Apesar de ter divulgado resultado abaixo do esperado pelo mercado no 2º trimestre, a Vale (VALE3) continua tendo boas perspectivas, segundo analistas. Eles citam fatores não recorrentes que puxaram o balanço para baixo nos últimos meses, e avaliam que a ação da empresa segue como uma boa opção para quem busca dividendos.
A Vale teve lucro de US$ 892 milhões (R$ 4,573 bilhões), impactada pela queda dos preços de minério de ferro e níquel, conforme divulgou a companhia. O valor veio abaixo dos US$ 2,21 bilhões esperados pelo mercado, segundo dados da Refinitv, e representou um lucro líquido 78,2% menor na comparação com o mesmo período do ano passado.
Apesar de a empresa ter informado que fará a distribuição de juros sobre capital próprio no valor de R$ 1,91 por ação, a ação VALE3 fechou em queda de 3,96 % nesta sexta, a R$ 67,63.
Impacto para o resultado
Segundo João Abdouni, analista da Levante Corp, o lucro líquido da companhia foi impactado negativamente por um evento não recorrente de natureza tributária. A mineradora firmou um acordo com credores relevantes da Samarco (uma joint venture da mineradora e da BHP) que detêm mais de 50% da dívida da empresa.
Esse acordo visa reestruturar a dívida decorrente do colapso de uma barragem de rejeitos de minério de ferro na cidade de Mariana (MG) em 2015, que vitimou 19 pessoas, além de poluir o rio Doce com rejeitos de mineração.
Segundo o analista, os pagamentos feitos pela Samarco foram limitados a R$ 5 bilhões, a serem quitados entre 2024 e 2030, já que uma mudança no mecanismo para financiar a Fundação Renova – organização que faz a gestão dos programas de reparação pelo rompimento da barragem – não fará mais deduções de futuros pagamentos do imposto de renda, “já que esses pagamentos não são mais dedutíveis no Brasil”.
“Portanto, o ativo de impostos diferidos desta provisão foi revertido no valor de R$ 5 bilhões”, disse.
Acordo pode elevar produção
A Vale anunciou na noite desta quinta-feira (7) um acordo com a Manara Minerals e a Engine No. 1. A Manara Minerals é uma empresa liderada pela Saudi Arabian Mining Company (PIF), cujo objetivo é investir globalmente em ativos de mineração. A Engine é um fundo de investimento da Califórnia que tradicionalmente investe em transição energética.
As duas companhias pagarão R$ 16 bilhões para adquirir uma participação total de 13% na Vale Metais Básicos (VBM), com a Manara detendo 10% e a Engine, 3%.
Segundo a Vale, esse movimento pode vir a impulsionar um aumento potencial na produção da VBM, que pode passar de aproximadamente 350 mil toneladas para 900 mil toneladas por ano em cobre, e de 175 mil toneladas para mais de 300 mil toneladas anuais em níquel.
O minério de ferro, principal produto da companhia, mantém a cotação em torno de US$ 112 por tonelada. Isso, somado ao dólar no patamar de R$ 4,70, permite que a Vale continue a ter uma forte geração de caixa, na visão de Abdouni.
“Em um mundo que luta para controlar a inflação, empresas líderes em commodities com receitas dolarizadas também são boas opções para proteger a carteira”.
João Abdouni, analista da Levante Corp
Somado a isso, o nível de dívida de 0,5 vez o Ebitda (lucro, antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da Vale é considerado baixo, o que a deixa em uma situação “confortável” na visão Felipe Pontes, da L4 Capital. Isso corrobora com a expectativa de que a empresa se destaque entre as grandes pagadoras de dividendos.
A Levant Corp considera a companhia como a melhor opção do setor no Brasil, “por conta do minério de alta qualidade, custos de produção abaixo da média global, linha de metais básicos e baixa alavancagem”. Somado a isso, a companhia deve manter a remuneração dos acionistas em torno de um dividend yield médio de 10%, sendo esta a média de distribuição nos últimos três anos, segundo a casa de análise.
Já a L4 Capital avalia o resultado reportado como bom, dada a dinâmica desafiadora de cambio e minério, além do fato de a mineradora ter, em sua visão, “preservado fundamentos de carrego como geração de caixa e distribuição de dividendos“.
Para a Suno Research, o resultado veio em linha com o esperado e, diante do preço médio do minério no terceiro trimestre deste ano, deve-se observar alguma melhora nos próximos balanços, “ainda que aquém do registrado no ano passado”, disse o analista José Eduardo Daronco.
“O ponto positivo [do balanço] foi a avaliação do negócio de metais básicos (VBM) a US$ 26 bilhões. Esse negócio deve, provavelmente, ser listado em bolsa ao longo dos próximos anos, à medida que consiga aumentar a sua produção de níquel e cobre. Isso é importante para destravar valor para a companhia. Para efeito de comparação, a Vale tem um valor de mercado hoje de US$ 65 bilhões”, reiterou Daronco.
IPO de unidade de metais básicos
A Vale não descarta para o futuro uma oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) ou fusão de sua unidade de metais básicos, mas o foco agora está na execução e na aceleração do crescimento do negócio, disse o presidente-executivo Eduardo Bartolomeo nesta sexta-feira.
A Vale anunciou na quinta-feira à noite acordos para vender uma participação de 13% do negócio por 3,4 bilhões de dólares para a Ma’aden da Arábia Saudita e para a empresa norte-americana Engine No., como parte de sua estratégia para extrair mais valor de seus ativos de níquel e cobre.
“Por enquanto, vamos nos concentrar em fechar as lacunas na execução e acelerar o crescimento. E então, dois ou três anos depois, as opções estarão todas em nossas mãos”, disse Bartolomeo em teleconferência com analistas quando questionado sobre o assunto. “Mas ainda não pensamos nisso.”
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