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Finanças

Como o governo Lula pode impactar negócios da Taurus no Brasil?

A revogação do decreto de armas – uma das primeiras medidas do novo governo – deve afetar as receitas da fabricante brasileira.

Um dos primeiros decretos assinados por Lula ao assumir a presidência da República foi o da revogação do acesso de armas de fogo e munição à população, concedido por Jair Bolsonaro em seu mandato. Entre outros efeitos, a medida pode afetar as receitas locais de uma fabricante de armas brasileira: a Taurus (TASA4) .

Segundo o Diário da União, o novo decreto prevê tanto que todas as armas compradas desde maio de 2019 sejam recadastradas pelos proprietários em até 60 dias, assim como a suspensão de novos registros de armas (seja por caçadores, atiradores ou colecionadores). Também foram suspensos novos registros de clubes e escolas de tiro.

Procurada pelo InvestNews, a Taurus não retornou até a publicação dessa matéria sobre qual será o impacto da revogação do decreto de armas nas receitas no Brasil. Mas segundo o analista da Nord Research, Bruce Barbosa, a companhia tem maior dependência do mercado americano. Veja mais abaixo.

Queda de quase 50% em 1 ano na B3

As ações da Taurus acumulam queda de 49,6% em 12 meses encerrados na terça-feira (3). Em apenas dois pregões após a revogação do decreto de armas, os papéis registraram queda de 8,8%. Nos últimos 5 anos, no entanto (período que abarca o governo anterior), os papéis da fabricante acumulam um salto superior a 700%.

A companhia se autodenomina a maior produtora mundial de revólveres e aponta ter o menor custo de produção para seus produtos. Em seu último relatório aos investidores, a Taurus apontou que, no terceiro trimestre de 2022, os revólveres representaram 25% do volume total de armas produzidos pela companhia – aumento de 5 pontos percentuais em relação ao trimestre anterior.

Apesar de a fabricante de armas ter perspectivas de ganhar mais espaço em sua produção nos próximos meses, no Brasil, ela corre o risco de perder este espaço após a revogação do acesso a armas feita pelo governo petista.

Em seu último balanço, a Taurus divulgou uma parceria com dois renomados fornecedores norte-americanos de armas para ampliar o portfólio – em especial – ao consumidor brasileiro. A companhia passou a oferecer armas feitas na plataforma AR e AK utilizada pela principal fabricante americana, Brigade Manufacturing, que faz os fuzis AR-15.

Mercado externo x interno

A receita operacional líquida total da companhia nos nove primeiros meses de 2022 foi de R$ 1,94 bilhão. O mercado externo é responsável pela maior parte: R$ 1,2 bilhão (63,1%).

Este resultado, segundo a Taurus, foi como esperado – abaixo do auge do mercado, mas acima do pré-pandemia. Apesar de menores vendas, pressão inflacionária, reajuste salarial de 12% devido ao dissídio da categoria e maior mix de revólveres na produção, as margens foram superiores às de concorrentes internacionais.

Mas sendo os Estados Unidos o maior mercado de armas do mundo, é lá que a Taurus deve continuar a concentrar seus esforços, apesar da concorrência. A companhia tem a favor o preço baixo cobrado por seus produtos.

Taurus
Crédito: Adobe Stock

Hoje o território americano é o principal destino dos produtos da fabricante brasileira. Não à toa: o índice do número de pessoas com intenção de comprar uma arma nos EUA, o NICS (National Instant Criminal Background System) apontou que, nos nove meses de 2022, aumentou em 29,3% o interesse dos americanos quando comparado a igual período de 2019.

Entre janeiro e setembro do ano passado, foram feitas 11,9 milhões de consultas, terceiro número mais alto já registrado para o período desde que esse sistema foi adotado, em 2000.

Segundo o analista da Nord Research, Bruce Barbosa, o período de eleições nos Estados Unidos favorece a compra de armas antes que um governo democrata vença, dada a dificuldade em se comprar armas depois. De fato, o resultado foi que o republicano Donald Trump perdeu as eleições para o democrata Joe Biden.

No terceiro trimestre de 2022, a Taurus vendeu 474 mil armas, acumulando 1,5 milhão de unidades vendidas nos nove primeiros meses de 2022. Como principal destino das vendas da companhia, o mercado norte-americano absorveu 75,5% dessas armas no terceiro trimestre e 76,1% no nove meses do ano passado.

Decreto de Bolsonaro ajudou a Taurus?

Fazendo um recorte para o cenário brasileiro, o analista destaca o crescimento recente de demanda da fabricante, mas diz que isso não pode ser confundido com o decreto de facilitação de armas aprovado no governo Bolsonaro.

“Eles [Taurus] acertaram nos produtos e no ticket aqui no Brasil e diferentemente do que muitos acreditaram, o decreto de Bolsonaro não favoreceu a fabricante, mas abriu o mercado de importação de armas pra outros concorrentes entrarem no Brasil”.

Barbosa aponta que a companhia não teve ganhos com a facilitação de armas no Brasil nos últimos quatro anos, mas sim, perdas em razão da maior concorrência.

No entanto, as receitas no Brasil cresceram mais nos últimos trimestres quando comparado com o mercado externo.

Impacto da revogação do decreto de armas no Brasil

Já sobre o impacto da revocação do decreto na venda de armas no Brasil, o analista diz ser difícil dimensionar qual seria, mas acredita que isso não deve ajudar a fabricante. “Como a maioria das vendas da Taurus vem dos Estados Unidos, acredito que deva ser lá – ou deveria ser – onde a fabricante vá concentrar os esforços”.

Enquanto o impacto da revogação não altera os lucros da empresa, com base no resultado do exercício de 2022, a Taurus vai distribuir dividendos de, no mínimo, 35% do lucro líquido ajustado, podendo ainda elevar esse percentual, de acordo com a disponibilidade de caixa.

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