Há uma década, governos e cripto eram como água e óleo. Não se misturavam. A ideia de uma moeda sem controle central repelia qualquer iniciativa de inclusão do bitcoin. Não mais. Hoje discute-se a possibilidade de criar reservas oficiais de bitcoin (BTC), como os Estados Unidos anunciaram recentemente e o Brasil debate no Congresso.

O pioneiro em assumir o bitcoin foi El Salvador. Desde 2022 o governo local compra um BTC por dia, algo que se mantém até hoje mesmo com pressão contrária do FMI.

Mas El Salvador está longe de ser o país com mais bitcoin no tesouro nacional. Recentemente, foi ultrapassado por uma pequena nação asiática, o Butão, que descobriu na mineração de cripto uma estratégia para acumular fundos.

Ainda assim, reinam como maiores detentores de bitcoin os EUA e a China. Nesses dois casos, não se trata de reservas oficiais – algo que apenas El Salvador e Butão possuem. A acumulação veio por conta de apreensões em esquemas de golpe e outras ações criminosas. Mesmo assim, são ativos sob o controle do estado, o que configura uma forma de reserva extra-oficial.

Confira abaixo os países com mais bitcoins, que juntos possuem 523.897 BTC. E como cada um chegou ao nível atual.

1º – EUA (198.012 BTC)

Tudo que os EUA têm de bitcoin guardado vem de apreensões em casos de fraude, hack e outras fraudes. A maior parte vem do caso Silk Road, um site clandestino (que vendia drogas em troca de cripto), e que foi derrubado pelo governo em 2013.

Nos últimos anos, o país se desfez de parte do que possuía em leilões de criptomoedas. Porém, desde sua campanha em 2024, Donald Trump passou a defender uma possível reserva de BTC que seria criada usando exatamente o que o governo ainda detém dessas apreensões, o que foi confirmado no início de março.

2º – China (190.000 BTC)

Não há clareza sobre o quanto a China realmente possui de bitcoin. O país há anos proibiu a negociação de criptomoedas e existem rumores de que o governo já vendeu os ativos que apreendeu, mas não há nada oficial sobre o tema.

Análises de carteiras que especialistas acreditam ser do governo chinês, de qualquer forma, indicam que o país ainda detém 190 mil BTCs, vindos da apreensão no esquema de pirâmide PlusToken, em 2019.

3º – Reino Unido (61.245 BTC)

Mais um país que possui bitcoin por conta de apreensões. O governo britânico não confirma oficialmente que detém cripto e nem quanto, mas uma pesquisa recente da empresa de inteligência Arkham afirmou que o Reino Unido tem mais de 60 mil BTC após uma operação em 2018 que prendeu a dupla Jian Wen e Zhimin Qian, acusada de fraude.

4º – Ucrânia (46.351 BTC)

O caso da Ucrânia é menos usual. O grande acúmulo de bitcoins nos últimos anos se deu por conta da guerra contra a Rússia, já que BTC é um ativo muito utilizado em doações para o país – é mais simples transferir bitcoins para uma carteira ucraniana do que fazer o trâmite com dólares.

5º – Coreia do Norte (13.562 BTC)

Aqui, a situação mais bizarra. A informação não vem de Pyongyang, mas de serviços de inteligência ocidentais. Há um grupo hacker, chamado Lazarus, por trás de diversos casos de roubo de bitcoin. E acredita-se que seja uma quadrilha controlada pelo governo de Kim Jong Un.

6º – Butão (8.504 BTC)

O Butão é um país encravado no Himalaia, não muito maior que o Estado do Alagoas e com PIB equivalente ao de cidades como Nova Iguaçu (RJ) e Mogi das Cruzes. Ele é conhecido como destino turístico de sonho, por conta das paisagens montanhosas e o clima zen budista. Mas recentemente ganhou fala por outro atributo: a adoção do bitcoin e ethereum em suas reservas.

Tudo começa com a alta geração de energia hidrelétrica por lá. São 23.760 megawatts (MW) em capacidade instalada. É basicamente a demanda do Estado de São Paulo, com seus 46 milhões de habitantes. O Butão tem 800 mil habitantes.

O advento das criptos transformou potencial energético e em potencial financeiro, já que a mineração de bitcoin e cia consome quantidades mastodônticas de energia. Quem possui eletricidade barata tem automaticamente uma vantagem competitiva. É o caso do Butão.

O governo local percebeu isso e, a partir de 2021, decidiu adotar a mineração de bitcoin como forma de levantar fundos para suas reservas. No valor atual de US$ 85 mil por bitcoin, o Butão tem de US$ 720 milhões na criptomoeda – 25% do PIB.

7º – El Salvador (6.133 BTC)

O pequeno país da América Central decidiu adotar o bitcoin como moeda oficial em 2021. Foi o primeiro e até hoje único a fazer isso. Ainda que para eles seja mais simples. O país não tem moeda própria. A moeda corrente deles era o dólar – e seguiu sendo, com o BTC de coadjuvante.

O presidente Nayib Bukele, grande entusiasta da criptomoeda passou a comprar 1 BTC por dia para as reservas locais e chegou a apresentar planos para o uso da energia dos vulcões locais para mineração.

No mês passado, o Congresso local decidiu voltar atrás e tirou do bitcoin o status de moeda oficial, ainda que muitos estabelecimentos de lá continuem aceitando a cripto e o presidente siga defendendo o ativo – a compra de 1 BTC por dia continua firme.