O dólar fechou em leve alta nesta sexta-feira (3): 0,29%, a R$ 6,183. Na semana, a divisa ficou praticamente estável: perda de 0,2%
O movimento acontece logo após dezembro de 2024 ter registrado a maior saída de dólares para um mês na história: US$ 24,31 bilhões (até dia 27/12, conforme dados preliminares do Banco Central divulgados no dia 2).
Para comparar: o recorde anterior, de dezembro de 2009, foi de US$ 17,61 bi – e o mundo passava pela maior crise econômica do século, aquela que tinha começado nos últimos meses de 2008.
O resultado puxou o fluxo cambial de 2024 para o negativo, em US$ 15,92 bilhões – a terceira maior saída líquida desde o início da série histórica, que o BC contabiliza desde 2009. Trata-se de capital fugindo do país em busca de portos mais seguros.
Influência do iuan
Nesta sexta, início da sessão, o dólar avançou sobre o real, em linha com os ganhos sobre outras moedas emergentes, uma vez que agentes financeiros ponderavam se o recente esforço do governo chinês para impulsionar a economia poderia significar um iuan mais fraco, o que impacta o desempenho do real e de seus pares.
O iuan se aproximou da mínima de 14 meses ante o dólar nesta sexta, com investidores reagindo à notícias de que a China estaria disposta a afrouxar sua política monetária a fim de fornecer força à economia mesmo que isso significasse uma moeda local mais frágil.
Sob essa influência, o dólar atingiu a máxima do dia no Brasil, a R$ 6,2005 (+0,57%), às 9h47.
Mais tarde, no entanto, o próprio banco central chinês afirmou em comunicado que a China reduzirá as taxas de juros em “um momento apropriado”, mas prometeu que estabilizará as expectativas do mercado de câmbio e manterá o iuan razoavelmente estável.
Como um iuan estável e o estímulo econômico na China, maior importador de matérias primas do planeta, são favoráveis para a economia de países emergentes, o real e seus pares reverteram as perdas na sessão e passaram a ganhar contra o dólar.
Em meio a esse movimento, a divisa dos EUA atingiu a mínima da sessão ante o real, a R$ 6,1362 (-0,47%), às 10h29.
Perdas recuperadas
O dólar, no entanto, recuperou as perdas e passou a avançar novamente frente à moeda brasileira no início da tarde, após a divulgação econômica mais importante do dia, que reforçou a percepção de força da economia norte-americana e, consequentemente, de juros elevados no Federal Reserve.
A pesquisa PMI sobre a indústria dos EUA, divulgada pelo Instituto de Gestão de Fornecimento (ISM), mostrou que o setor industrial do país apresentou em dezembro um resultado melhor do que o esperado em pesquisa da Reuters — 49,3 contra projeção de 48,4.
Após o resultado, operadores consolidaram suas apostas de que o Fed deve manter os juros inalterados na reunião deste mês. Custos de empréstimos mais altos nos EUA tendem a favorecer o dólar, pois tornam a moeda norte-americana mais atrativa diante do aumento dos rendimentos dos Treasuries.
O índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — caía 0,27%, a 108,920, depois de atingir a máxima de mais de dois anos na quinta-feira.
Analistas apontaram, entretanto, que a volatilidade da sessão também foi afetada pela baixa liquidez, que pode acentuar o efeito de alguns ajustes no mercado de câmbio.
“O calendário econômico global ficará mais interessante a partir da próxima semana. Até lá, os movimentos no câmbio serão guiados por pequenos ajustes, que podem gerar flutuações maiores devido à liquidez reduzida”, disse Eduardo Moutinho, analista de mercados do Ebury Bank.
Nas próximas semanas, o foco do mercado deve retornar para o principal fator determinante das cotações no fim de 2024: os receios com o cenário fiscal brasileiro.
Foi justamente na esteira das dúvidas dos investidores com o compromisso fiscal do governo que o dólar saltou quase 3% ante o real em dezembro e passou a operar acima do patamar de R$ 6,00 permanentemente.
“Tem um histórico, acho que esse início de ano vai ser complicado… Haverá uma resistência em torno dos R$ 6,35, mas acho que tem tudo para chegar nesse nível, tanto por questões internas quanto externas”, disse Thiago Avallone, especialista em câmbio da Manchester Investimentos.
Com informações da redação InvestNews