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Finanças

Após 2 anos de juros em alta, debêntures de construtoras pagam maior retorno

É o que revela ranking de debêntures com rentabilidade acima da Selic; especialista alertam para riscos.

Em meio ao início do ciclo de corte de juros no Brasil após cerca de dois anos de juros subindo, debêntures de construtoras se destacam entre as que estão com rentabilidade acima da taxa Selic. É o que mostra levantamento feito pela TC/Economatica a pedido do InvestNews. Para especialistas, apesar da rentabilidade alta, a recomendação é de cautela antes de investir.

Segundo o levantamento, no acumulado de 12 meses até 4 de agosto de 2023, Tenda (TEND3), Cury (CURY3) e Direcional (DIRR3) estavam entre as empresas de capital aberto com debêntures que apresentavam rentabilidades maiores do que a atual taxa de juros do país, de 13,25% ao ano. Veja:

Empresas de construção geralmente são negativamente impactadas em um cenário de juros altos. Assim, Maurício Kubota, head de produtos da RB Investimentos, explica que esse cenário de alta rentabilidade das debêntures se justifica, majoritariamente, pelo perfil de risco de crédito dessas emissoras.

“Para captar dinheiro no mercado de capitais via mercado de dívidas, no caso as debêntures, as empresas captam a custos mais elevados. Esse custo se traduz em maiores taxas para os investidores. São emissores que estão em setores um pouco mais estressados, justamente pelo ciclo de mercado”

Maurício Kubota, head de produtos da RB Investimentos

Carlos Honorato, professor da FIA Business School, lembra que debênture é uma emissão de dívida da empresa na qual uma pessoa compra esse título com uma determinada remuneração e, a partir daí, “financia” a empresa. 

“Em geral, as debêntures têm mais risco do que uma renda fixa, por exemplo, como título da dívida do governo. Então, em geral, debêntures tendem a ter um retorno maior do que a Selic, justamente porque se tem mais risco. Com mais risco, se tem possibilidade de retorno maior”, destaca Honorato.

Setor imobiliário: retornos maiores

Christopher Galvão, analista de renda fixa da Nord Research, comenta que as empresas do segmento de construção civil costumam ser impactadas de forma diferente pela dinâmica da economia doméstica – o que ajuda a explicar o resultado do ranking de rentabilidade das debêntures. 

“No caso do levantamento, são três construturas que são focadas no público de baixa renda, isso gera mais dificuldade para repassar a inflação sobre os preços finais. A perspectiva sobre uma construtora no momento que se tem uma elevação da inflação e juros altos é que acaba ficando pior o risco dessas companhias”, afirma Galvão.

confiança da construção civil
Vista de prédio em construção no Rio de Janeiro. 27/11/2020. REUTERS/Pilar Olivares

No cenário de taxa de juros elevada por um tempo mais persistente, Kubota aponta que essas empresas tiveram que captar mais recursos no mercado, precisaram rolar a dívida e, para isso, precisaram “pagar um pedágio” um pouco mais severo para quem tem dinheiro, os investidores.

“Elas captando mais caro. São esses ativos que os investidores vão ver taxas mais atrativas, lembrando que isso também implica em riscos mais elevados”, diz o head de produtos da RB Investimentos.

Honorato destaca que a construção civil é um setor que precisa de muito financiamento intensivo de terceiros, e as debêntures são mecanismos para isso por parte das empresas. O professor aponta ainda que, com o início da queda de juros, que pode favorecer o mercado imobiliário, é um pouco natural que se tenha essa emissão de debêntures pagando um pouco mais do que os outras, em geral.

Mudança de cenário?

Com a taxa básica de juros no atual patamar de 13,25% ao ano, Kubota explica que outro setor que é bem cíclico à política monetária é o varejo. Assim, segundo o head de produtos da RB Investimentos, empresas deste segmento também podem figurar entre as debêntures com rentabilidades acima da Selic. 

“Lógico que já estamos vendo uma queda, mas não será rápida, mas Selic nesses patamares, vemos que empresas de varejo entrem nesse ranking, justamente por causa disso, o balanço, a estrutura de capital delas não fica muito atrativo. Assim, para captar no mercado, elas têm que pagar esse pedágio, justamente por estarem emprestando para empresas um pouco mais arriscadas”, destaca Kubota.

Honorato avalia que há uma tendência que esses retornos das debêntures caiam, embora ainda possam ficar acima da Selic. Para o professor, outros setores devem passar a figurar no ranking de debêntures com maiores rentabilidades, mas é preciso que o investidor tenha cuidado. 

“O varejo, por exemplo, tem passado por uma dificuldade muito grande. Então, comprar debêntures de empresa do setor, tem que olhar quem é a empresa, como está a situação financeira dela, fluxo de caixa, tendência de entrada de recursos”.

Carlos Honorato, professor da FIA Business School.

Perspectivas para remuneração de debêntures 

Galvão avalia que não só considerando a taxa Selic em 13,25% ao ano, mas também os juros futuros, a perspectiva é a de que as taxas de remuneração das debêntures tendem a ser mais baixas do que as encontradas no começo do ano.

“Vai se achar remunerações inferiores, visto que todas as companhias como um todo no mercado de crédito acabaram tendo efeito positivo de marcação a mercado diante da queda acentuada dos juros futuros, principalmente nos últimos 3, 4 meses. As debêntures tendem a ter taxas inferiores em relação às do começo do ano e as pós-fixadas podem até ter um prêmio maior para compensar o fato da Selic estar em patamares mais baixo, mas vai depender de cada crédito”, ressalta o analista da Nord.

Kubota defende que a Selic no patamar de 13,25% ao ano é muito favorável às debêntures, pois são ativos que, na teoria, ainda pagam acima da taxa básica de juros. “Então, sempre faz sentido ter elas em uma carteira de investimentos diversificada de uma pessoa física”, diz.

Oferta de debêntures

Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, alerta que os títulos de renda fixa, em especial as debêntures, possuem algumas características bem particulares do próprio emissor, ou seja, o nível dos spreads depende muito do emissor. Dessa forma, segundo Jorge, não é possível generalizar o mercado de debêntures em função da taxa Selic. 

“Há uma perspectiva muito positiva de aumento de consumo, de que as empresas voltem a captar, e isso vai acabar fomentando mais o mercado de crédito, mas, de maneira geral, não dá para falar genericamente qual vai ser o comportamento do mercado como um todo”, pondera.

“O que se pode fazer por assimilação é que haja uma melhora para todos os segmentos, com destaque para alguns que mais sentem o impacto da Selic de forma direta”, aponta Jorge.

Para Carlos Honorato, com a Selic mais baixa, há possibilidade de aumento na oferta de debêntures. 

“Toda vez que se tem diminuição de taxa de juros, há migração de investidores que saem dos ativos de menos risco e vão para os de mais risco. Então, com a Selic caindo, tende a haver um aumento de recursos nesse mercado de debêntures”.

Carlos Honorato, professor da FIA Business School.

Kubota lembra que, apesar o início do ciclo de cortes, não vai ser no curto prazo que a taxa retornará a patamares considerados baixos. Dessa forma, ele diz ser interessante o investimento em debêntures, em que se captura o risco de crédito dos emissores.

“O prêmio de ter debêntures é correr risco de crédito dessas empresas privadas. Independente da taxa de juros, achamos que é sempre favorável investimento em debêntures”, afirma.

Debêntures: cuidados antes de investir

Kubota orienta, antes de tudo, avaliar o perfil de risco do investidor. Sendo conservador, o especialista da RB Investimentos recomenda a seleção de emissores de alta qualidade de crédito.

Já se o perfil do investidor é mais agressivo, Kubota aponta que o investidor pode começar escolher debêntures um pouco mais arriscadas, de empresas menos conhecidas, mais novas no mercado, pois elas costumam pagar taxas elevadas, justamente por não estarem em momentos favoráveis.

Outra alternativa, segundo Kubota, é o investidor buscar prazos maiores, conseguindo capturar mais retorno em momentos de fechamento de spread de crédito.

“No geral, é primeiro olhar emissor, rating de crédito do emissor, da emissão, do prazo, as garantias da debêntures e as condições da emissão que limitam o que a empresa pode fazer”, sugere.

Homem aponta para tela de computador com gráfico de ativos
Close up of hand investors are pointing to laptop computer that have investment information stock markets and partners taking notes and analyzing performance data.

Jorge destaca o risco corporativo. “A  minha recomendação é investir em empresas mais sólidas. Caso o investidor queira um retorno adicional, que é o que as debêntures promovem, é importante que o investidor busque aconselhamento, procure ler relatório da empresa para entender a natureza do negócio, a saúde financeira da companhia antes de tomar qualquer tipo de decisão de investimento.”

“A melhor recomendação para o mercado de debêntures é essa resiliência a respeito da escolha no emissor”, recomenda o especialista em renda fixa e sócio da Quantzed. 

Galvão também recomenda que o investidor não deve se basear somente na taxa de rentabilidade da debêntures, mas, sim, na avaliação da companhia como um todo. “Se tem uma taxa mais alta, é porque a empresa tende a ser mais arriscada. Então, tem que ter essa avaliação para ver o custo-benefício da operação”, alerta.

Este conteúdo é de cunho jornalístico e informativo e não deve ser considerado como oferta, recomendação ou orientação de compra ou venda de ativos.

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