Passar dos 30 nunca foi fácil. Mas hoje talvez seja pior. Você, trintona ou trintão, acumula décadas de exposição a histórias de jovens milionários nas redes sociais – além das clássicas comparações com a prima que passou no concurso ou com aquele colega de faculdade que abriu um negócio e enricou.
Na casa dos 20, especialmente na primeira metade dela, as pessoas com quem convivemos e que têm a mesma faixa etária costumam ter vidas bem parecidas. É a galera da faculdade, do bairro, enfim, há espaços e atividades em comum que dão um quê de uniformidade aos hábitos de consumo, ao tempo investido e até ao nível de renda – geralmente bem limitado.
Mas, aos 30, cada caso é um caso. E vice-versa.
Há os casados, os divorciados, os solteiros. Tem quem more com os pais, tem quem já está comprando a casa na praia. Há os com filhos, os sem filhos, os que estão mudando de carreira, os que estão crescendo na carreira e os que ainda nem têm uma carreira. E, claro, tem a sua prima concurseira.
Seja qual for o seu caso, o fato é: quem está na casa dos 30 tem mais tempo para acertar suas finanças do que imagina – e entrar mais tranquilo nas idades que terminam com “enta”. Há dicas simples e práticas para isso. As que estão listadas abaixo surgiram de uma entrevista com Michael Viriato, consultor financeiro e assessor no escritório Casa do Investidor. Vamos lá.
1) Não perca tempo com produtos financeiros complexos
Não gaste tempo comprando cursos online que prometem fazer você ficar rico, nem aprendendo as minúcias dos derivativos e do day trade. Aos 30 e poucos, sua prioridade deve ser o aumento da renda.
Ok, “ganhe mais dinheiro” pode não parecer uma dica muita justa à primeira vista, mas o princípio é que aumentar a renda terá um impacto muito maior no longo prazo do que tentar multiplicar pequenas quantias no mercado financeiro.
A vida é dura e existe estratégia. Foque em investir na sua educação, procure por certificações que ampliem suas oportunidades profissionais. Procure trabalhos extras que complementem seu salário e reflita se não é o caso de tentar mudar de emprego, especialmente se você está há muito tempo com a remuneração estagnada.
2) Crie um plano financeiro, mesmo que seja basicão
Muitas pessoas têm dificuldades financeiras porque não possuem um plano claro. Defina seus objetivos de curto, médio e longo prazo, como pagar nos próximos seis meses uma dívida que está tirando seu sono, juntar dinheiro para uma viagem incrível daqui a dois anos ou planejar a compra de um imóvel.
Bote na planilha mesmo. Considere a sua renda e seus gastos, estime o custo total do seu plano e trace um caminho financeiro que você de fato consiga trilhar. Com um plano estruturado, você evita decisões impulsivas, que podem prejudicar seu futuro.
Só lembre-se que construir uma situação financeira saudável leva tempo. Os resultados não serão imediatos.
3) Poupar não é uma escolha, é uma obrigação
Poupança é hábito: se você ganha R$ 2 mil por mês e não consegue guardar R$ 100, dificilmente vai conseguir poupar alguma coisa quando seu salário chegar a R$ 20 mil. Comece cedo a guardar, nem que seja 5% ou menos.
É importante tentar viver um degrauzinho abaixo do estilo de vida que a sua renda recorrente pode oferecer. Só assim para fazer sobrar salário no fim do mês em vez de sobrar mês no fim do salário.
De novo: poupança é hábito. Crie essas “caixinhas” no aplicativo do seu banco e ganhe o costume de fazê-la engordar um pouco cada vez que cair o salário e/ou a grana do freela. E não gaste muita energia tentando encontrar um produto financeiro matador, vá no básico: Tesouro Selic, CDBs de liquidez diária, etc. – investimentos que te protejam da inflação e que fiquem sempre à mão em caso de alguma necessidade.
Esses instrumentos permitem que você forme uma reserva de emergência antes de partir para investimentos mais sofisticados.
E vale lembrar que a casa dos 30 é amiga dos juros compostos, aquela força que multiplica o dinheiro de forma exponencial quando há muito tempo em jogo. Cada R$ 100 que você investir aos 30 vão se transformar em R$ 400 quando você tiver 65, a idade da aposentadoria (numa realidade em que os investimentos feijão com arroz paguem uma média de juros reais, além da inflação, de 4% – uma expectativa realista).
Aos 40, a história é outra. Cada R$ 100 se transformam em R$ 270 aos 65. Aos 50, claro, bem menos: R$ 180.
4) Controle seus custos e evite ficar se comparando com os outros
Redes sociais podem dar a ilusão de que todo mundo ao seu redor está bem financeiramente e que você é um pobretão irresponsável. Pode ser o caso? Pode, mas não parece provável. Convenhamos, são maiores as chances de que muita gente ostente um padrão de vida insustentável – e este texto também é para você, caro leitor perdulário.
Lembre-se do conselho universal das mães: você não é todo mundo. Não vale a pena ficar se comparando com a suposição meio paranoica que você faz da vida do outro. Regras supostamente universais de finanças nem sempre se aplicam a todos. Seu momento de vida, seu estilo de trabalho e seus objetivos são únicos.
E controle os gastos. Evite compras impulsivas motivadas por pressão social. Concentre-se no que faz sentido para sua realidade financeira.
5) Assuma a responsabilidade pelas suas escolhas
Contar com o apoio emocional, financeiro e psicológico dos pais é um privilégio. Se é o seu caso, não há do que se envergonhar. Por outro lado, estender a dependência da família vida adulta adentro pode cobrar seu preço em aspectos importantes.
Outra. Mudar de carreira agora pode se provar a melhor escolha da sua vida, mas também pode significar viver muito abaixo do que você gostaria – e essa fase pode durar uns anos.
O ponto é, como dizem por aí: cada escolha, uma renúncia. E tudo bem.
A fase dos 30 também é um bom momento deixar a procrastinação de lado e abraçar uma atitude mais consciente sobre carreira, fontes de renda, hábitos de consumo, saúde e bem-estar. Tudo isso vai influenciar sua relação com o dinheiro no longo prazo e quanto mais cedo você assumir o controle, melhor será sua situação financeira no futuro.
E lembre-se:
A vida financeira, assim como a vida em geral, é um processo contínuo de ajustes e escolhas. Aos 30 e poucos, você ainda tem tempo para mudar de rumo, errar e acertar de novo. O que você faz a partir de agora importa muito mais do que qualquer atraso que tenha ficado para trás. E, no fim das contas, finanças pessoais não são só sobre números – são sobre como você quer viver a sua vida.
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