“Os produtores de soja do nosso país estão sendo prejudicados porque a China, apenas por razões de ‘negociação’, não está comprando”, escreveu Trump em uma rede social na quarta-feira. “Nós arrecadamos tanto dinheiro com tarifas que vamos usar uma pequena parte desse valor para ajudar nossos agricultores. NUNCA VOU DEIXAR NOSSOS AGRICULTORES NA MÃO!… Vou me reunir com o presidente Xi, da China, em quatro semanas, e a soja será um dos principais tópicos de discussão.”
Os produtores americanos vêm perdendo espaço para Brasil e Argentina por causa das tarifas. Isso dói ainda mais porque os EUA permitiram que a Argentina acessasse uma linha de swap de US$ 20 bilhões e chegaram a cogitar até comprar dívida do governo argentino. A administração busca apoiar o presidente Javier Milei, aliado de Trump, antes das eleições legislativas deste mês.
A promessa de Trump de usar a receita das tarifas para ajudar os agricultores, repetida após declaração semelhante na semana passada, lembra o pacote de socorro de US$ 32 bilhões que ele ofereceu ao setor em seu primeiro mandato. Analistas acreditam que os EUA devem permitir algo de valor parecido agora, por meio de um programa de compras da Commodity Credit Corporation, já que o setor enfrenta dificuldades em três frentes — todas ligadas às políticas da atual administração.
A repressão à imigração tornou mais difícil encontrar mão de obra, tarifas sobre produtos de outros países prejudicam as exportações agrícolas americanas e os preços de alguns equipamentos agrícolas estão subindo — também como efeito das tarifas.
Se o pacote de ajuda for muito maior que o do primeiro mandato, analistas avaliam que isso pode indicar preocupação de que os agricultores tenham perdido participação de mercado de forma permanente.
“Houve uma certa frustração após o socorro à Argentina [entre agricultores], mas, de maneira geral, essa questão está ganhando força agora, com a chegada da colheita de outono e o aumento da pressão”, disse Owen Tedford, analista da Beacon Policy Advisors. “Espero que isso continue nas próximas semanas, especialmente se o padrão não mudar antes da cúpula com Xi.”
Um venda nada fácil
Os agricultores americanos esperavam que as recentes conversas entre EUA e China resultassem em compromissos de compra de produtos agrícolas, possivelmente em um acordo semelhante ao que Trump firmou em seu primeiro mandato. Esse acordo incluía promessas de compra que Pequim, no fim, não cumpriu.
As expectativas por um novo entendimento agora diminuem, já que Trump declarou que não visitará Xi Jinping em Pequim antes do ano que vem. Em vez disso, os dois devem se encontrar à margem da cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico, no fim do mês, na Coreia do Sul.
Analistas veem pouca chance de um acordo significativo no fórum.
“Pode ser apenas um passo preparatório para uma eventual visita de Trump à China, mas não há tempo para construir algo robusto em termos de resultados”, disse Michael Hirson, chefe de pesquisa sobre China na 22V Research.
Há outras complicações. Uma das prioridades de Pequim nas negociações com os EUA — inclusive no caso da venda do TikTok, controlado pela chinesa ByteDance, a um consórcio de investidores americanos — tem sido o relaxamento das restrições de exportação que limitam a compra de tecnologia crítica pela China. Mas, nesta semana, o Departamento de Comércio ampliou sua chamada entity list e a lista de “usuários finais militares” para subsidiárias de empresas chinesas já sancionadas, restringindo ainda mais o acesso.
Um porta-voz do Ministério do Comércio chinês pediu que os EUA “corrijam imediatamente essa prática equivocada e parem a repressão injustificada contra empresas chinesas”.
Segundo Hirson, dependendo de como a mudança for implementada, pode representar uma expansão relevante nas restrições de exportação.
“Isso cria uma grande interrogação [sobre novas conversas] e pode impactar o acordo do TikTok, além do fluxo de terras raras”, avaliou.
Analistas dizem que, dentro da China, muitos veem a tarifa efetiva atual de 55% como algo longe do ideal, mas ainda tolerável — o que limita a disposição de Pequim em ceder mais nas negociações. A ampliação dos controles de exportação também não parece ser o melhor pano de fundo para Washington pedir ajuda aos chineses em prol dos agricultores americanos.