O crescimento da China no primeiro trimestre do ano, de 5,3%, ficou acima das expectativas, em grande parte por conta da produção industrial forte nos dois primeiros meses de 2024. Janeiro e fevereiro foram meses de crescimento sólido. Mas os dados de março indicaram que a economia doméstica chinesa está, na verdade, desacelerando.
Com excesso de produção, o país tem exportado mais. Em volume, foi o patamar mais alto de exportações dos últimos dez anos. A China inundou o mundo com paineis solares, carros elétricos, chips e baterias – produtos de setores que receberam altos subsídios nos últimos anos.
É um duplo problema para indústrias de países ocidentais: excesso de oferta (que já tem puxado para baixo os preços) e a disputa com concorrentes que recebem um belo empurrãozinho do governo chinês.
Estudo recente do Instituto Kiel, da Alemanha, indica que Pequim, que já colocou montanhas de dinheiro no setor da construção, tem nos últimos anos subsidiado fortemente suas indústrias nacionais, particularmente em setores ligados às tecnologias verdes, como a mobilidade elétrica e a energia eólica.
Conforme estimativas do instituto alemão, os subsídios chineses mais facilmente quantificáveis totalizaram cerca de 220 bilhões de euros, ou 1,73% do PIB chinês, em 2019. É um número entre três e nove vezes maior que o de países como Alemanha ou Estados Unidos.
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Com base em dados de 2022, os pesquisadores mostram que um dos principais beneficiários é a BYD, que recentemente entrou no Brasil e que tem desafiado a americana Tesla no mercado de carros elétricos. Para os autores do estudo, esses subsídios refletem a expansão significativa da fabricante de carros elétricos em capacidades tecnológicas e de produção, bem como a sua crescente competitividade.
Subsídios, sempre eles
O economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, também professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), afirma que é preciso entender o cenário em que se insere a história da BYD. “O governo chinês, consciente dos desafios ambientais e da necessidade de reduzir a poluição do ar, estabeleceu metas ambiciosas para a adoção de veículos elétricos e incentivou fortemente a indústria local a desenvolver tecnologias verdes”, afirma.
A BYD não é a única a se beneficiar desse cenário de subsídios à indústria nacional chinesa. A Comissão Europeia, principal regulador da concorrência da União Europeia (UE), publicou este ano um livro de mais de 700 páginas que mostra que dois terços das empresas alemãs com sede na China se queixam de que enfrentam concorrência desleal por parte das empresas locais. Há pouco mais de uma semana, a UE também abriu nova investigação sobre os subsídios concedidos pela China para empresas de turbinas eólicas.
Protecionismo: ação e reação
Para Michael Every, estrategista global do Rabobank, estudos e investigações recentes abrem a porta para muitas ações comerciais contra a China, com a Europa reagindo também via adoção de subsídios. “Portanto, sim, a política industrial e o protecionismo vieram para ficar”, comenta, em relatório recente.
Um exemplo do movimento de “ação e reação” de subsídios e protecionismo entre o Ocidente e a China é a Lei de Redução da Inflação dos Estados Unidos, adotada no ano passado. A China abriu em março um processo contra os EUA na Organização Mundial do Comércio (OMC) por causa dos subsídios a carros elétricos.
Até a entrada em vigor da lei, quem comprava um novo carro elétrico nos Estados Unidos recebia um desconto fiscal de US$ 7,5 mil. Com a lei, só ganha esse desconto quem comprar carro que tenha sido montado na América do Norte e com uma boa parte de componentes ou minerais da bateria produzidos originários da América do Norte ou de parceiros do Acordo de Livre Comércio dos EUA. Fora isso, o desconto cai à metade ou é até zerado.
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Para Lynn Song, economista-chefe para China do ING: “Ainda há um longo caminho no debate entre a política chinesa afetar ou não a concorrência leal”.
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