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Economia

Quem ganha com a ‘revolução energética’ de Joe Biden?

O presidente eleito Joe Biden prometeu um investimento de quase US$ 2 tri para fazer uma transição energética nos EUA.

Joe Biden/Wikimedia Commons

Na campanha para eleição presidencial dos EUA em 2016, a fim de marcar posição contra seu adversário climático, a candidata Hillary Clinton declarou que colocaria diversas empresas exploradoras de carvão mineral “out of busines. A fala surgiu em um evento político adverso, e vários trabalhadores dessas companhias votaram no republicano Donald Trump, que prometia restaurar a indústria.

Na campanha presidencial deste ano, os democratas fizeram uma nova abordagem do tema. Dessa vez prometendo uma transição energética, o que inclui um compromisso de compensar financeiramente, ou com novas oportunidades, as comunidades e os trabalhadores que arriscaram suas vidas para obter o combustível com o qual o país se desenvolveu e se industrializou. 

A agenda climática do candidato eleito Joe Biden foi considerada ambiciosa pela maioria dos analistas. Entre os pontos principais, ela sustenta, desde a possibilidade de uma “revolução de energia limpa”, que zeraria as emissões de carbono na geração elétrica até 2035, com um investimento de quase US$ 2 trilhões, até a volta dos EUA ao Acordo de Paris

Agora com a vitória assegurada, o tom ambicioso da campanha diminuiu, e os nomes escolhidos para integrar o governo Biden começam a surgir, ao mesmo tempo em que surgem as críticas. Qual será de fato a prioridade de Joe Biden na busca por uma transição energética? Será possível ver reflexos dos futuros incentivos americanos à energia renovável pelo mundo?

Consenso global

Atualmente, o mercado petrolífero é responsável por quase 4% do PIB global e o emprego de quatro milhões de pessoas. Não será da noite para o dia que se abandonará os combustíveis fósseis, mas segundo os especialistas, há um entendimento geral de que a demanda por eles está com os dias contados.

“A indústria do petróleo e gás percebeu que hoje o mundo é outro. Não há saída para o negacionismo”, avalia Rachel Andalaft, sócio-fundadora da REA Consult, empresa focada na viabilização de investimentos e gestão de transações em energia renovável. 

Segundo ela, além do fator ambiental, a geração de energia a partir de combustíveis fósseis tem perdido espaço para a energia limpa, em alguns casos, por conta do custo. Um exemplo é a própria indústria do carvão nos EUA, que tem difícil extração, arrisca a vida dos trabalhadores e da comunidade ao seu redor.

“Um ponto ou outro, uma discórdia pode existir. Mas de modo geral, o mundo tem trabalhado para criar fontes de energia limpa”, afirma Reinaldo Lacerda, sócio da Hieron Patrimônio Familiar e Investimento. Ele participou da implementação dos primeiros fundos de infraestrutura para energia renovável no Brasil.

Até o governo de Barack Obama, os EUA tinham protagonismo importante na busca pela transição energética, que ficou marcado na assinatura do Acordo de Paris no final de 2015. Com o governo Donald Trump, quem tomou essa liderança foi a China e a Europa, sobretudo a Alemanha.

A transferência de poder para os democratas concretiza um alinhamento político mundial. “Até a Rússia saiu da toca, como a gente diz, e apresentou um plano para diminuição das emissões de carbono”, salienta Andalaft.

Fronteira Tecnológica

O grande desafio das energias renováveis continua sendo a oscilação na geração. A energia solar depende do nível de insolação, enquanto a energia eólica depende da frequência de ventos. E por isso, o que acontece é que a geração de energia é complementada ainda por usinas termelétricas, movidas a combustíveis fósseis.

Segundo Andalaft, isso motiva o desenvolvimento de baterias químicas mais eficientes, capazes de armazenar excedente de produção, e revertê-lo para estabilizar as oscilações. O grande investimento dos EUA prevê pesquisas para esse setor, que será cada vez mais necessário.

Além disso, Andalaft lembra que existe um movimento mundial em busca de novos combustíveis. Um deles é o hidrogênio, que não gera contaminantes mas ainda depende de uma tecnologia eficiente de armazenamento.

Enquanto a tecnologia prospera, o Brasil aparece com um grande potencial de investimento. “Na área de energia eólica nós temos regiões que ventam muito, e na energia solar então, temos um potencial maior ainda. O país tem uma áreas onde o índice de insolação é um dos maiores do mundo”, explica Lacerda.

Quem sai na frente?

Uma das indicações do governo Joe Biden já revelada é o democrata Cedric Richmond. Ele é criticado por ser patrocinado por empresas de petróleo, e votar contra a maioria do partido em pautas ambientais. Mas Andalaft não vê um grande problema. “As empresas petrolíferas já entenderam que tem que fazer parte da solução”, argumenta.     

Lacerda lembra que uma das maiores petrolíferas do mundo, a Shell, já desenvolve tecnologia e inovação nesse sentido. Ele acredita que o custo de extração vai ser o critério maior para a descarbonização. Por isso, no Brasil, a aposta da Petrobras em desinvestimento, para focar na extração barata do pré-sal, pode abrir espaço no orçamento para desenvolver tecnologia.

Nos EUA, Andalaft chama atenção para a maior produtora de células fotovoltaicas do mundo, a Jinko. Apesar de sua sede ficar em Shangai, na China, em 2010 a empresa abriu capital no mercado de Nova York (NYSE). Em setembro, a companhia acumulou mais de 74% de valorização, em outubro, chegou a valorizar mais 46%, e em novembro, por enquanto, já garantiu mais 9%.

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