados no “abrandamento considerável do mercado de trabalho”.

As observações de Powell ao Congresso sugerem que é pouco provável que o Comité Federal de Mercado Aberto reduza as taxas quando se reunir em 30 e 31 de Julho. O Fed manteve a sua taxa de juro num intervalo entre 5,25% e 5,5%, um máximo em mais de duas décadas, durante quase um ano.

LEIA MAIS: Inflação americana surpreende: 0,00% no CPI de maio

Já sobre a corrida à Casa Branca, o chair do FED disse que a política não desempenha nenhum papel nas escolhas que o banco central norte-americano terá que fazer quando se trata de política monetária.

“Tomamos as nossas decisões com base em dados econômicos” e nas expectativas sobre as perspectivas, disse Powell em painel do Congresso.

“Não estamos olhando para coisas como o ciclo eleitoral” quando pensamos se devemos ou não alterar a meta da taxa de juros, acrescentou.

Balanço patrimonial

O Federal Reserve tem “um longo caminho a percorrer” para reduzir o tamanho de seu balanço patrimonial, com o ponto final do aperto quantitativo ainda incerto, disse Powell.

O Fed já reduziu o tamanho de sua participação em cerca de US$ 1,7 trilhão, mas irá cuidadosamente até um ponto de parada para garantir que as instituições financeiras tenham acesso a reservas adequadas.

“Fizemos muito progresso”, disse Powell, mas “sentimos que ainda temos um longo caminho a percorrer”.

O Fed aumentou seu balanço em resposta à pandemia de covid-19 para ajudar a suprimir os juros de longo prazo e sustentar a economia. Atualmente, o Fed está permitindo que até US$ 25 bilhões por mês de seus títulos do Tesouro e US$ 35 bilhões em títulos lastreados em hipotecas expirem à medida que vencem.

Esse foi o segundo dia de depoimento de Powell perante o Congresso dos EUA, um exercício semestral que inclui análise das condições econômicas e da política monetária e, normalmente, um interrogatório dos parlamentares sobre questões regulatórias e outras questões também.

Como fizeram em uma audiência na terça-feira (9) perante o Comitê Bancário do Senado, parlamentares republicanos questionaram Powell sobre as propostas de regulamentação bancária que têm atraído a oposição do setor e de autoridades do Partido Republicano.

Os democratas tentaram convencê-lo a responder sobre uma agenda de propostas de um grupo alinhado aos republicanos, chamada Projeto 2025, para reformular e potencialmente enfraquecer o Fed.

Perguntado sobre sua opinião a respeito do mandato atual do Fed, estabelecido pelo Congresso, de manter os preços estáveis e o pleno emprego, Powell disse que acha que o arranjo atual tem servido bem ao BC americano. Alguns críticos do mandato duplo acham que o Fed deveria se concentrar apenas na inflação.

O mandato duplo “tem sido uma coisa boa”, disse Powell, e não tem impedido que o Fed faça o que for necessário para reagir ao aumento dos preços.

Questionado sobre uma rodada de mudanças de 2020 na estratégia de política monetária do Fed que permitiu a manutenção de uma inflação mais alta para compensar os períodos de inflação fraca, Powell disse que isso foi aprovado em um momento em que os juros baixos pareciam endêmicos.

Desde então, “a taxa de juros neutra deve ter subido no curto prazo”, disse Powell, observando que a taxa de juros de referência “restritiva”, fixada na faixa de 5,25% a 5,5% desde julho de 2023, está sendo usada para conter a inflação.

Seus outros comentários acompanharam a audiência de terça-feira no Senado, mostrando tanto uma maior fé em um declínio contínuo da inflação quanto uma sensibilidade crescente sobre o risco de manter a política monetária muito apertada por muito tempo e desacelerar a economia mais do que o necessário.

A taxa de desemprego dos EUA agora é de 4,1%, um número que Powell considera baixo pelos padrões históricos, mas que vem aumentando gradativamente há um ano. Ela também está acima do nível que muitos economistas e autoridades do Fed consideram representar o pleno emprego sustentável.

Assim como fez na terça-feira, Powell disse aos membros da Câmara que “mais dados bons” reforçarão o argumento para que o banco central corte os juros.