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Finanças

Debêntures: a festa do mercado de crédito acabou?

Bancos começam a ter dificuldade para vender debêntures: sinal que os juros delas ficaram baixos demais

Sabe aquele momento da festa em que o volume da música baixou, alguns convidados já se foram e a bebida está praticamente acabando? É mais ou menos esse o clima no mercado de crédito.

A oferta de debêntures e outros títulos de dívida corporativa ainda está forte – e deve prosseguir assim pelo menos até maio (a julgar pelas ofertas que já foram anunciadas). Mas a capacidade de o mercado absorver essa onda começa a dar sinais de exaustão.

Um sinal de que as luzes do salão começaram a se acender: os bancos que estruturam as ofertas já estão exercendo a garantia firme – ou seja, o compromisso de comprar títulos que o público não quis. Essas instituições definem, junto com a empresa emissora, qual é o spread – a taxa paga acima do CDI – adequada para a emissão.

Aqui, um adendo importante: a indicação do menor spread é uma das variáveis que a empresa considera para escolher o banco que vai estruturar a operação. Isso significa que o calor da competição dos bancos para conquistar o deal acaba influenciando a dinâmica do mercado. O risco é que essa concorrência leve a algum exagero nos preços, reduzindo os juros. Parece que é o caso agora.

Jaime Rangel, sócio da BRZ Investimentos, explica que, depois da enxurrada de ofertas o primeiro trimestre, esses spreads ficaram “baixos demais”. E os investidores entenderam que era hora de colocar o pé no freio das compras. Sobrou para os bancos a tarefa de exercer a garantia firme.

No primeiro trimestre, as emissões de debêntures somaram R$ 71,9 bilhões, sendo R$ 41,9 bilhões somente no mês de março – o maior volume mensal da história, segundo os dados da Anbima. Os bancos acabaram comprando 40% desse volume – ou seja, R$ 28,76 bilhões. Esses números certamente são ainda maiores em abril, quando o exercício das garantias firmes ficou ainda mais frequente.

Alguns exemplos de operações ocorridas em abril levantados pelo InvestNews:

A Movida emitiu R$ 788 milhões em debêntures. Desse total, R$ 700 milhões, ficaram nas mãos dos bancos que estruturaram a operação.

Na oferta de R$ 1,1 bilhão da CESP, apenas R$ 493 milhões foram comprados por investidores, e o restante foi para a carteira dos bancos.

Teve a oferta da VLI Logística, de R$ 1 bilhão. Os bancos exerceram garantia firme para 309 milhões.

Em Oncoclínicas, da oferta de R$ 800 milhões, R$ 270 milhões foram para os bancos.

E do lote de R$ 1 bilhão de Arteris, os bancos ficaram com R$ 677 milhões.

Quando o banco fica com a debênture, há dois caminhos: o papel pode ir para a carteira de crédito, o que configura uma espécie de linha de financiamento para a companhia emissora; ou vai para a distribuição – essa debênture será oferecida no mercado secundário mais à frente.

Quando há um volume grande de papéis sendo comprados pelos bancos, então, temos que haverá em breve uma oferta maior de títulos no secundário -– a preços mais baixos, o que significa um spread maior.

Essa dinâmica faz parte do ciclo natural do mercado. Não indica nenhum tipo de crise. Mas deve ser observada com atenção pelo investidor que busca o momento certo para alocar seus recursos.

E ainda tem muito dinheiro fluindo para os fundos de crédito privado, considerados ainda uma boa alternativa de aplicação neste cenário de juros altos e bolsa frágil. Mas para os gestores desses fundos, o desafio de entregar um bom retorno com um grau de risco equilibrado na carteira ficou muito maior agora.

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Segundo Rangel, da BRZ, esses spreads baixos estão levando muitos fundos a venderem posições em debêntures incentivadas, que estão pagando hoje taxas muito próximas das NTN-Bs, os títulos públicos atrelados ao IPCA.

“Nesse contexto, operações com diferimento de imposto deverão ter um espaço ainda maior na alocação dos investidores que já não encontram retornos atraentes nas operações incentivadas” diz. Trata-se de casos em que não há exatamente isenção de IR, como nas debêntures incentivadas, mas a possibilidade de jogar para frente o pagamento do imposto. “Nesse sentido, os FIDCs – fundos de investimento em direitos creditórios – parecem uma boa opção”.

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