O preço da gasolina no Brasil está há quase um ano no patamar de R$ 6 por litro, segundo a média divulgada pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Isso significa, considerando a correção pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), uma volta aos níveis do preço da gasolina em 2006. 

É o que aponta um levantamento feito pelo InvestNews. O dado mais recente da ANP aponta que, em média, o litro da gasolina custa R$ 6,68 para o consumidor brasileiro. São 11 meses com preço médio acima de R$ 6 – a maior sequência desde 2006. 

Preço da gasolina nas bombas com correção pelo IPCA. Elaboração: Samy Dana

É importante ressaltar que o valor ainda não contempla os preços após o reajuste anunciado pela Petrobras (PETR3 e PETR4) no último dia 10, com alta de quase 19% no preço da gasolina nas refinarias. Segundo cálculos do economista-chefe da Necton, André Perfeito, essa mudança deve representar um aumento de 11% do preço da gasolina nas bombas.

O reajuste da Petrobras veio na esteira de uma forte alta na cotação do petróleo no exterior em meio à guerra na Ucrânia após a invasão do país pela Rússia – um dos maiores produtores de petróleo do mundo. Agora, embora a pressão sobre os preços da commodity tenha começado a diminuir, especialistas não enxergam alívio para o bolso do consumidor. 

“Não devemos ver recuo de preços no país, uma vez que há ainda alguma diferença entre os preços domésticos e externos”, diz Perfeito. 

Valor do barril de petróleo: cotação do Brent em 15/03/2022. Elaboração: Samy Dana

Preço da gasolina em 2006 x 2022

Mas o que o preço da gasolina em 2006 tem em comum com o cenário de 2022? Especialistas ouvidos pelo InvestNews apontam que, além da flutuação da cotação do petróleo, o câmbio também deve ser levado em conta nessa comparação. 

“No caso brasileiro, é preciso levar em conta que tem um valor fundamental para o preço do petróleo, que é a taxa de câmbio”, lembra Fernando de Holanda Barbosa, doutor em Economia. Isso porque, quando o dólar está alto em relação ao real, o preço do petróleo, cotado na moeda norte-americana, fica ainda mais caro no Brasil e afeta o mercado nacional. 

Em 2006, a cotação do petróleo atingiu US$ 100 por barril, em um momento em que o dólar estava um pouco acima de R$ 2,10. Outros momentos em que o preço da gasolina esteve acima do patamar de R$ 6 para o consumidor (ainda considerando dados corrigidos pelo IPCA) foram 2001, 2002 e 2003. 

“Em 2006, houve uma guerra civil no Iraque. Dali até o período da crise do subprime (em 2008), teve impacto no barril de petróleo. E, em 2002 e 2003, é mais questão do deflator do que outra coisa, porque a gente teve naquele momento o ‘efeito Lula’, quando câmbio também acelerou bastante (por receios sobre a eleição)”, diz Matheus Peçanha, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (IBRE/FGV).

Mas, a despeito da comparação de cenários em 2022 e 2002, ou até anos anteriores, Pedro Rodrigues, sócio na CBIE Advisory (Centro Brasileiro de Infraestrutura), diz que “analisar aumento de gasolina e diesel por IPCA é um número um pouco distorcido”, pois “a gasolina e o diesel são do mercado de petróleo, que é mundial”. 

Ele destaca os “fatores endógenos da indústria do petróleo”, ou seja, motivos que “são de dentro da indústria do petróleo” e acabam afetando a cotação. Um exemplo seria que, “antes da pandemia, ou do meio da pandemia para a frente, nós tivemos uma tendência de alta de preço porque esse fator desarrumou as cadeias produtivas no mundo”, segundo Rodrigues.

Naquele momento, “muitos produtores de petróleo acabaram deixando de produzir porque o preço [caiu]… Quando a pandemia foi passando e as pessoas voltaram a andar de avião e a demanda começou a voltar, a oferta não acompanhou. Então, você teve um descasamento e o preço teve uma tendência de alta”. 

Rodrigues acrescenta que também “existem fatores exógenos à indústria, que é uma guerra, como a gente está vivendo hoje. Um ataque terrorista no mundo, explosão de uma facility de petróleo, que já aconteceu na Arábia Saudita. São fatores que também mexem no preço”.

Veja abaixo a tabela de preços da gasolina desde 2006 corrigidos pelo IPCA:

MÊS R$ POR LITRO
jan/06 6,12
fev/06 6,12
mar/06 6,25
abr/06 6,26
mai/06 6,22
jun/06 6,14
jul/06 6,16
ago/06 6,16
set/06 6,14
out/06 6,10
nov/06 6,06
dez/06 6,02
jan/07 5,97
fev/07 5,93
mar/07 5,91
abr/07 5,93
mai/07 5,93
jun/07 5,88
jul/07 5,82
ago/07 5,75
set/07 5,70
out/07 5,69
nov/07 5,70
dez/07 5,71
jan/08 5,67
fev/08 5,60
mar/08 5,59
abr/08 5,56
mai/08 5,52
jun/08 5,47
jul/08 5,45
ago/08 5,44
set/08 5,44
out/08 5,42
nov/08 5,41
dez/08 5,41
jan/09 5,38
fev/09 5,35
mar/09 5,34
abr/09 5,28
mai/09 5,23
jun/09 5,21
jul/09 5,21
ago/09 5,21
set/09 5,18
out/09 5,25
nov/09 5,27
dez/09 5,26
jan/10 5,29
fev/10 5,30
mar/10 5,20
abr/10 5,13
mai/10 5,09
jun/10 5,06
jul/10 5,06
ago/10 5,08
set/10 5,06
out/10 5,08
nov/10 5,07
dez/10 5,06
jan/11 5,04
fev/11 5,02
mar/11 5,07
abr/11 5,32
mai/11 5,33
jun/11 5,13
jul/11 5,11
ago/11 5,10
set/11 5,08
out/11 5,07
nov/11 5,04
dez/11 5,02
jan/12 4,98
fev/12 4,94
mar/12 4,94
abr/12 4,91
mai/12 4,89
jun/12 4,87
jul/12 4,85
ago/12 4,82
set/12 4,79
out/12 4,78
nov/12 4,78
dez/12 4,75
jan/13 4,73
fev/13 4,91
mar/13 4,88
abr/13 4,84
mai/13 4,80
jun/13 4,76
jul/13 4,75
ago/13 4,73
set/13 4,71
out/13 4,68
nov/13 4,67
dez/13 4,80
jan/14 4,79
fev/14 4,75
mar/14 4,75
abr/14 4,73
mai/14 4,69
jun/14 4,66
jul/14 4,64
ago/14 4,64
set/14 4,61
out/14 4,59
nov/14 4,64
dez/14 4,64
jan/15 4,58
fev/15 4,93
mar/15 4,90
abr/15 4,84
mai/15 4,79
jun/15 4,76
jul/15 4,72
ago/15 4,71
set/15 4,66
out/15 4,91
nov/15 4,99
dez/15 5,03
jan/16 5,02
fev/16 5,02
mar/16 5,03
abr/16 4,98
mai/16 4,88
jun/16 4,83
jul/16 4,79
ago/16 4,79
set/16 4,78
out/16 4,79
nov/16 4,79
dez/16 4,86
jan/17 4,89
fev/17 4,85
mar/17 4,75
abr/17 4,68
mai/17 4,64
jun/17 4,56
jul/17 4,56
ago/17 4,84
set/17 4,96
out/17 4,96
nov/17 5,08
dez/17 5,16
jan/18 5,28
fev/18 5,29
mar/18 5,27
abr/18 5,28
mai/18 5,38
jun/18 5,61
jul/18 5,52
ago/18 5,47
set/18 5,66
out/18 5,74
nov/18 5,60
dez/18 5,32
jan/19 5,18
fev/19 5,07
mar/19 5,17
abr/19 5,30
mai/19 5,43
jun/19 5,33
jul/19 5,18
ago/19 5,13
set/19 5,14
out/19 5,20
nov/19 5,21
dez/19 5,29
jan/20 5,34
fev/20 5,29
mar/20 5,19
abr/20 4,74
mai/20 4,47
jun/20 4,63
jul/20 4,82
ago/20 4,92
set/20 4,88
out/20 4,98
nov/20 4,99
dez/20 5,01
jan/21 5,15
fev/21 5,47
mar/21 6,01
abr/21 5,95
mai/21 6,07
jun/21 6,13
jul/21 6,20
ago/21 6,28
set/21 6,36
out/21 6,55
nov/21 6,90
dez/21 6,77
jan/22 6,70
fev/22 6,60
mar/22 6,68

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