Com a invasão russa na Ucrânia, o preço das commodities disparou. Com isso, foi eminente um repasse dessa alta nos combustíveis, uma vez que o preço do barril do petróleo tipo brent bateu os US$ 133 em 8 de março. O que acaba pesando no bolso do consumidor seja na hora de abastecer o carro como pagar por um serviço de transporte por aplicativo.
Este é o caso da Uber (U1BE34) que anunciou um reajuste de 6,5% no preço das suas corridas por onde atua. Mas o receio do mercado é de que essa medida possa vir a afastar os passageiros. Algo que só terá como saber após a divulgação de resultados do primeiro trimestre deste ano.
A multinacional californiana vem se movimentando em direção a uma menor dependência de frota movida à combustão ao oferecer incentivos aos motoristas britânicos que comprarem carros elétricos – o que também vem se estendendo ao território americano.
O subsídio oferecido é de US$ 6 mil para a compra de um veículo elétrico da marca Nissan – o que corresponde a quase 20% do valor do carro. A Uber espera que até 2025 todas as corridas em Londres e Amsterdã sejam realizadas por veículos elétricos. Se isso se concretizar, o impacto no preço dos combustíveis não será mais um problema nessas regiões.
No entanto, outros gastos vêm sendo apontados como ‘ervas daninhas’ para a saúde financeira da Uber. Entre elas, o alto custo com companhias de marketing, investimentos em tecnologia e outras áreas de atuação a exemplo da Uber Eats, segmento de entregas da plataforma. No Brasil, esse braço de atuação anunciou o seu fim em 7 de março. Em comunicado, a Uber afirmou que os aplicativos Uber Eats serão atualizados automaticamente e migrados para a Cornershop, plataforma focada em entregas de supermercados, atacadistas e lojas especializadas.
Mas pesa para esse medida o fato de no Brasil a plataforma concorrer com um rival de peso: o iFood.
Ações da Uber
A Uber abriu capital em 2019 com os papeis valendo US$ 45 e a companhia valendo US$ 82 bilhões. Em 2021, em um cenário pós-covid, a companhia chegou a bater os R$ 100 bilhões em valor de mercado. Desde então, suas ações registram queda o que avalia a plataforma em US$ 64 bilhões na bolsa americana. Comparando o retorno das ações da plataforma desde sua abertura de capital, o retorno delas não foi bom, segundo o analista da Avenue, William Castro Alves. “Seu retorno foi de 20% enquanto o do índice S&P 500 foi de mais de 60%. Então até aqui, não foi um bom investimento comprar as ações da Uber.”
O que ajuda a explicar esse mau desempenho da companhia foi sua menor taxa de crescimento, questionamentos sobre a sustentabilidade de seu modelo de negócios, o fato de a empresa não ser lucrativa, altos investimentos em tecnologia para os aplicativos, fluxo de caixa negativo que para sustentá-lo acaba sendo necessário aumentar o seu endividamento. E estes fatores ajudaram a atrapalhar o desempenho das ações, segundo Alves.
Já notícias recentes envolvendo brigas com sindicatos e agentes trabalhistas que entendem que os motoristas da Uber têm vínculo empregatício com a companhia também influenciaram na queda dos papeis.
Para romper com esse ciclo negativo das ações, a Uber vem se mexendo e buscando uma diversificação, segundo o analista da Avenue. “Hoje, mais de 50% das receitas da plataforma no último trimestre vieram da Uber Eats, e outros 18% vieram do Uber Fretes. Então cada vez mais a empresa deixou de ser dependente do segmento de corridas e passou a ser mais diversa, inclusive geograficamente falando.” Segundo Alves, 37% das receitas da companhia vem de fora das Estados Unidos.
Novas avenidas de crescimento
Na Inglaterra, a companhia vem fazendo um experimento para ampliar sua oferta de serviços, como, reservas de passagens de avião, trem e ônibus. Já em cidades, como, Nova York e São Francisco, a plataforma testa um super app chamado Uber Explore. Através dele é possível reservar restaurantes, comprar ingressos para shows, jogos, entre outras facilidades como uma forma de controlar o caminho dos usuários ao precisar de um motorista da Uber.
“O lado positivo disto é a diversificação do potencial de crescimento em outros mercados. Já o lado negativo é a ampliação de novas concorrências. Mas de fato, a companhia vai aumentar o engajamento no seu aplicativo”.
William Castro Alves, estrategista da Avenue
De acordo com Alves, as pessoas não vão entrar no aplicativo apenas para solicitar uma corrida, mas sim, vão entrar para checar uma passagem de trem, um ingresso, um restaurante, o que pode aumentar ainda mais a oferta de serviços.
“No dia a dia, a companhia continua sendo deficitária, gastando muitos recursos para investir em novas frentes de negócios que não necessariamente têm se mostrado lucrativos. Então ainda sim tenho um certo receio em relação as ações da Uber,” finaliza o estrategista chefe da Avenue nos EUA em participação no Cafeína, com Samy Dana e Dony De Nuccio.