Os ativos israelenses estão ensaiando uma recuperação, dias após o ataque surpresa do Hamas contra Israel, ocorrido no último sábado (7). Ainda assim, o movimento da bolsa e da moeda local não recompõe boa parte das fortes perdas registradas no primeiro pregão de reação ao início do conflito, no domingo (8).
Vale lembrar que o funcionamento do mercado israelense vai de domingo a quinta-feira, devido ao sábado ser considerado dia sagrado no judaísmo, o Shabat. Ainda assim, a expectativa dos investidores de que o novo conflito no Oriente Médio seja localizado tende a abrir espaço para uma continuidade da melhora global dos ativos de risco – e não apenas atrelados a Israel.
“Os acontecimentos em Israel e a nova guerra na região estão até agora tendo um impacto relativamente limitado nos mercados”, afirmaram os analistas do SEB Research, em nota. Na mesma linha, o economista André Perfeito avalia que os investidores estão apostando que o conflito será restrito e com uma solução rápida.
Sob impacto do conflito
Com isso, o índice de referência da Bolsa de Tel Aviv, o TA-35, composto pelas 35 ações de primeira linha, registrou ganhos modestos na segunda (9) e na terça-feira (10), subindo pouco mais de 2% na soma dos dois dias, após cair 6,5% no domingo (8). Nesta quarta-feira (11), o índice acionário devolvia parte da alta recente, caindo ao redor de 1%.
Da mesma forma, o índice TA-90, que acompanha as ações com maior capitalização não incluídas no TA-35, também permanecia estável após perder quase 8% no domingo, caindo cerca de 1,5% nesta quarta-feira, vindo de uma alta acumulada de 2,3% nos dois pregões anteriores.
Por sua vez, o índice composto apenas pelos cinco maiores bancos de Israel, o TA-Bank, subiu cerca de 1% na terça-feira, depois de ter caído 8,7% no domingo. Entre as demais ações, a construtora Danya Cebus liderou as perdas, com queda de 12,5%, seguida pela farmacêutica TEVA (-3,6%), enquanto Carasso Motors (+5,3%) e Delek Group (+3,7%) foram os maiores ganhadores.
Já os fundos negociados em bolsa que investem em ações relacionadas com Israel estiveram sob pressão elevada na segunda-feira, refletindo o comportamento dos ativos em Israel no dia anterior. O iShares MSCI Israel ETF, fundo listado em Nova York que acompanha um índice ponderado por capitalização de mercado de empresas israelenses, caiu 7,1% no último dia 8. Foi a maior queda percentual diária desde 16 de março de 2020.
Ao mesmo tempo, a moeda israelense, o shekel, perdeu força de forma acentuada nos últimos dias, caindo cerca de 3% em relação ao dólar apenas na segunda-feira (9), quando alcançou o nível mais baixo desde 2016, valendo 3,9 por US$ 1. A desvalorização levou o Banco Central de Israel a vender até US$ 30 bilhões no mercado.
Foi a primeira intervenção em cerca de dois anos da autoridade monetária israelense e a primeira operação de venda de moeda estrangeira na história do país, com o objetivo de evitar que o shekel caísse ainda mais, fornecendo liquidez ao sistema financeiro. A atuação ajudou a estabilizar a moeda local para perto das mínimas em sete anos.
Cresce lista de tensão
Apesar desse movimento, especialistas ressaltam que se mais países forem atraídos ao conflito no Oriente Médio, aí sim o cenário de risco pode mudar. Afinal, o próprio primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou que a nação estava “embarcando em uma guerra longa e difícil”, em uma luta sem limites nem tréguas, até que os objetivos sejam alcançados.
Por isso, apesar de ser ainda um conflito curto e localizado, “ este não deve ser o caso”, pondera o economista André Perfeito. Para ele, a melhora a curto prazo dos mercados globais não deve ser lida como um vetor permanente. “Afinal, os outros motivos que ‘tiravam o sono’ do investidor ainda estão na mesa e sobre estes se somam este atual conflito”, emenda.
Ou seja, o ataque do Hamas a Israel apenas acrescentou um item à já extensa lista de foco de preocupação dos mercados globais, sendo que o rumo da taxa de juros nos EUA está no topo. “Não acredito que este processo de queda dos juros nos EUA será intensificado nos próximos dias, logo essa melhora pode ser limitada”, prevê o economista.
Ele lembra que a queda no rendimento (yields) dos títulos norte-americanos (Treasuries) observada na terça-feira (10), na primeira reação do mercado de bônus nos EUA após um feriado no país na segunda-feira (9), ocorre não por causa da perspectiva de cortes nos juros pelo Federal Reserve em breve. Nem pela melhora das expectativas de inflação.
“Mas sim por uma ‘busca por segurança’ nesses papéis”, explica o economista. “Logo, apesar do sinal ser o mesmo (queda de juros), o racional do movimento é diametralmente oposto ao dos investidores”, conclui Perfeito. Não há, portanto, uma aversão ao risco nos mercados, mas sim uma fuga para ativos seguros.
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