Semana positiva para o Ibovespa, apesar da tensão na cena política. A Bolsa de valores acumulou alta durante 4 pregões consecutivos. Nesta sexta-feira (19), o principal índice da B3 fechou em alta de 0,46%, aos 96.572 pontos. Na semana, a bolsa acumulou ganhos de 4,07%.
O Ibovespa conseguiu ir na contramão das bolsas americanas, que despencaram após a Apple anunciar que vai fechar novamente as lojas na Florida e no Arizona, por medo a uma segunda onda do coronavírus. Durante o dia, os índices Dow Jones e S&P 500 recuaram 0,8% e 0,56%, respectivamente.
A semana também ficou marcada pela decisão do Copom de cortar em 0,75 p.p a taxa de juros. Agora, com uma Selic a 2,25%, muitos investidores devem procurar refúgio na renda variável e na bolsa. O custo de capital das empresas também caiu, facilitando a emissão de títulos de dívida (debêntures). Se no passado a emissão era mais fácil no exterior, mesmo com a pressão do câmbio, agora os olhares podem se voltar para o Brasil.
Os investidores também ficaram atentos a reunião dos líderes de 27 economias na União Europeia que debateram um estímulo de 750 bilhões de euros para ajudar na recuperação das economias do bloco.
O impasse entre China e EUA também entrou no radar, com fala do presidente americano Donald Trump que renovou ameaça de cortar laços com a China. Contudo, o governo chinês sinalizou que estaria fazendo o estabelecido no acordo comercial com os Estados Unidos. Segundo um representante comercial americano, uma nova briga entre as nações é inviável.
O dólar caiu seguindo o apetite de risco. O dólar comercial fechou em queda de 0,99%, cotado a R$ 5,3182. Na máxima do dia, a moeda americana chegou a R$ 5,381. Na semana, o dólar acumulou alta de 5%.
Entre as ações mais negociadas do dia subiram: Via Varejo (VVAR3) que avançou 0,33%. A varejista tem ganhado a atenção dos investidores como uma nova promessa de mercado na flexibilização da economia. Recentemente ela aprovou a emissão de R$1,50 bilhão em títulos de dívida (debêntures), que devem ser ofertados em duas séries para investidores qualificados.
Subiram também os bancos Itaú (ITUB4) e Bradesco (BBDC4) que avançaram 1,96% e 0,27%, respectivamente. Na quinta-feira (18) as ações do Itaú tiveram forte alta, segurando a valorização do Ibovespa.
Entre as ações mais negociadas caíram as preferenciais da Petrobras (PETR4), que recuaram 0,60%. A petroleira chegou a subir com reunião organizada ontem pela Opep+, onde houve pressão para que países como Iraque e Cazaquistão tenham adesão aos cortes de produção pactuados pelo grupo. Contudo, o temor de uma segunda do coronavírus é mais forte, afetando não só a commodity como os papéis da Petrobras.
A estatal petrolífera também assinou dois aditivos aos contratos com a Braskem relacionados à Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), localizada em Canoas (RS).
A Vale (VALE3) também caiu 1,78%, após vender a sua participação de 20% na PT Vale Indonésia, em acordo de US$ 290 milhões de dólares. O Itaú BBA avaliou a operação como positiva porque o valor da venda superou o do ativo.
Tanto Vale como Petrobras são acompanhadas com afinco pelo investidor.
Destaques da Bolsa
Entre os destaques positivos do dia subiram: as ações da MRV (MRVE3), que avançaram 5,66%. Subiram também os planos de saúde, Hapvida (HAPV3), Qualicorp (QUAL3) e SulAmérica (SULA11) que fecharam em alta de 4,16%, 4,69% e 4,48%, respectivamente.
As ações da SulAmérica tiveram sua recomendação elevada de neutra para compra pelo UBS, no entanto o preço-alvo do papel teve corte caindo para R$54.
A CVC (CVCB3) também teve destaque no dia após o presidente da companhia, Leonel Andrade anunciar retomada do grupo, que teria acelerado seu processo de digitalização na quarentena. As ações da empresa fecharam o dia em alta de 3,33%.
Entre os destaques negativos do dia caíram: as ações da Siderúrgica Nacional (CSNA3), com baixa de 3,78%. Enquanto analistas do Bradesco BBI elevaram recomendação para Usiminas (USIM5), a CSNA3 se manteve em recomendação neutra.
Recuaram também as ações da Fleury (FLRY3) e da Petrobras Distribuidora (BRDT3), com queda de 3,42% e 2,88%.
Cenário interno
A defesa de Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), entrou com pedido de habeas corpus nesta sexta-feira (19) na justiça do Rio de Janeiro, tendo como principal argumento seu estado de saúde – ele estaria se tratando de um câncer. Há a expectativa de conseguir, no mínimo, uma prisão domiciliar.
Apesar de pessoas próximas ao policial militar aposentado dizerem que ele poderia fazer delação caso a mulher e as filhas sejam atingidas, a defesa atual dele não trabalha com esse tipo de medida – e descarta, portanto, que ela seja feita no momento.
Por outro lado, Queiroz já deu demonstrações de instabilidade em entrevistas que concedeu antes de sumir de vez, nas quais se queixava de ter sido “abandonado” pela família Bolsonaro. A mulher de Queiroz, Márcia Oliveira Aguiar, continua foragida.
Embora predomine o otimismo, os investidores seguem atentos aos novos surtos de covid-19 nos EUA e na China.
Bolsas de Nova York
As bolsas de Nova York chegaram a subir, com notícia positiva para o comércio entre Estados Unidos e China e ações do setor de energia apoiadas pela força do petróleo. Ao longo do pregão, porém, perderam fôlego, após o governo americano voltar a atacar Pequim e em meio a temores de uma nova onda de casos da covid-19, que poderia atrapalhar a recuperação econômica, o que resultou em fechamento misto nesta sexta-feira, 19.
O índice Dow Jones fechou em queda de 0,80%, a 25.871,46 pontos, o S&P 500 caiu 0,56%, a 3.097,74 pontos, e o Nasdaq registrou alta modesta, de 0,03%, a 9.946,12 pontos. Na comparação semanal, o Dow Jones subiu 1,04%, o S&P 500 avançou 1,86% e o Nasdaq teve alta de 3,73%.
Os relatos de que a China atuava para aumentar as compras de produtos agrícolas americanos apoiaram o humor, no início do dia. Mas o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, mostrou tom de desafio duro em relação a Pequim, dizendo que os americanos poderiam “desafiar qualquer ameaça militar” da China e voltando a criticá-la por supostamente esconder dados sobre o novo coronavírus.
Em meio às declarações, as bolsas de Nova York perderam força. Além disso, Apple caiu 0,57%, após a empresa informar que terá de fechar temporariamente 11 lojas em alguns Estados americanos por causa da disseminação da covid-19. Isso reforçou temores sobre novas ondas de contágio e seus impactos na atividade. Operadoras de cruzeiro também foram penalizadas, após terem estendido por mais três meses a suspensão de suas atividades, a ação da Carnival em baixa de 5,26%, Royal Caribbean de 6,72% e Norwegian Cruise, de 5,64%.
O comando da Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou hoje que a pandemia entra em uma “fase perigosa”, com países desejosos de reabrir suas economias, mas ainda riscos de que a doença se dissemine mais e faça novas vítimas, com grande parte da população mundial ainda suscetível. Com isso, a entidade disse que, se houver riscos aos sistemas de saúde, os países precisarão agir, sugerindo que podem ser necessárias em alguns casos mais medidas para controlar a situação.
Entre algumas ações importantes, Boeing caiu 2,74%, pressionando o Dow Jones, Caterpillar recuou 0,10% e Citigroup, 0,23%. Alphabet perdeu 0,66%, mas Amazon subiu 0,79%.
*Com Estadão Conteúdo