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Por que as queimadas na Amazônia podem derreter neve no Himalaia?

Cientistas identificaram um novo caminho atmosférico capaz de afetar regiões distantes do planeta.

Árvores incendiadas na Floresta Amazônica brasileira poderiam contribuir para o derretimento das geleiras no Himalaia e na Antártica. Isso porque os ecossistemas distantes que regulam o clima da Terra estão mais conectados do que se pensava.

Cientistas identificaram um novo caminho atmosférico que se origina na Amazônia, corre ao longo do Atlântico Sul, atravessa o leste da África e o Oriente Médio até chegar à Ásia central, de acordo com artigo publicado neste mês na Nature Climate Change.

Região desmatada na Amazônia
Vista aérea de regoão desmatada da floresta amazônica em Manaus 08/07/2022 REUTERS/Bruno Kelly

Com essa conexão, que se estende por 20 mil quilômetros ao redor do globo, quando a Amazônia esquenta, o planalto tibetano também. Ao mesmo tempo, quanto mais chove na Amazônia, menos chove no Tibete.

Efeito ‘cascata’

O estudo está entre os primeiros a investigar a interação entre ecossistemas em risco de atingir um ponto de inflexão climático, o que os transformaria de forma irreversível. Mais significativamente, o caminho recém-descoberto sugere que o colapso de um ecossistema também pode desestabilizar outros, levando a uma cascata de eventos de inflexão em todo o planeta.

“As cascatas de inflexão são um risco que deve ser levado a sério”, disse Hans Joachim Schellnhuber, pesquisador do Instituto Potsdam para Pesquisa do Impacto Climático e coautor do relatório, em comunicado. “

Elementos de inflexão interligados no sistema terrestre podem ativar-se uns aos outros, com consequências potencialmente graves.”

Cientistas apenas começam a investigar as conexões entre componentes distantes do sistema climático do planeta. Esse conhecimento é essencial para entender todo o impacto do aquecimento global, causado pelas emissões de gases de efeito estufa e que já eleva o nível do mar e provoca inundações, secas e incêndios florestais mais graves em todos os continentes.

Desmatamento recorde em 2022

O desmatamento na Amazônia, a maior floresta tropical do mundo e que abriga 25% das espécies terrestres, atingiu o ritmo mais rápido em pelo menos 15 anos em 2022. A parte sudeste da floresta, que desempenha um papel vital na absorção do dióxido de carbono da atmosfera que aquece o planeta, tornou-se uma fonte líquida de emissões durante a estação seca, segundo conclusões de um estudo em 2021.

O relatório mais recente do Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudança Climática vê maior probabilidade de que a Amazônia cruze o ponto de inflexão. A questão agora é o que isso poderia significar para o Himalaia, uma das maiores reservas mundiais de água doce, que já enfrenta um derretimento glacial sem precedentes.

“A região amazônica é, obviamente, um importante elemento do sistema terrestre por si só”, disse Jingfang Fan, pesquisador da Universidade Normal de Pequim e do Instituto Potsdam. Mas a pesquisa “confirma que os elementos de inflexão do sistema terrestre estão realmente interligados mesmo em longas distâncias – e a Amazônia é um exemplo importante de como isso pode acontecer.”

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