Finanças

ETFs: vale a pena montar uma carteira apenas com eles?

Analistas apontam fundos de índice como oportunidade para dar os primeiros passos na renda variável.

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Enquanto o mercado de capitais brasileiro fica mais acessível, os ETFs (fundos de índice), surgem como alternativa para o investidor iniciante que busca a renda variável sem a forte volatilidade e os riscos que ela carrega, avaliam especialistas consultados pelo InvestNews. Por serem apontados como opções para diversificar, estes ativos podem compor 100% de uma carteira de investimentos?

Hoje, há 48 ETFs de renda variável listados na bolsa brasileira, disponíveis para todo tipo de investidor. Veja aqui a lista completa de ETFs na B3. Entre os brasileiros, é possível encontrar desde fundos de renda fixa até aqueles que replicam o Ibovespa ou que reúnem uma cesta de small caps, criptomoedas, ativos ESG e até fundos imobiliários na sua carteira teórica.

Nicolas Mérola, analista CNPI de ações e fundos da Inversa, afirma que para o investidor considerado iniciante começar na renda variável investindo apenas em ETFs, é uma estratégia recomendável, que pode ser vitoriosa a depender da visão e assertividade do investidor nos temas considerados por estes fundos de índice.

Mérola destaca que pelo fato de os ETFs serem instrumentos diversificados por natureza, o risco específico de uma ação ou companhia acaba sendo mitigado dentro daquele ativo. O instrumento, que começou a se popularizar no Brasil recentemente, já é muito comum nos Estados Unidos, onde o número de ETFs ultrapassa os 200.

Segundo o analista, além dos ETFs brasileiros, o investidor ganhou a oportunidade de investir em ETFs estrangeiros diretamente na B3, desde outubro de 2020, por meio de um instrumento chamado BDRs de ETFs. Ele explica que estes nada mais são do que um recibo negociado na bolsa brasileira de um ETF listado no exterior.

Por incrível que pareça, o número de BDRs de ETFs negociados na B3 chega até a superar os próprios ETFs brasileiros. De acordo com Mérola, existem cerca de 65 BDRs de ETFs na bolsa brasileira. “Temos bastante opções de investimento independente do segmento que a pessoa quer se expor ou o mercado. Montando uma carteira apenas de ETFs, o investidor ganha a possibilidade de aplicar em todos esses investimentos, incluindo criptoativos”, diz o analista.

Vantagens dos ETFs

A lógica de um ETF é que se trata de um fundo de investimento negociável em bolsa e que, em sua maioria, possui gestão passiva, replicando o desempenho de alguns índices.

Entre as vantagens de optar por este tipo de ativo está a liquidez. Mérola explica que enquanto em um fundo de gestão ativa o investidor pode levar mais de 30 dias para resgatar deu dinheiro, no ETF é possível aplicar e resgatar com facilidade.

Além disso, o analista da Inversa cita a diversificação, que pode beneficiar o investidor com apenas um ativo. Por exemplo, comprando o ETF BOVA11, que replica o desempenho do índice Ibovespa, o investidor terá acesso a uma cesta de 91 ações de diversos setores com apenas um ativo.

Contudo, isso também traz suas desvantagens, como a exposição a companhias que o investidor não gostaria de ter em portfólio. “Se o investidor não gosta de Petrobras (PETR3; PETR4), ao comprar o BOVA11 estará automaticamente exposto a este ativo. Então ele perde o controle direto sobre os investimentos”, aponta.

Fernando Henrique Magalhães, analista CNPI da Inside Research, destaca também a simplicidade na hora de escolher os ativos. Segundo o analista, ao comprar um ETF o investidor está de fato investindo em ações. A diferença é que, ao invés de analisar cada ação individualmente, ele precisará entender a escolha dos ativos que integram o índice em questão.

“Um investidor mais arrojado pode optar por investir em empresas menores (small caps) enquanto outro pode optar por companhias que pagam dividendos. Ambos os investidores podem investir apenas em ETFs que seguem estas estratégias como o SMAL11 e o segundo pode investir no DIVO11”, exemplifica Magalhães.

Ele também destaca que é possível que os investidores montem carteiras com ETFs diversos, aproveitando o lado positivo de cada índice, sem abrir mão de estratégias diferentes e buscando sempre um maior retorno para o menor risco.

Vale para iniciante?

Embora ETFs sejam ativos de renda variável, sujeitos a oscilações, os especialistas consultados pela reportagem apontam como uma boa opção para dar os primeiros passos neste universo.

Para Mérola, da Inversa, é recomendável que o investidor iniciante comece pelos ETFs. Contudo, existem algumas ressalvas. Mérola destaca que é bom não entrar em ETFs com particularidades muito grandes. Por exemplo, um do segmento de saúde que aplica em ações do subsegmento de biomedicina.

“Para o investidor iniciante, é melhor buscar estratégias mais abrangentes, como focar em países que ele conhece, ETFs de ações dos EUA, do Brasil, da Europa”, defende.

Já Magalhães, da Inside Research, destaca que o investidor iniciante pode se aprofundar na escolha de ETFs mantendo uma carteira apenas deles e mesmo assim obter um bom retorno no longo prazo.

Ele aponta que um investidor que busca investir em BOVA11, SMAL11 e IVVB11, que são alguns dos principais ETFs disponíveis hoje na B3, “pode ter diferentes rentabilidades e diferentes riscos dependendo da alocação, ou seja, da porcentagem, de cada ativo na carteira”.

De acordo com uma simulação feita por Magalhães para diferentes alocações desde 2015, foi possível identificar que:

  • Em uma postura mais conservadora, um investidor que aplicou 45% da sua carteira em BOVA11, 33,5% em SMAL11 e 21,5% em IVVB11 teve um retorno de 19,4% ao ano, com um risco de 23,5%.
  • Já para uma estratégia mais arrojada, um investidor que aplicou 11,5% em BOVA11, 46% em SMAL11 e 36,5% em IVVB11, teve um retorno de 21,7% ao ano com um risco de 24,9%.

Segundo Magalhães, se o investidor tivesse aplicado apenas no BOVA11 neste mesmo período, seu retorno seria de 15,9% ao ano, com um risco de 26,7%. Desta forma, nos cenários em que ele diversificou, seu retorno seria superior com um risco menor.

“Na prática, todos os ETFs podem ser bons investimentos. Só resta ao investidor identificar aqueles mais próximos do seu objetivo e equilibrar esses ETF em um portfólio”, aponta o analista da Inside Research.

Garimpando boas oportunidades

Os analistas foram consultados pelo InvestNews sobre possíveis recomendações para quem busca formar uma carteira de investimentos focada em ETFS.

Mérola apontou oportunidades em três categorias: ETFs brasileiros de renda fixa, ETFs brasileiros de renda variável e os BDRs de ETFs.

ETFs brasileiros de renda fixa

Na renda fixa, o analista da Inversa, apontou como oportunidade o ETF It Now IMA-B5 P2, negociado com o código B5P211. Este ETF investe em títulos públicos atrelados à inflação de curto prazo, com vencimento de até cinco anos, e segue o desempenho de um índice calculado pela Anbima, o IMAB5 P2.

Segundo o analista, com a inflação em alta, este fundo seria uma boa alternativa para o investidor preservar seu poder de compra.

ETFs brasileiros de renda variável

Olhando para os ETFs brasileiros de renda variável, Mérola destaca o It Now Ibovespa, negociado com o código BOVV11. Ele replica o desempenho do Ibovespa, principal índice da B3 formado por blue chips, e possui uma taxa de administração menor que o tradicional BOVA11, que também replica o índice.

Já para quem tem preferência por ações de companhias menores, como é o caso das small caps, o analista recomenda os ETFs SMAC11 ou o SMAL11, com taxa de administração de 0,5% ao ano. Merola também destaca o XMAL11, lançado recentemente pela XP, com liquidez menor contudo com uma taxa de administração inferior de 0,30% ao ano.

Ainda para quem busca se expor a fundos imobiliários, o analista cita o XFIX11 como alternativa. O ETF replica o índice de fundos imobiliários IFIX.

Exposição a ativos no exterior

Olhando para alternativas que replicam ativos no exterior, Magalhães da Inside Research recomenda o IVVB11, ETF que busca replicar o desempenho do índice americano S&P 500. A recomendação da Inside Research é de compra até o preço de R$ 260,45.

O investidor também pode buscar exposição a ativos estrangeiros por meio de BDRs de ETFs. Nesta categoria, Mérola recomenda o BIVB39, um BDR de ETF que investe em ações do S&P 500 com taxa de administração mínima de 0,03%.

Além deste, o investidor também pode se expor a ações europeias, com o BEZU39.

Cuidados para o investidor pessoa física

Apesar de um ETF sofrer menos oscilação que o investimento direto em ações ou outros ativos, alguns cuidados devem ser levados em conta pelos investidores que pretendem focar na estratégia. Entre as questões apontadas pelos analistas, estão:

  • Taxas de administração: por serem fundos de índice, ETFs possuem taxas de administração diferentes que devem ser consideradas no cálculo para quem busca ter uma carteira focada apenas neste tipo de ativo.
  • Liquidez: é importante que o investidor verifique se o ETF no qual vai investir possui uma liquidez adequada para negociação. Muitos que chegaram recentemente ao mercado têm pouca liquidez, o que pode atrapalhar na hora do resgate das cotas ou negociação.
  • Conhecer seu perfil de risco: é importante que o investidor conheça seu perfil de risco para escolher corretamente os ETFs que vão integrar a carteira. Lembrando de não se expor a temas muito específicos, que acabam reduzindo a diversificação e aumentando o risco setorial.
  • Correlação: escolha sempre ETFs com baixa correlação entre si, ou seja, ETFs que tenham alocações diferentes.
  • Conhecimento: Entenda em que tipo de ativo está alocando e garanta estar seguro da sua escolha antes de investir.

Mérola lembra que, embora não exista uma proibição para distribuição de proventos, a maioria dos ETFs brasileiros não pagam dividendos e reinvestem nos fundos boa parte destes lucros pagos pelas companhias que integram a cesta de ativos.

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