*ARTIGO
Com o aumento da adoção de criptomoedas ao redor do mundo, muitos governos estão buscando acompanhar essa tendência desenvolvendo suas próprias versões digitais de suas moedas nacionais, conhecidas como CBDCs (sigla de Central Bank Digital Currency ou moeda digital dos bancos centrais).
Segundo o rastreador Atlantic Council’s Geoeconomic Centre, 119 países (representando mais de 95% do PIB global) já pensaram sobre CDBC. Em maio de 2020, apenas 35 nações estavam considerando usar a tecnologia.
Atualmente, 11 países já implementaram completamente uma moeda digital, incluindo a China, onde o projeto piloto atingiu 260 milhões de pessoas e está previsto para se expandir para a maioria do país em 2023.
Em dezembro de 2022, todas as economias do G7 passaram para o estágio de desenvolvimento de um CBDC. Além disso, 18 dos países do G20 estão em fase avançada de desenvolvimento de CBDC, e 7 deles já estão em fase de implementação inicial, tais como: Coréia do Sul, Japão, Índia e Rússia.
A prova do sucesso dessa digitalização fiduciária é que até mesmo o Brasil está implementando a tecnologia. O governo brasileiro, por exemplo, já anunciou publicamente que pretende lançar o real digital até 2024.
Afinal, o que está levando os países a adotarem as CBDCs?
As CBDCs estão ganhando popularidade devido a 5 fatores cruciais, mas o aumento da eficiência do sistema financeiro fiduciário e a capacidade de ser usada como um meio adicional para gerenciamento de políticas monetárias se destacam entre eles.
- Facilidade de uso: podem ser facilmente transferidas eletronicamente de qualquer localidade, o que as torna mais convenientes do que as notas e moedas tradicionais.
- Redução de custos: a emissão e manutenção de dinheiro virtual é mais barato do que a de notas e moedas, pois dispensa custos gerados na fabricação, armazenamento e distribuição dinheiro em papel.
- Proteção contra crises: as CBDCs podem ser usadas como uma forma de proteger a economia de crises financeiras, permitindo ao banco central controlar a oferta de dinheiro.
- Inclusão financeira: proporciona acesso fácil ao dinheiro para populações que não contam com acesso aos bancos, bem como aquelas que se encontram em zonas vulneráveis.
Por fim, temos a competição com as criptos, que é uma forma de tentar fazer frente às criptomoedas e outros meios digitais de pagamento para manter a soberania monetária do Estado.
Bonito na teoria, mas nem tudo são flores…
De fato, a ideia da implementação de CBDCs segue uma tendência mundial no mercado financeiro, mas é importante considerar que elas não são descentralizadas como as criptomoedas e nem mesmo anônimas como o dinheiro físico.
Ao contrário das criptos, que são controladas pela comunidade, as CBDCs são controladas pelo governo, pois nada mais são do que a versão virtual do dinheiro estatal.
Moeda fiduciária | CBDC | Criptomoeda | |
Emissão centralizada | Sim | Sim | Não |
Limite de emissão | Não | Não | Sim |
Risco de confisco? | Sim | Sim | Não |
Auditável e transparente | Não | Sim | Sim |
Sendo assim, como mostrado na tabela acima, além de todo rastreamento de transações, as CBDCs estão sujeitas tanto à inflação quanto às regulamentações governamentais.
Um olho no peixe, outro no gato
Embora as CBDCs possam ajudar a combater atividades ilícitas, como lavagem de dinheiro, fraudes, evasão fiscal e tráfico de drogas, elas também podem causar preocupações extras.
Devido à tecnologia envolvida, elas permitem aos governos ou aos bancos centrais acesso a todas as informações sobre como cada unidade da moeda é utilizada. Isso pode representar uma ameaça à privacidade e liberdade individual, particularmente se essa capacidade for utilizada para impor sanções ou punições a indivíduos ou grupos considerados “indesejáveis” pelo governo.
Outro impacto negativo potencial das CBDCs é o aumento do controle do dinheiro pelo governo, com a capacidade de inflar artificialmente a economia e causar crises financeiras no futuro.
Então, ao que tudo aponta, os países estão “correndo” para lançarem suas CBDCs pois elas realmente são ótimas — mas não necessariamente para a população em geral.
Mayara é co-autora do livro “Trends – Mkt na Era Digital”, publicado pela editora Gente. Multidisciplinar, apaixonada por tecnologia, inovação, negócios e comportamento humano. |
*As informações, análises e opiniões contidas neste artigo são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews.
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