Autoridades de Xangai levantaram barreiras nesta segunda-feira (28) em torno de uma área central da cidade onde centenas de pessoas protestaram no fim de semana contra medidas rigorosas da Covid-19, enquanto manifestações contra o isolamento se espalhavam pela China.
Das ruas de Xangai e da capital, Pequim, a dezenas de campi universitários, os manifestantes fizeram uma demonstração de desobediência civil sem precedentes desde que o líder Xi Jinping assumiu o poder há uma década, supervisionando a repressão da dissidência e estabelecendo uma extensa vigilância social de alta tecnologia.
“Esperamos acabar com o lockdown”, disse Shi, de 28 anos, em uma vigília à luz de velas em Pequim na noite de domingo. “Queremos viver uma vida normal. Devemos todos expressar corajosamente nossos sentimentos.”
Não havia sinal de novos protestos nesta segunda-feira em Pequim ou Xangai.
Questionado sobre a irritação generalizada a respeito da política de Covid-zero da China, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Zhao Lijian, disse a repórteres: “O que você mencionou não reflete o que realmente aconteceu.”
“Acreditamos que, com a liderança do Partido Comunista da China e a cooperação do povo chinês, nossa luta contra a Covid-19 será bem-sucedida.”
A reação contra as restrições da Covid é um revés para os esforços da China para erradicar o vírus, que está infectando números recordes três anos depois de ter surgido na cidade central de Wuhan.
A política de Covid-zero tem mantido o número oficial de mortos na China na casa dos milhares, contra mais de um milhão nos Estados Unidos, mas custou o confinamento de muitos milhões a longos períodos em casa, trazendo grandes perturbações e danos à segunda maior economia do mundo.
Abandoná-la significaria reverter uma política defendida por Xi. Também arriscaria sobrecarregar o sistema de saúde e levar a doenças e mortes generalizadas em um país com centenas de milhões de idosos e baixos níveis de imunidade à Covid, dizem os especialistas.
Os protestos abalaram os mercados globais nesta segunda-feira.
A mídia estatal não mencionou os protestos, mas instou os cidadãos em editoriais a seguir as regras da Covid. Muitos analistas dizem que é improvável que a China reabra antes de março ou abril e precisa de uma campanha de vacinação eficaz antes disso.
“As manifestações não ameaçam iminentemente a ordem política existente, mas significam que a atual combinação de políticas da Covid não é mais politicamente sustentável”, escreveram analistas da Gavekal Dragonomics em nota.
“A questão agora é como será a reabertura. A resposta é: lenta, incremental e confusa.”
Barreiras
Na noite de domingo, manifestantes entraram em confronto com a polícia no centro comercial de Xangai, onde seus 25 milhões de habitantes ficaram presos em casa em abril e maio.
A BBC disse que a polícia agrediu e deteve um de seus jornalistas que cobria os eventos antes de libertá-lo após várias horas. Um jornalista da Reuters também foi detido por cerca de 90 minutos na noite de domingo, antes de ser liberado.
Zhao, do Ministério das Relações Exteriores, disse que o repórter da BBC não se identificou como jornalista. O governo de Xangai não comentou.
Nesta segunda-feira, as ruas de Xangai onde os manifestantes se reuniram foram bloqueadas com barreiras de metal azul para evitar aglomerações. Policiais com coletes de alta visibilidade faziam patrulha, enquanto viaturas e motocicletas passavam.
Lojas e cafés na área foram orientados a fechar, disse um funcionário à Reuters.
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