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Finanças

Gafisa: após alta de mais de 240% na bolsa, momento é de cautela

Movimento é chamado pelo mercado de ‘short squeeze’, quando há um aumento brusco no preço de uma ação na bolsa.

As ações da construtora Gafisa (GFSO3) encerraram a última sexta-feira (6) em queda de 25%, em um movimento de realização dos lucros, após notícias recentes que contribuíram para uma disparada de 240% entre os dias 28 de dezembro e 5 de janeiro.

Ainda assim, as ações da empresa terminaram o dia cotadas a R$ 22,50, um incremento de 178% em relação ao pregão do dia 28 de dezembro, quando fecharam o dia negociadas a R$ 8,09.

Construção de prédio residencial 27/11/2020 REUTERS/Pilar Olivares

Mesmo com esse avanço significativo dos preços, os analistas recomendam cautela na compra do papel neste momento.

“Embarcar nesse foguete a essa altura do campeonato pode ser perigoso. Ele pode descer na mesma velocidade que subiu. Vai chegar um ponto que esse fluxo não vai mais ter toda essa compra para seguir levando o preço da ação para cima”, avalia Angela Tosatto, analista de investimentos da NuInvest.

Bruce Barbosa, analista da Nord, explica que embora o papel da construtora ainda esteja barato – assim como a bolsa de maneira geral – a empresa precisa de juros menores e ambiente econômico mais construtivo para lançar mais empreendimentos e crescer.

“Mas os juros estão altos demais, o que dificulta a venda de empreendimentos pelas incorporadoras (o comprador precisa pegar empréstimo a juros altíssimos). E com o novo governo aumentando os gastos, imaginamos que os juros deverão continuar altíssimos por muitos anos”.

Barbosa citou ainda que a Gafisa tem um “endividamento elevado” de oito vezes o lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação (Ebitda, na sigla em inglês) e com perspectiva de queda do indicador nos próximos trimestres.

O que explica a alta da Gafisa na B3?

O movimento é chamado pelo mercado de “short squeeze”, quando há um aumento brusco no preço de uma ação na bolsa, após uma grande força compradora dos papéis pelos investidores.

Um dos motivos para essa pressão foi o anúncio da venda da participação total da construtora no empreendimento Fasano Itaim, de 80%, além da operação do hotel, em um negócio de R$ 330 milhões.

De acordo com Barbosa, da Nord, a companhia vendeu o imóvel por mais de 150% do valor de seu valor de mercado – que no dia 28 era de R$ 215 milhões, despertando o interesse dos investidores.

Briga judicial

Mas não foi só a venda do empreendimento que levou ao disparo. A companhia buscava um aumento de capital social na bolsa.

Entretanto, a Esh Capital, que detém 15% do negócio, convocou uma assembleia de acionistas (AGE) para impedir essa nova emissão de papéis e destituir os conselheiros.

Angela Tosatto, da NuInvest, afirma que os R$ 150 milhões seriam destinados para a compra de terrenos, mas a Esh questiona a verdadeira necessidade do investimento ao alegar práticas ilícitas.

“Algumas fontes do mercado estão dizendo que esses terrenos podem estar associados à pessoas diretamente ligadas à incorporadora. Além disso, a Esh tem aumentado sua participação na companhia como forma de destituir forçadamente a administração, e isso tem chamado fluxo de compra para o papel”.

Na prática, a própria assembleia da Esh Capital contribuiu para uma pressão compradora. Isso porque, quando o investidor opta pelo short, ou seja, aposta na queda do preço do ativo, ele precisa alugar a ação de outro investidor.

E, para votar na assembleia convocada pela Esh, os acionistas precisariam de suas ações em mãos, o que implicaria acabar com seus contratos de aluguel no mercado para ter os papéis novamente em carteira.

“Com o anúncio da venda do Fasano mais o “sumiço” do aluguel, estava montado o short squeeze do ano”, disse Barbosa. da Nord.

Decisão da justiça

A Gafisa chegou a homologar um aumento de capital, menor do que o proposto anteriormente – em R$ 78 milhões – a R$ 5,89 por ação.

Na véspera, porém, a Justiça de São Paulo decidiu pela suspensão da emissão após o Esh Capital entrar com uma liminar. “O Esh Capital não gostou, porque isso dilui bastante sua participação no negócio”, afirmou Rodrigo Cohen, analista CNPI e co-fundador da Escola de Investimentos, empresa de educação financeira. No entanto, na tarde de domingo (8), a Gafisa conseguiu reverter a liminar para assim concluir a operação de aumento de capital que levantou R$ 78 milhões. O movimento permite a emissão de cerca de 13 milhões de novas ações.

Para Barbosa, da Nord, como o mercado está em crise, vender mais ações da companhia neste momento vai depreciar ainda mais os preços das ações.

Segundo relatório da Nord divulgado no último dia 3, a Gafisa havia negociado nos últimos três dias mais de 45 milhões de ações no mercado – 15 milhões por dia, quando seu volume normal era de apenas 2,4 milhões de ações.

*Matéria atualizada em 9 de janeiro após a reversão da liminar que mantém aumento de capital da Gafisa.

As plataformas da NuInvest foram integradas ao aplicativo do Nubank em maio de 2024. Agora, a experiência de investimentos é centralizada no app do Nubank.

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