O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu mais que o esperado no 1º trimestre de 2023 puxado pelo agronegócio, que por sua vez teve impulso de itens como a soja. Neste cenário, se a queda de preços de commodities persistir, juntamente da desaceleração dos níveis de exportação, o desempenho da economia deve ser impactado.
De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), o preço médio das commodities, desconsiderando combustíveis e petróleo, teve uma elevação de março para abril, mas acumulou uma queda de 11% nos primeiros quatro primeiros meses do ano. Além disso, os valores ainda são muito inferiores aos patamares que estavam há um ano.
Dados apontam que os níveis de exportações de commodities seguem a mesma tendência de desempenho do PIB brasileiro, segundo levantamento da Austin Rating. Observando uma série histórica, com a seleção das principais commodities exportadas pelo Brasil e o PIB real, o estudo revelou que na comparação de um ano para o outro os movimentos dos indicadores foram bastante similares.
Essa tendência não é exclusividade do Brasil. Fernando Ribeiro, coordenador de estudos em comércio internacional do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), lembra que as relações entre as variações de preços, os níveis de exportação de commodities e o desempenho do PIB já foram identificadas há bastante tempo em diversas economias.
Segundo Ribeiro, existem diversas razões que explicam o fenômeno, mas entre as principais estão:
- aquecimento da economia internacional;
- arrecadação de impostos;
- variação de câmbio.
No primeiro caso, o aquecimento da economia internacional geralmente eleva a demanda por importações de commodities, o que pode beneficiar países exportadores, assim como elevar os preços. “Esse aquecimento da economia internacional tradicionalmente transborda para a economia brasileira e gera um estímulo ao crescimento”, diz. “Na verdade, tem um efeito da demanda internacional propriamente dita. E aí a relação de preços e PIB tem a ver com isso.”
Já no segundo caso, países que são grandes exportadores de commodities, em momentos de maior comércio e elevação de preços, acabam gerando mais receita aos governos, o que pode favorecer os PIBs. “O setor de commodities é muito formalizado, ao contrário da grande parte do resto da economia que é informal, não paga impostos etc”, comenta Ribeiro.
Já o câmbio também tende a ser influenciado e gerar impactos econômicos. O aumento da receita de exportação de commodities eleva a entrada de dólares no país, o que faz com que a moeda caia e o câmbio do país exportador valorize.
“No curto prazo, uma uma valorização do câmbio tem efeito positivo sobre o crescimento economia. Efeito que dura normalmente 6 a 12 meses. Barateia os produtos importados, tanto para o consumidor quanto para as empresas que querem investir em equipamentos… Isso estimula o consumo, investimento e gera maior crescimento da economia”, diz Ribeiro.
Participação das exportações de commodities no PIB
Apesar dos níveis de exportações acompanharem o desempenho do PIB, eles não representam o maior percentual na composição o indicador. Em 2022, a parcela foi de 11%. Para este ano, a estimativa é de 10%, segundo levantamento da Austin Rating.
Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, comenta que a exportação de commodities é de fato importante para o crescimento da economia no Brasil, mas não só pelas relações comerciais com o exterior.
Ele explica que, na verdade, antes de exportar as matérias primas, existem movimentos nos setores de serviços e da indústria, que acabam trazendo um percentual de participação ainda maior para a composição do PIB.
Na mesma linha, Ribeiro, do Ipea, afirma que a alta da demanda e de preços das commodities e, por consequência, a valorização da moeda nacional, tendem a gerar um “choque na economia que se espalha para outras atividades”, por exemplo, para o setor de serviços e da indústria.
Depender de commodities: bom ou ruim?
Ribeiro afirma que a economia brasileira é muito sensível aos eventos externos, principalmente aos choques de preços de commodities, o que geralmente prejudica toda a cadeia de crescimento do país.
“A gente deveria ter condições de estar um pouco mais protegido. Economias que são mais industrializadas e diversificadas criam menos dependência de commodities, e acabam não sendo tão sensíveis assim.”
Fernando Ribeiro, do Ipea.
Do mesmo modo, Sillas Cezar, professor de Economia na Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), explica que “quando os preços internacionais desses produtos estão vantajosos, o Brasil obtém receitas diretas, em dólares, das exportações”.
“Além do próprio enriquecimento do setor, que se vê em melhores condições de investir e expandir suas atividades, essa maior fartura relativa de dólares acaba por reduzir pressões inflacionárias, preservando assim o poder de compra médio da população”, diz ele.
O professor ainda aponta que, no caso do Brasil, as exportações de commodities agrárias são as mais relevantes para os resultados de crescimento.
Para mudar o foco macroeconômico e depender menos da exportação de itens agrários, seria preciso investir mais na indústria da transformação.
“A indústria de transformação eleva a produtividade média, cria novas cadeias produtivas, gera inovação, expande a matriz tecnológica e, no longo prazo, melhora significativamente as condições de vida da população, pois empregos industriais são os mais bem remunerados, o que, por consequência final, potencializa a capacidade de investimento total na economia. Por mais tecnológico que seja o nosso agronegócio, ou por mais dinâmico que seja nosso comércio, eles nem de longe têm essas condições.”
Sillas Cezar, da FAAP.
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