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Finanças

À procura de novos bolsos para infraestrutura, gestoras avançam para a pessoa física

Patria é mais uma gestora a tentar desbravar o mercado do varejo para grandes projetos de infra

Um guindaste ergue um contêiner azul e laranja em um porto movimentado, com fileiras de contêineres coloridos ao fundo.
Foto: AdobeStock

O Brasil convive historicamente com investimentos abaixo do necessário em infraestrutura. O setor aporta por ano cerca de R$ 200 bilhões na construção e modernização de estradas, ferrovias, aeroportos, energia e saneamento básico, mas isso é somente metade do que seria necessário. O motivo é que faltam mais bolsos para apoiar o financiamento das obras.

Em um cenário em que o governo não tem espaço no Orçamento para investir e os fundos de pensão estão fora desse mercado, restou aos investidores profissionais apoiar a infraestrutura. Grandes gestoras entraram no jogo, como Patria Investimentos, Kinea, Perfin e XP abocanhando grandes concessões recentemente, mas tudo isso financiado por fundos voltados a investidores qualificados (com mais de R$ 1 milhão) e profissionais (acima de R$ 10 milhões).

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Mesmo com esses grandes players no jogo, os recursos levantados não têm sido suficientes. A principal dificuldade dos fundos tradicionais de infraestrutura está em achar um formato que consiga atrair pessoa física para um segmento de longo prazo, em que o retorno do investimento pode levar mais de uma década.

Mas existe um esforço do mercado de encontrar formas de atrair nem que seja uma pequena parcela do dinheiro que está investido pelas pessoas físicas: segundo dados da Anbima, mais de 20 milhões de CPFs têm quase R$ 3 trilhões alocados em produtos de renda fixa e em bolsa.

As emissões de dívida no setor de infraestrutura no primeiro semestre atingiram o recorde de R$ 206,7 bilhões, abrindo a oportunidade para a estruturação de fundos de investimento em infraestrutura (FI-Infra). Atualmente, são 25 fundos desse tipo listados na B3.

Patria entra no jogo

O Patria Investimentos é a gestora mais recente a desbravar esse mercado. A casa pretende usar sua experiência de gerir mais de R$ 31 bilhões em ativos de infraestrutura para atrair o investidor pessoa física. A casa, que tem ao todo R$ 244 bilhões sob gestão, abriu seu primeiro FI-Infra voltado para o público do varejo.

Para lidar com o novo público, o FI-Infra do Patria terá prazo indeterminado e será listado na Bolsa, a exemplo do que já ocorre com os fundos imobiliários. Isso, lembra Marcelo Souza, sócio e CIO da estratégia de crédito para infraestrutura do Patria, vai dar liquidez e permitirá que o investidor entre e saia do fundo quando bem entender.

O veículo, que será um primeiro teste para os dois lados do balcão, vai captar R$ 100 milhões e oferecer dividendos mensais para atrair esse o investidor do varejo, que ainda está pouco acostumado com a dinâmica de infraestrutura. “Temos que entregar as demandas desse público, que quer dividendos, previsibilidade e um bom retorno”, diz Marcelo Souza.

O modelo segue a estrutura do que outras casas estão apostando. Recentemente, a JiveMauá fez uma captação de R$ 437,5 milhões de um fundo de investimentos em infraestrutura (FI-Infra) com mais de 11 mil cotistas. A BRZ investimentos também está em fase de captação de um FI-infra de R$ 100 milhões.

Marcelo Souza, sócio e CIO da estratégia de crédito para infraestrutura do Patria Investimentos
Marcelo Souza, sócio e CIO da estratégia de crédito para infraestrutura do Patria Investimentos (Divulgação)

A carteira do fundo será composta por debêntures incentivadas (lei 12.431) de terceiros, emissões de dívida primária dos próprios ativos geridos pelo Patria e de estruturação financeira (“project finance”) de grandes projetos de infraestrutura. Souza afirma que o veículo já tem de 15 a 20 operações escolhidas para investir no primeiro mês após o fim da captação. A meta é obter retorno de 0,5% a 1,5% sobre a NTN-B, título público indexado à inflação, com a distribuição de dividendos em torno de 1% ao mês isentos de imposto de renda.

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Uma dificuldade inicial, especialmente nas emissões mais recentes de debêntures incentivadas, em achar boas oportunidades em um momento de baixa rentabilidade. Isso porque os spreads – diferença entre a taxa de juros que a empresa emissora paga a seus inestidores e o retorno das NTN-Bs – ficaram menores, tamanha a demanda por essas debêntures. 

O CIO de crédito de infraestrutura do Patria reconhece o problema, mas avalia que, a longo prazo, o spread volte ser mais rentável. “Essa tendência já começa a se reverter, começamos a ver isso agora que os grandes fundos de infra pararam de captar”, diz Marcelo Souza. “Ou seja, essa demanda não está crescendo mais e a tendência é que os spread dos próximos anos voltem a patamares maiores.”

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